Suzana Faini não é nenhuma Iolanda
A atriz que interpreta a rabugenta mulher de Copola, em A Favorita, é boa de papo e bem-humorada
Suzana Fani mostra o outro lado da moeda
Foto: César França
Só pelo riso solto já se vê que Suzana Faini não tem nada a ver com a rabugice de Iolanda, sua personagem em A Favorita. Se puxar uma prosa então… Não tem para ninguém. A atriz, de 75 anos, só não fala da vida pessoal embora deixe escapar, durante a entrevista, que já viveu uma grande paixão. Mais, não diz. Suzana prefere abordar a profissão que escolheu há 41 anos, quando trocou o balé pela atuação. E, claro, sobre Iolanda, papel que marca sua volta às novelas a última tinha sido Irmãos Coragem (1995).
Você comentou, num jornal carioca, o fato de nunca ter sido protagonista. Existe mágoa por isso?
Isso nunca rolou. O que me interessa é que o meu papel seja bom. Fui bailarina (por 15 anos), estudei música, sou de família de músicos… Então, eu me vejo como um instrumento de uma orquestra. Às vezes, terei meu solo; outras, farei a base para outro. Aliás, foi bom você falar disso, porque, nessa entrevista, saiu grande que nunca me chamaram para fazer protagonista. Eu não disse isso. É verdade que não me chamaram, mas, assim, parece que estou me lamentando. Por que ficou 13 anos sem participar de uma novela inteira? Falta de convite. Há uma infinidade de profissionais que surge a cada ano. De repente, não tem papel que funcione para você. E pode ter quem não me conheça e pode ter quem saiba quem eu sou e não goste do meu trabalho. É normal.
Nunca pensou em pedir?
Não é uma questão de arrogância, mas acho assim: Se não me chamou é porque não quer. Mas tem uma voz que me diz: Não é bem assim. Se você não se fizer lembrar, não há solução. Não é nada pessoal. Agora, na hora do prejuízo, o problema é meu, porque não se pode parar de trabalhar. A maneira de se progredir, em qualquer atividade, é fazendo.
Esse afastamento não teria a ver com sua preferência por teatro?
Não. Mas gosto de teatro por várias razões… No palco, não me vejo, só me sinto. Quando me vejo, sou muito crítica.
Ainda hoje?
Ainda. Mas estou um pouco melhor. Não sei se estou melhor porque estou mais tolerante comigo ou se porque melhorei (risos). Meu nível de exigência mudou também, tem esse detalhe, né (risos)?
Como o público vê a Iolanda?
As pessoas me cumprimentam com carinho. Lá pelas tantas: Mas ela briga muito com o marido. Há gente que diz: Você está certa. Não tem uma receptividade única. Mas, em relação à implicância dela com a filha, essa é constante.
É, já recebemos reclamações de leitores quanto a isso.
É esquisito mesmo ela implicar tanto com aquela filha (risos). Ela diz cada coisa! Mas vai fazer o quê? Está escrito (risos).
Afinal, por que essa implicância com a Cida (Cláudia Ohana)?
A questão do cunhado é para inglês ver. Claro que isso é uma coisa desagradável, mas acontece. Você se apaixona e não encomenda essa paixão. É terrível, né? Mas, na verdade, quando, lá atrás, a situação não estava boa no casamento, Iolanda achou que engravidando, e tendo um filho homem, poderia amenizar a situação. E, além de ela passar muito mal na gravidez, nasceu mais uma menina.
Você inventou essa história?
Não tenho essa imaginação (risos). Estava no texto, só não gravei porque o Tarcísio (Meira, o Copola) teve de se afastar. E isso era um papo que eu tinha com ele. Mas isso é bom. Prefiro que Iolanda seja uma idiota que pensa que filho salva casamento, do que ela ter ódio pela filha, sem explicação.
É difícil fazer essas cenas pesadas?
Quando tenho de dizer você é uma perdida, já falo meio jogando fora, porque pesa demais. Aí, é complicado. Ela é pesada! Desde o começo foi isso, me escolheram para ser amargurada (risos).
Mas é uma história muito real, né?
Muito! Esses casamentos… Como o da Irene (Glória Menezes), que não é apaixonada pelo Gonçalo (Mauro Mendonça).
Você acha possível que um casal se ame na mesma medida? É difícil, mas não impossível. Eu mesma fui muito apaixonada, mas… Não vou falar da minha vida, mas é claro que acontece. E magoa a situação da Iolanda, de não ser a mulher da vida do Copola. Agora, para ela, ainda houve traição.
E dá para se divertir nesse papel?
Ah, eu me divirto! E avalio também. Valeu, não valeu…
Sente-se satisfeita com a sua carreira?
Podia ser melhor. Podia ter trabalhado mais. Acho que sou uma boa atriz, estou progredindo… Eu acho, hein! Outras pessoas precisam dizer (risos).