Como escolher uma boa alfaiataria?
Ana Vaz, consultora de moda e estilo, dá dicas para acertar na hora de comprar peças mais tradicionais
A alfaiataria está em todo lugar, calças, blazers, saias, bermudas e coletes. Como nem todo mundo pode comprar peças sob medida, que praticamente sintetiza esse conceito, o prêt-à-porter trouxe uma forma de abrir o leque para esse estilo de corte. As fast fashion e lojas de departamento oferecem opções mais acessíveis, mas é preciso levar em consideração certas coisas na hora de escolher peças alfaiataria, especialmente quando estamos falando das industriais.
Os itens que conhecemos atualmente vem de um contexto pós-revolução industrial, época em que as roupas começaram a ser produzidas em uma escala maior. Foi justamente nesse período que começou a surgir a moda pronta para vestir. No cenário atual, temos uma produção têxtil muitíssimo maior e rápida, o que nos faz correr atrás de novas tendências em um piscar de olhos. Quando falamos de alfaiataria, geralmente são peças que possuem um requinte maior, para entender como adquirir uma boa e durável entrevistamos Ana Vaz, educadora, consultora, autora e palestrante das áreas de imagem pessoal e profissional, estilo, moda e etiqueta. A seguir, confira dicas para escolher ótimas roupas.
Quais tecidos devo focar na hora de comprar uma peça de alfaiataria?
Já passamos da época em que as roupas de alfaiataria eram confeccionadas com tecidos estruturados e sofisticados. O mercado têxtil e a velocidade em que as tendências mudam impactaram a moda. O resultado disso é a pluralidade de opções disponíveis. Se você quer itens mais duráveis, a consultora aponta que isso precisa estar de acordo com suas necessidades e estilo de vida.
“Em uma alfaiataria feita de lã, que é um ingrediente do tecido, o fio pode ser mais fio ou espesso e você pode ter mais ou menos fios. Quanto mais fios tem em um tecido, em geral, ele é de qualidade maior. Se você quer um material mais nobre, semelhante ao da alfaiataria tradicional, você pode procurar peças que tenham na etiqueta de composição a lã, o 100% lã, por exemplo. Ela tem um bom conforto técnico, tanto para verão, quanto inverno. A alfaiataria masculina, mesmo produzida em maior escala, ainda hoje usa esse tipo de tecido”, explica Ana Vaz.
Outra opção é o poliéster. Diferente da lã, ele não possui um conforto térmico tão bom para o dias quentes, no entanto, é ótimo para o inverno, já que esquenta bastante. Há algumas misturas, como poliéster com poliamida ou lã.
“É comum vermos esse mix de tecidos hoje em dia, isso vai fazer com que a fibra tenha um toque melhor, desbote menos e não encolha. Temos uma outra vida hoje em dia. Se você pega uma peça 100% lã, ela terá que ser lavada à seco, não pode ir na secadora, porque vai feltrar e tem uma série de outras coisas. Por isso é importante pensar na realidade do indivíduo que vai comprar.”
Para os dias frios, invista em lã e o poliéster, que garantem o calor para o corpo. “Já no verão, podemos pensar em alfaiataria feitas com fibras naturais, como o linho e algodão. Misturas naturais e artificiais, como linho com viscose, podem compor uma alfaiataria também”, sugere Ana Vaz. Essas duas fibras juntas trazem um caimento menos estruturado, que pode ser uma bom ou ruim, dependendo do objetivo de quem vai comprar tal peça.
“Em relação a composição dos tecidos, vamos supor que você compre em uma loja de departamento ou uma fast fashion um blazer de linho com viscose e o forro é de poliéster. Então não é uma boa compra, porque? Você tem dois tecidos que são ótimos para o verão e um poliéster que vai te esquentar e quebrar essa qualidade. Deveria ser um forro de acetato. O forro, geralmente, garante uma qualidade melhor, mas ele precisa estar em um material coerente. Os de acetato são excelentes, mesmo se for um blazer de lã com um forro de acetato, ele vai se adequar a lã, não vai esquentar”, completa a consultora.
Como sei que a peça é de qualidade?
Citamos o poliéster como um bom exemplo de tecido para adquirir em um corte de alfaiataria, mas existe certo preconceito com essa fibra. Ana conta que a ideia de qualidade está atrelada ao que vemos e sentimos. Muitas vezes, é nítido ao toque essa característica.
“O poliéster é matéria-prima de muitos tecidos diferentes, pode ser um crepe, que tem uma textura um pouco mais rugosa e pode ter um caimento lindo para um blazer, por exemplo. Mas é preciso estar atento se isso é agradável ou desagradável para você. Outra coisa para prestar atenção, ainda faltando de poliéster, é analisar se as costuras estão estufadas, franzidas ou não assentam bem“, sugere a especialista.
Na hora de comprar um blazer ou uma calça, preste atenção se tudo está bem feito, se os zíperes funcionam e deslizam bem. Os botões também são outro ponto importante, analise o material e se estão bem tingidos. Lembre-se que sempre podemos trocá-los, então pode valer a pena comprar uma peça que está ótima, exceto pelo botão. Outra parte relevante é o forro, note se está na medida certa, nem sobrando ou repuxando. Detalhes são importantes.
E quanto a modelagem?
A moda está sempre se renovando, principalmente a alfaiataria industrial. No momento, as modelagens oversized estão em alta, nos blazers, calças e bermudas. “Esse tipo de proposta e vai ter uma durabilidade específica. A gente tem a impressão de que a alfaiataria é atemporal, mas não é“, pontua Ana Vaz. Quando nos afastamos da época, é possível notar de qual período é tal peças, como um blazer estruturado e com cintura bem marcada, típico dos anos 1980.
“As modelagens de alfaiataria podem durar uns 10 anos ou até mais. Se a gente olha os primeiros anos do nosso século, até 2010/2012, a alfaiataria é muito mais seca, mais justa ao corpo e, ao longo dos anos, foi ficando mais solta. Mas é um movimento longo de tempo. Você pode ter uma alfaiataria mais solta e ir atualizando ao longo dos anos. Em breve, vamos notar que as peças vão voltar a ser mais rente a silhueta“, continua a consultora. Ana Vaz diz que é importante evitar itens apertados ou que não vestem de acordo com a proposta.
Vale a pena investir em peças coloridas?
Não se amarre a sobriedade, as cores continuam brilhando – mesmo em peças mais tradicionais de alfaiataria. “Essa pode ser uma forma de aproximar a alfaiataria de quem tem um estilo mais despojado, menos tradicional, e não precisa de peças sóbrias e formais. Apelar para cor é super interessante, vale a pena sim. Tente entender o que combina com seu estilo e guarda-roupa”.