Em evento beneficente da Stuart House, organização que apoia crianças vitimas de abuso, a atriz Viola Davis, estrela de How To Get Away With Murder, se emocionou, nesta terça-feira (18), ao falar pela primeira vez sobre um abuso sexual sofrido pela sua irmã. Ela contou que sua irmã era muito criativa, inteligente e cuidadosa quando tudo aconteceu. Mas, que devido ao trauma, ela cresceu e se tornou uma mulher fria e viciada em drogas. Leia o depoimento completo:
Eu tenho uma irmã que, quando tinha 8 anos, calçou seus patins e foi brincar com as amigas, à uma da tarde, e entrou numa loja. Quando entrou, foi abusada por um dos funcionários. Ela chegou em casa e contou para nossa mãe, que foi até a loja e começou a gritar com os donos. Eles disseram: ‘deixa o cara em paz, ele faz isso com todas as garotas que vêm aqui’. Então minha mãe acenou para um policial. Ele encontrou o homem e o levou em seu carro. Eu vi minha irmã chorando. Minha mãe estava chorando também. E foi isso!
A partir daí, uma menina que era muito inteligente, linda e criativa cresceu frágil, irritada e se tornou viciada em drogas aos 20 anos. Ela teve seis filhos, todos eles levados pelo serviço social. Tornou-se uma prostituta usuária de drogas. Sabe, memórias exigem atenção, porque memórias têm dentes. Na minha visão, quando rezo pela minha irmã… Rezo por tudo. Rezo para ela encontrar paz, amor e felicidade… Que ela saia das drogas. E aí abro os olhos e, claro, ela ainda está nas ruas.
Mas, sabe, me ocorreu que a resposta de Deus às minhas orações foi à Stuart House para pedir ajuda naquela época. Uma resposta maior que aquela com que eu sonhava. Se eu pudesse ter uma fantasia, seria dar a ela permissão para falar num ambiente em que as pessoas a ouvissem. Num ambiente em que ela pudesse falar e extravasar sua raiva. Que ela tivesse uma Stuart House para jogar a ela uma corda. Sua vida teria sido tão diferente
Há muitas histórias que vão sair daqui. Haverá vários testemunhos de jovens vencedores que vão falar sobre suas histórias de abuso — atrevendo-se a desafiar e denunciar seus agressores. E acho que, se há alguma coisa que eu vá falar hoje, eu vou falar sobre minhas irmãs do mundo. Aquelas pessoas que não aguentaram, que não tiveram uma Stuart House
Esse é um dia abençoado por Deus, e vou ficar feliz. Porque eu gostaria de dizer para a minha irmã que ela não é suja e que não deve sentir vergonha por algo por que simplesmente ela não é responsável. Eu gostaria de poder salvar sua vida”
#TemQueFalar
Nas últimas semanas, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres.
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