“A moda mantém os negros na invisibilidade”,diz Djamila Ribeiro
Ana Paula Xongani, Joice Berth e Djamila falam sobre apropriação cultural em debate promovido pela Natura no SPFW.
O terceiro dia do São Paulo Fashion Week contou com uma mesa de debate poderosíssima que discutiu a apropriação cultural no âmbito da moda e da beleza.
Ana Paula Xongani é sócia-fundadora e estilista da Xongani, marca voltada para moda afro-brasileira, e além de ser youtuber, ela fala, entre outros temas, sobre beleza negra, feminismo negro e moda e estilo afro-brasileiro. Na mesa de debate, Ana fez uma analogia de sua visão sobre como a sociedade trata os negros: “Os restaurantes de comida africana, por exemplo, não tem tanta propaganda e as pessoas também não possuem a vontade e a curiosidade de consumir comida dessa cultura”. Ou seja, sem interesse.
Há algum tempo surgiu a polêmica sobre apropriação cultural negra por meninas brancas através do uso de turbantes. Segundo as participantes da mesa, muitas mulheres negras são contra o uso de turbantes por mulheres brancas porque acham que a cultura negra só é referência quando vem a calhar, não existindo um reconhecimento natural sobre ela. “Os imigrantes africanos são hostilizados, enquanto os de outras partes do mundo são bem vistos. O mais importante para mim é que os brancos entendam o privilégio que eles têm e que abram mão deles para que não haja tamanha diferença entre eles e a população negra. É necessário aprender como usar elementos de outras culturas de forma respeitosa”, disse Ana Paula.
Djamila Ribeiro, um dos principais rostos do feminismo negro, também deu seu parecer sobre o assunto: “Acho que existe apropriação e alguns grupos acabam não sendo reconhecidos. A indústria da moda ainda mantém as pessoas negras na invisibilidade e legitima a exclusão da população negra em vários espaços, portanto precisa começar a refletir sobre isso.”
Completando o pensamento de Ana Paula, Joice Berth, arquiteta e urbanista e feminista, contou um pouco do que viu na passeata #8M, do Dia Internacional da Mulher. “Eu conversei com mulheres que são da periferia e uma delas me disse ‘morre um jovem negro de dia e outro a noite’, aquilo me chocou, apesar de já saber. Vocês podem ver como é difícil ver negros nos bancos das universidades, encontrar autores negros, até a criação de uma Iemanjá branca é um empecilho na identificação da criança negra com sua própria cultura”.