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Tatá Werneck fala sobre padrões de beleza, machismo e humor

Padrões de beleza e disputa de espaço no humor com os homens: nada segura a atriz Tatá Werneck, que hoje tem até um talk show pra chamar de seu

Por Da Redação
Atualizado em 30 set 2017, 09h02 - Publicado em 30 set 2017, 09h02
 (CLAUDIA/Divulgação)
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Ela sempre foi especialista em questionar a ordem estabelecida e conquistar territórios proibidos. Nem brincadeirinhas de mau gosto nem preconceito de verdade. Nada parece parar a atriz, comediante e apresentadora Tatá Werneck, 34 anos.

Quando cursava artes cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), não se intimidava em dar vazão a seu talento e participar das batalhas de improviso (disputas entre humoristas), eventos marcados pela supremacia masculina. “Não é um ambiente muito convidativo para as mulheres”, diz.

“Os homens queriam me tirar daquele meio. Mas eu enfrentei. Não cheguei a me masculinizar para ser respeitada, mas vi que não poderia parecer mulher”, lembra Tatá, que na época preferiu abolir as saias e adotar calças jeans. Hoje, alguns anos depois, ela conseguiu protagonismo em outra área dominada por homens, o universo dos talk shows humorísticos.

Seu Lady Night estreou em abril e logo virou o maior sucesso do canal pago Multishow. A partir do mês que vem, já ganha uma segunda temporada. “É o que mais gosto de fazer atualmente, algo que me deixa muito à vontade.” Na vida pessoal, a atriz também trata de correr atrás de seus desejos e sonhos. Desde fevereiro, namora o ator, músico e escritor Rafael Vitti (destaque na novela da Globo Rock Story), que completa 22 anos em novembro. O fato de ele ser 12 anos mais novo tem rendido episódios de patrulha explícita por parte de alguns fãs.

Veja também: Tatá Werneck fala sobre namoro com Rafa Vitti, 12 anos mais novo

Popularíssima nas redes sociais – somente no Instagram ela tem 17 milhões de seguidores –, Tatá, em geral, não liga para provocações. Em junho, porém, não aguentou e rebateu uma seguidora que comentou uma foto do casal dizendo, basicamente, que ele era “um moleque” e que, com “tanto homem” por aí, ela estaria “pegando para criar” sem necessidade.

A atriz respondeu no ato: “Tanto homem babaca. Tanto homem agressivo. Tanto homem mau-caráter… que não respeita as mulheres…” E concluiu: “Fique com eles. Eu fico com o meu”. Não lhe faltam motivos, diz Tatá, para se orgulhar do namorado – por isso, no final das contas, a idade é só um detalhe. “Rafa tem outra cabeça, outro pensamento. Mostra uma visão tão esclarecida de tudo”, elogia. Conta que, outro dia, decidiu fazer um teste e vestiu uma roupa que deixava seus seios praticamente de fora.

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Então, perguntou a ele se poderia ir assim a um determinado evento. “Rafa disse na lata: ‘Cabe a você decidir’. Isso é genuíno nele, não está querendo forçar uma linha. É maravilhoso!”, derrete-se. E conclui em seguida: “Tem 21, mas, se tivesse 70 anos, eu também teria me apaixonado”.

Conquista suada

A atriz demorou a reconhecer que estava caidinha por Vitti e o fez batalhar até que ela virasse namorada. Tatá diz que o ator ficou pelo menos dois meses repetindo “Vou te conquistar”. “Eu respondia que não tinha como, pois nunca tive atração por mais novos. Sempre gostei dos homens da minha idade. Mas, quando vi, já estava apaixonada”, assume.

A lembrança do início do romance faz disparar outra série de elogios: “Ele é de uma gentileza, de uma educação, de uma luz, de um carinho, de uma inteligência, que todo mundo se apaixona por ele”. Tatá também jura nunca perder o prumo, ainda que o jovem galã sofra assédio feminino. “Não sou ciumenta, mas ando armada”, brinca. “Ele não me dá motivos para ter ciúmes nem para me sentir insegura.” A atriz, aliás, decreta: “É a minha relação de mais paz. O Rafa é um entusiasta do meu trabalho, do meu jeito. Só encarnou um pouco mais tarde do que eu”.

Antes ela teve um relacionamento de nove anos com o engenheiro Felipe Gutnik e outro de um ano com o ator Renato Góes. Diz que fucionaram quase como um casamento. “Acho que esse é um contrato que você faz sem precisar de nada assinado.” Mas admite que tem vontade de se casar como manda o figurino. Nem do padre ela abriria mão. “Só por causa da minha avó Ermelinda. Quero ver os olhinhos dela na cerimônia.”

Nova temporada, nova atitude

Se o casamento, por enquanto, está só no plano das ideias, não faltam projetos bem traçados para a vida profissional. O ano de 2018 já está todo tomado. Logo em janeiro, Tatá estreia como a princesa atrapalhada Lucrécia, em Deus Salve o Rei, novela das 7 que substituirá Pega Pega.

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Depois, roda um filme com Ingrid Guimarães e se envolve em outros dois longas-metragens. Ela também já tem data marcada para a terceira temporada do Lady Night, sua bola da vez. “Há tempos queria fazer um talk show, mas meu caminho até aqui me levou a tomar a decisão na hora certa. O que fiz antes ajudou a colocar as peças no lugar.”

Para os 20 programas da segunda temporada, que estreia em 9 de outubro, ela entrevistou Neymar, Glória Maria, Daniela Mercury, Cleo Pires e Cauã Reymond, entre outros nomes. Já avisa que assumiu uma atitude um pouco diferente da exibida na primeira temporada e aparecerá mais dedicada a escutar.

“Teve gente que achou que eu não estava ouvindo muito o convidado, apesar de eu estar”, afirma. “É que eu imprimo um ritmo muito acelerado, já que gosto de gravar como se fosse ao vivo. Mas passei a ouvir mais”, conta Tatá, que se afirma mais segura na nova série de programas.

Como forma de garantir que seu talk show se diferencie dos outros, ela diz que se esforça para que cada encontro com um convidado seja sempre “entre duas pessoas físicas, e não jurídicas”. Faz isso durante e antes também. Tatá é do tipo que se envolve em cada etapa.

Sugere convidados, cria paródias musicais com Edu Krieger (produtor musical do programa), dá pitacos na edição e no roteiro. “O programa é totalmente meu”, resume. “Tenho uma equipe de roteiristas que gosta de escrever para mim e entende a minha embocadura doida. Mas participo de todo o processo.”

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O pique vem do entusiasmo com a realização do sonho antigo. É tanto que ela já gravou passando mal e com dor de dente. O empenho tem sido recompensado. “Trabalhei para isso, fiquei sem dormir, mas não imaginava tanta repercussão.”

TataWerneck
(CLAUDIA/Divulgação)

Transgressora e bagunceira

A tal “embocadura doida” à qual ela se refere se manifestou desde cedo. E nem sempre trouxe bom retorno. Quando cursava a então 8ª série no Colégio Santo Agostinho, no Rio de Janeiro, acabou expulsa da escola gerida por religiosos – um tanto por sua fama de baderneira, outro tanto por sua mania de se indignar com o que não considerava certo.

“Desde nova, eu era de questionar. Achava que escola não era acessível para portadores de necessidades especiais, que as crianças eram discriminadas… Fiz um abaixo-assinado e entreguei para o frei falando que os alunos estavam insatisfeitos. Fui então convidada a me retirar. Neguei o convite, mas realmente não deu”, ironiza Tatá com seu habitual senso de humor.

Mais séria, ela pondera que talvez tenha sido uma retaliação. “Além de transgressora e militante, eu era bagunceira. Havia uma lista dos dez mais da escola, eram nove caras e eu. Eles continuaram lá. Só eu fui expulsa”, relata. “Os freis diziam: ‘Uma menina não pode se portar desse modo. Menino a gente já está acostumado, é assim mesmo, mas menina fazendo esse tipo de coisa?’ ”, conta, indignada.

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A expulsão, no entanto, não calou nem emendou a menina. No ano seguinte, já em outro colégio, o espírito ativista a meteu de novo em confusão. Retirou-se de uma aula ao julgar que o professor de história estava sendo preconceituoso com uma colega negra. “Nem a conhecia, mas me recusei a ficar na sala com um professor que incitava a discriminação e falei isso na cara. Ele disse que só não ia me expulsar em respeito a meu avô, José Luiz Werneck, um historiador importante.”

Mulheres, uni-vos!

Hoje engajada em sete grupos de atuação feminista, a atriz se revela adepta do tão atual movimento da sororidade, que prega a união das mulheres. “Há uma coisa cultural de que o homem é mais unido e a mulher mais individualista. Agora vivemos um momento uníssono, de uma pela outra e todas pelo feminismo para termos o direito de ser o que quisermos. É um momento importante de transformação, e sinto isso na prática”, avalia.

Se já foi muito recriminada no passado, Tatá Werneck admite que hoje não tem muito do que se queixar. Conquistou o apoio geral e irrestrito do público nos últimos quatro anos, desde que estourou como a periguete Valdirene da novela Amor à Vida (2013), da Globo. Mas a atriz diz que não pretende se acomodar no sucesso. “Não existe essa sensação de que já estou bem por aquilo que conquistei. Para mim, continua sendo um leão por dia. Estou sempre esperando a Guerra Fria.”

Para ela, quem tem o direito de se sentir assim tão por cima é gente do quilate de Gloria Pires e Tony Ramos. Não ela. “Se aos 34 anos achar que estou no auge, o que vou fazer aos 70? Eu me sinto realizada, mas sei que tenho de crescer muito ainda”. Assumidamente workaholic, Tatá nunca foi de se dar muita folga.

Após gravar a primeira temporada de seu talk show, naquele ritmo de se envolver em tudo, ela ainda teve fôlego para fazer participações no humorístico Vai Que Cola, também do Multishow. Depois, permitiu-se apenas dez dias de férias nas Ilhas Maldivas.

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Mas um episódio ocorrido em abril deste ano a forçou a parar e repensar seu ritmo. Às vésperas do início das filmagens da comédia A Dupla, com Cauã Reymond, na cidade de Vassouras (RJ), ela foi parar no pronto-atendimento e acabou diagnosticada com pielonefrite, uma infecção renal.

“Poderia ter morrido, por ser uma infecção que se alastra muito rápido. Cheguei ao hospital com 39,7 graus de febre, bastante desidratada e taquicárdica. Queria um atestado para faltar só um dia de filmagem, depois ir embora e tomar um floral. Mas o médico falou que eu estava no CTI e não tinha como sair”, relembra.

Depois de cogitar pintar o cabelo ali mesmo – pedido obviamente ignorado pelos médicos –, Tatá passou a se reunir com os produtores do filme no próprio hospital. Garante, porém, que saiu da experiência um tanto transformada. “A gente acha que é imortal. Após ser internada é que percebi que preciso colocar também a minha saúde na agenda”, afirma.

Não só a saúde mas também outras questões privadas. “Continuo vivendo o dilema da mulher independente, que é conciliar a vida pessoal e a profissional. Já fiz muitas escolhas priorizando o meu trabalho. Hoje, valorizo também a vida pessoal. Percebi que estava abrindo mão disso.”

Sim, é tudo verdade. Mas trabalhar continua sendo prazer e prioridade. Até porque ela tem muitas incertezas com o que vem depois. “Não sou insegura com o meu trabalho, mas com o futuro em si. Tenho uma família que eu ajudo. Quantas atrizes estão hoje passando dificuldades?”, indaga. E se apressa em acrescentar: “Mas essa insegurança com o futuro só me faz crescer, me faz ficar mais criteriosa, mais estudiosa e zero deslumbrada”.

Tatá acha que ainda tem de ralar muito. “Quando eu garantir meus pais, meus avós e meus filhos, eu vou relaxar”, afirma. Suas preocupações têm tudo a ver com o que vivenciou em casa. “Minha família é cheia de pessoas boas, generosas, respeitadas e bem-sucedidas, mas que sempre tiveram dificuldades financeiras”, conta.

A atriz começou a trabalhar ainda criança no teatro infantil. E já exagerava. “Fazia três peças diferentes no mesmo fim de semana.” Mais tarde, cursou quatro faculdades – publicidade, jornalismo, desenho industrial e artes cênicas. “Só não completei desenho industrial”, comenta ela, que fundou com a mãe, a jornalista e escritora Cláudia Werneck, o grupo de teatro Os Inclusos e os Sisos, o primeiro do Brasil dedicado a pessoas com necessidades especiais, com atuação pró-diversidade.

“O grupo está na décima formação e fiz até a quarta peça, quando fui para a MTV, em São Paulo.” Conta que interpretou com tanta veracidade uma personagem com síndrome de Down que um jornal chegou a dizer que ela tinha a alteração genética.

Nariz recusado, e daí?

Tatá diz que é de uma estirpe de mulheres “fortes e independentes”, especialmente ativas. “Minha mãe sempre trabalhou fora e ainda fazia mil projetos. Não parava nem internada. Minha bisavó também trabalhava, assim como minha avó, que, aliás, se divorciou. Todas me criaram para eu não depender de ninguém.” Tanto que a atriz conta que sua maior questão hoje na terapia, iniciada aos 10 anos, é justamente “não ficar independente demais”.

As questões estéticas a atriz não considera merecedoras de levar para o divã. “Tenho uma genética que deixa a bundinha bonita e a barriga grande, mas meu corpo rejeita rotina de academia”, brinca. Tatá também não é de fazer dieta. Dona de 12 gatos e dois cachorros, só não come carne, e por puro princípio.

É feliz com o que vê no espelho. Nunca pareceu se importar com a opinião alheia. “Meu nariz era barrado nas capas de revista”, conta. “Mas abri portas para muita gente fazendo campanhas de joias e de cabelo.” Ela lembra que sofreu patrulha à época. “Eu ouvia coisas como: ‘A Tatá, uma atriz do humor, sensualizando em um anúncio?’.” Sim, por que não?

Ela quebrou barreiras e provou que nem só de deusas vive a publicidade. “Tenho uma beleza que aproxima, é acessível. As mulheres se identificam comigo”, diz. “Não me acho fora do padrão. Sou bem resolvida. Tenho autoestima.” Tatá até admite que, se não fosse o “pânico de agulha e de hospital”, teria encarado uma plástica “para tirar um pouco do osso do nariz”. “Acho que rolou excesso aqui”, diverte-se. Como sempre fez na vida, porém, preferiu dar de ombros para o detalhe – e o jogo se inverteu a seu favor. Ponto para ela.

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