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O que explica a ascensão meteórica de “Mulheres que Correm com os Lobos”

Livro que traz o arquétipo da Mulher Selvagem, lançado em 1995, vai fechar 2021 como o segundo mais vendido

Por Camila Pati
10 dez 2021, 12h49

Livro de cabeceira de terapeutas e dos grupos que trabalham com temas ligados ao universo feminino há 26 anos, Mulheres que Correm com os Lobos, da psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés, teve um crescimento impressionante nas vendas neste ano.

A poucas semanas de 2022, o livro chegou à marca dos 65,7 mil exemplares comercializados e deve fechar o ano como o segundo mais vendido, segundo ranking da PublishNews.

O livro passeia por mitos, lendas do folclore e contos de fadas para identificar a essência feminina, o arquétipo da Mulher Selvagem. Histórias como Barba Azul, Patinho Feio e Sapatinho Vermelho, interpretadas pela autora, mostram como a natureza feminina, sua psique mais profunda e instintiva, tem sido tolhida, domesticada, pela sociedade atual.

De guardiãs e participantes de círculos de sagrado feminino (que se popularizaram bastante nos últimos tempos) a entusiastas da quarta onda do feminismo, o interesse em entender o arquétipo da Mulher Selvagem tem surgido em mulheres dos mais diferentes perfis.

Neste sábado,11, às 13h, a Mulher Selvagem será inspiração para mesa de discussão sobre Construção do feminino, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Mediadas pela cineasta, autora e curadora da Bienal Letícia Pires, Jaqueline Vargas, roteirista da série Sessão de Terapia, Luh Mazza, atriz, autora e diretora roteirista na HBO Max, Bruna Maia, jornalista, cartunista e roteirista autora do Parece que Piorou Cartoon e Ana Paula Araújo, jornalista e apresentadora vão falar sobre suas trajetórias e como é ser fiel a si mesma num mundo machista.

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Não se enganem, o termo selvagem, cunhado por Clarissa,  nada tem a ver com a perda de controle. Está relacionado à libertação do domínio patriarcal e à possibilidade de viver a sua própria natureza.

“Eu sempre associei essa ideia de mulher selvagem como uma coisa que apagava esse nosso lado racional, porque a racionalidade era mais ligada ao masculino. Mas ao ler alguns capítulos, uma das primeiras coisas que o livro diz é como ser “selvagem” não deve excluir a racionalidade”, fala Bruna, assumindo ter “preguiça” dessa ideia de sagrado feminino. “Justamente por colocar a mulher nesse papel em contato com a natureza, de selvagem, da loba”, diz. Ela conta que sempre se identificou mais com figuras arquetípicas femininas associadas à técnica e à racionalidade. “As mulheres inventaram a agricultura, contribuíram muito para a ciência e foram invisibilizadas o tempo todo”, diz.

O agravamento recente dessa opressão sofrida pelas mulheres pode ter tirado o livro do “limbo documental” em que ele estava até anos atrás, segundo Luh Mazza. Ela vê o fenômeno editorial de Mulheres que Correm com os Lobos como uma resposta à ascensão da política reacionária a nível mundial. “O livro volta a ter uma urgência prática, uma certa funcionalidade, é uma espécie de manual para iniciático para uma formação feminista sobre a psiqué”, diz.

O Patinho Feio, os Sapatinhos Vermelhos, o Barba Azul, a Pele de Foca são algumas das histórias revisitadas por Clarissa. “Essas narrativas são poderosas, principalmente quando são utilizadas para desviar o sujeito de si e colocá-lo a serviço de outra pessoa, que basicamente foi o que o patriarcado fez durante muito tempo, essa domesticação”, diz Jaqueline.

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A roteirista da série “Sessão de Terapia” acredita que o livro, por recontar essas histórias tão conhecidas nossas e de nossas mães e avós, o livro chame tanto a leitura. “Como escritora me vejo muito responsável nesse contar, é preciso aprender com o passado, com as fábulas, os mitos, os arquétipos, mas também é preciso contar novas histórias”, diz.

Afinal, o que é ser uma mulher selvagem?

“Minha selvageria foi me escolher”, diz Jaqueline. Ter abandonado um casamento infeliz quando ninguém esperava que ela o fizesse foi uma das viradas de chave que a aproximou da mulher selvagem. “Penso que fazer o que se acredita faz parte de ser o que se é”, diz.

Luh Mazza conta que foi selvagem ao romper com o pacto social cisngênero e insurgir contra a tentativa de domesticação da sua mulher. “Sem meu lado selvagem feminino que é altivo como de uma leoa e feroz como de uma onça seria impossível lograr essa jornada que é inquieta e não aceita ser limitada, definida, nem por ser preta, nem por ser trans, nem por ser mulher”, diz.

Apesar de não acreditar que mulheres são mais instintivas do que o homem, Bruna diz que tem aceitado melhor esse lado, nos últimos anos de feminismo. “Me conectei melhor com essa coisa do que meu corpo queria. Para mim, ser uma mulher selvagem tem a ver com isso: admitir os meus desejos e ousar desejá-los”, conta.

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