Xuxa Lopes tenta superar síndrome do pânico após deixar Sangue Bom
A atriz, que sofre do mal há três anos, deixou a novela na reta final da trama
O yorkshire Zeca é a principal companhia de Xuxa
Foto: Rafael Campos
Xuxa Lopes, 59 anos, pediu dispensa de Sangue Bom, em que interpretava a milionária Bluma, e não faz mais parte do elenco da novela das 7 da Globo. O motivo é a síndrome do pânico ela sofre do mal há três anos , que a levou a mudar toda a sua rotina. A atriz iniciou o tratamento com sessões de psicanálise e passou a tomar antidepressivos, sem abandonar a luta para vencer o medo que a tirou do ar. “Estava começando a atrapalhar nas gravações. Na hora de ir para o set com o elenco, subia uma coisa pela garganta, parecia que meu coração ia sair pela boca, eu suava, aí me dava um branco e não sabia o que tinha de fazer ali”, revela. Na quinta-feira (3), Xuxa recebeu CONTIGO! e abriu seu coração durante duas horas de conversa em seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro. Em crise e com vontade de ajudar pessoas que sofrem do mesmo mal, ela revela detalhes de seu esforço em um desabafo emocionante.
Como você identificou que estava sofrendo de síndrome do pânico?
Venho dando sinais há uns três anos. Fui procurar ajuda porque comecei a ficar angustiada. A primeira vez que percebi, estava voltando de Porto Alegre e achei que um raio tivesse atravessado a asa do avião. Foi o suficiente! Eu fiquei louca na hora. Cheguei e fui ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Outra vez me indicaram um dentista, que era no 25o andar. Cheguei à porta do prédio e voltei. Falei: “Não vou lá por nada”. Foram algumas coisinhas que me deram indicações de uma fragilidade maior. De vez em quando eu ficava assustada de estar em um elevador cheio de gente, ficava agoniada. Comecei a inventar que adorava subir escadas. Aí, quando via, subia dez andares.
O que você acredita que desencadeou a doença?
Eu via esses sinais na minha vida, mas, em paralelo, algumas coisas aconteciam no meu lado profissional. É que eu mesma tinha ressalva a meu trabalho de atriz. Minha mãe (Maria Helena Lopes, morta em 2006) não me dava força, não me achava boa atriz. Até que, há dois anos, comecei a gostar do meu trabalho, eu me senti completamente livre. Sei que parece tardio, mas custei para ter essa segurança de atriz e, hoje, tenho uma paz imensa com isso. Eu não estou linkando a morte da minha mãe a essa liberdade, porque, se você me perguntar, eu não estou mal. Mas, na televisão, estava meio estranha. Aí eu me questiono: será que passei a ter medo de uma liberdade imensa e é ela que me apavora no trabalho de ator? Porque agora a questão é só no trabalho. No dia a dia, minha vida é normal.
Você acha que a figura de sua mãe influenciou as crises?
Influenciou, sim. Ela nunca fez por mal, mas eu sofria uma pressão enorme. Ela não achava legal eu ser atriz. Queria que eu me casasse com um cara bacana e tivesse filhos.Com sua morte… Foi muito libertador e tirou o peso. Depois, foi como se eu estivesse com um excesso de confiança que nunca tive. Achava que minha mãe estava com o olhão sempre em cima. Mas ela era louca por mim, a filha única. Acho que são relações que ficam detonadas, muito neuróticas e isso vem à tona. Minha mãe já não estava aqui, foi o momento de libertação e parece que não posso viver essa libertação.
A atriz conta que sua maior dificuldade é nos sets: Parecia que meu coração ia sair pela boca”
Foto: Rafael Campos
E quem te apoiava?
Meus maridos faziam o contraponto. Primeiro o Claudio Marzo, com quem fiquei quatro anos e tive meu filho, Bento. Depois com Hector Babenco, durante os 13 anos de casamento. Hoje também tenho apoio do meu namorado, o diretor Marcos Loureiro, com quem estou há seis anos.
Em que momento decidiu pedir dispensa de Sangue Bom?
Quando Maria Adelaide Amaral (autora da novela) me chamou, no primeiro dia de gravação, vi que fiquei muito nervosa. Era uma época em que estava mudando de apartamento e sei que um dia tomei Rivotril para ir para a gravação. Tomei e falei muita coisa esquisita, me senti fora do lugar. Até que um assistente de direção conversou comigo e depois me mandaram ir para casa descansar. Aí, procurei um psiquiatra, eu estava estranha… Quando fui gravar outras cenas, também fiquei nervosa e resolveram me dar um tempo para ficar em casa e voltar a ter controle sobre mim. Eu não tinha depressão de ficar arriada na cama, mas comecei a ter uma coisa de pânico que se localizou no trabalho. Eu fiquei em casa e as pessoas da Globo foram incríveis comigo.
O que acontecia no set?
Eu chegava, me arrumava e, na hora de gravar com o elenco, começava a subir uma coisa pela garganta, parecia que meu coração ia sair pela boca e eu começava a suar. Aí me dava um branco e eu não sabia o que tinha de fazer ali. Não estava doida, mas tudo sumia. E isso começou a se repetir. Claro, fiquei péssima, até que na última vez em que fui gravar (há três semanas), tive isso mais forte. Eu estava atrapalhando e a novela já está na reta final.
Como você tem reagido quando chega em casa? Tem chorado?
É um choro de raiva, de não compreender o que eu tenho exatamente. Um choro de quem não sabe como tirar isso da área, como fosse um lixo velho, que não faz sentido.
O que seu psicanalista tem falado sobre o tratamento?
Faço análise três vezes por semana com um psicanalista e ainda vejo meu psiquiatra pelo menos uma vez por semana. Ele disse que não há remédio. Agora é análise, soltar alguma coisa lá de dentro, que não estou sabendo o que é e que eu preciso desmanchar.
ESTA ENTREVISTA FAZ PARTE DA EDIÇÃO 1986 DA REVISTA CONTIGO!, NAS BANCAS A PARTIR DE 09/10/2013.