A história e os rostos por trás da marca Lilly Sarti
Em dez anos no mundo fashion, a marca se tornou uma das melhores traduções do boho chique e é conhecida por levar doses de misticismo a suas criações.
Trabalhar com o que se ama é uma das principais buscas dos millennials, como são chamados aqueles que nasceram entre os anos 1980 e 1990 e viveram o início da fase adulta nos anos 2000. As irmãs Lilly e Renata Sarti, que comandam a marca que une o nome das duas e fazem parte dessa geração, se reconhecem facilmente nessa ideia. Ambas sempre foram apaixonadas por moda, mas se formaram em relações internacionais e administração de empresas, respectivamente, por uma pressão da família. Lilly, porém, mesmo já cursando a faculdade, não quis perder sua conexão com a moda. “Tenho um lado muito artístico. A maneira que encontrei para não deixar isso de lado foi criando minhas próprias roupas”, conta.
Os primeiros desenhos, feitos em 2005, quando ela tinha 19 anos, se transformaram em uma coleção de 15 vestidos longos e estampados, bem boho e com um perfume setentinha, que vendeu em apenas uma semana para amigas como a it-girl Helena Bordon e a decoradora Manu Elias, suas primeiras clientes. Com o sucesso, Renata, à época com 21 anos e um olhar já voltado para o business, enxergou a possibilidade de transformar aquilo em um negócio, juntou-se à irmã e no ano seguinte a marca não só existia oficialmente como também já estava à venda na Daslu. A Lilly Sarti foi crescendo pouco a pouco, passou a desfilar no São Paulo Fashion Week em 2014 e no mesmo ano assinou uma coleção para a C&A, e hoje, uma década depois de seu lançamento, conta com duas lojas em São Paulo, 60 pontos de venda no Brasil e clientes famosas – pense em nomes como a atriz Giovanna Lancelotti e a apresentadora Didi Wagner.
Além da ligação com o estilo boho, que se manteve ao longo dos anos, e a predileção por uma cartela de cores de tons terrosos e por peças fluidas, também faz parte das apostas da etiqueta certo misticismo, que vem da busca da dupla por valores como essência e empoderamento, mais uma característica típica dos millenials. “Acreditamos que a força de um negócio não vem do dinheiro, mas da consciência. Se temos conexão com nós mesmas e com o que está ao redor, produzimos algo genuíno”, diz Lilly. “Evito saber o que outras marcas estão fazendo ou quais são as tendências da vez para não ter influências externas. Foco na minha ligação com o universo e observo o que ele tem a me dizer. O que surge disso se torna referência para as coleções”, completa. Temas como astrologia e símbolos da cultura egípcia já serviram como inspirações.
Esse olhar atento ao interior não faz com que elas se desconectem das necessidades práticas de quem curte a label – em sua maior parte mulheres que vivem o dia a dia das grandes cidades. “Nosso senso de compartilhamento nos leva a propor roupas que facilitem a vida”, afirma Lilly. Assim, a linha de moda festa, geralmente feita de vestidos ou macacões, ganhou há pouco separates – tops ou saias de lurex que podem ser combinados entre si ou a outras peças, dando origem a diferentes looks.
Foi dosando praticidade e espiritualidade que a marca construiu seu DNA, e ambas as ideias são bastante visíveis em todas as coleções. Como boas millenniais, elas sabem, afinal, que manter a unidade é tudo para quem busca ser pleno.
Itens para apostar:
1. Bolsas: “São a cereja do bolo das nossas coleções e mudam totalmente a cara do look”, diz Lilly.
2. Separates: “A moda festa também precisa ser versátil. Peças individuais tornam o investimento ainda mais válido.”
3. Sapatos: “A roupa pode ser incrível, mas, se você estiver com os sapatos errados, a produção toda é derrubada.”
Esoterismos sempre presente
Não importa se nas roupas ou no cenário das apresentações das coleções, temas de maior conexão espiritual sempre estão presentes. “O que somos é o que sobressai na moda e estamos em constante evolução”, diz Lilly. Veja alguns que permearam as criações dos últimos anos.
1. Astrologia: A coleção de estreia no SPFW teve o ano do cavalo, do horóscopo chinês, como tema. O mood caubói, representado por ferraduras, estrelas e franjas em tecidos e acessórios, misturou-se ao apelo sexy da fluidez e da transparência dos vestidos. Resultado? Uma mulher que sabe domar.
2. Psicodelia: A temporada foi marcada pelo glamour dos anos 1960 e pela psicodelia dos anos 1970, revelados em cartela de cores como tons de ameixa, azul, camelo e terracota. Essa psicodelia é mais uma manifestação do flerte do processo criativo de Lilly com temas mais abstratos.
3. Simbologia: Símbolos recortados a laser no couro e que remetem à cultura do Egito antigo, como o olho de Hórus e a cruz de Ansata, que significam proteção e eternidade, aparecem nas roupas e nos acessórios. Moedas aplicadas em barras de mangas e saias dão ainda um toque cigano.
4. Magia: No desfile da coleção resort 2017, o cenário contava com representações de mandalas – círculos mágicos que, segundo a teoria junguiana, simbolizam a luta pela “unidade total do eu”. Peças fluidas e claras reforçaram o clima espiritual. “Queremos levar luz a todos por meio da moda”, afirma Lilly.
Traço místico
Inspirada no trabalho do xilógrafo pernambucano Gilvan Samico, a coleção verão 2017 levou para a passarela os principais objetos da obra dele, que se dedica a representar personagens bíblicos, fantásticos e míticos da cultura popular nordestina. Nas roupas, esses e outros pontos, como pedras encontradas na região, são reconhecidos em grafismos, estampas e acessórios. Essa é a coleção da dupla com uma maior dose de misticismo.
Quem usa?
Do pretinho básico a um conjuntinho, a marca tem opções de peças que recheiam o guarda–roupa de nomes como as atrizes Tania Khalill, Thaila Ayala e Julia Faria, entre outros.