Silvio de Abreu: “Homem diz que não, mas sempre abaixa a cabeça para a mulher!”
Ao reescrever o sucesso Guerra dos Sexos, o autor reconhece a superioridade feminina!
Silvio de Abreu, autor de Guerra dos Sexos
Foto: TV Globo/Divulgação
Para comemorar seus 45 anos, completados em 2010, a Globo encomendou a Silvio de Abreu um roteiro de filme baseado na novela Guerra dos Sexos, um dos maiores sucessos do autor na emissora, que foi protagonizado por Fernanda Montenegro e pelo saudoso Paulo Autran em 1983. O projeto acabou não saindo, mas Silvio percebeu que a novela daria um bom remake e foi o que ele fez com a atual trama das sete.
Reescrever um fenômeno de audiência não foi fácil. O escritor admite ter tido dificuldades em tirar da cabeça as sequências que escreveu especialmente para Fernanda e Paulo (hoje, os personagens são feitos por Irene Ravache e Tony Ramos) e os demais atores do elenco, e readaptá-las para uma leitura atual. Toda hora, pensava nos antigos intérpretes. Resolvi, então, criar uma história nova, admite Silvio. Abaixo confira a entrevista completa com esse grande autor da TV!
Guerra dos Sexos marcou época por consolidar o horário das sete como de comédia. Isso está diferente na atual fase?
Hoje em dia, nada do que estou fazendo em Guerra dos Sexos é surpresa, porque todas as novelas que vieram depois seguiram a mesma fórmula. Na época em que a escrevi, como espectador, achava as outras tramas morosas demais. Tinha a história da moça que queria se casar com o moço e não deixavam, aquela coisa infinita… Uma chatice! Eu, como público, queria uma novela que todo dia fosse boa, divertida. E em Guerra todos os capítulos têm muita trama, muita história, muita cena engraçada.
Como foi reescrever a cena histórica do pastelão, na qual protagonistas tão célebres jogavam comidas um no outro?
Essa cena virou um mito. Se eu fosse outro, ficaria quietinho e seria enterrado com isso. Resolvi me arriscar. Nunca tive medo de me arriscar em nada. Vou e faço! Há 30 anos, não tive medo de colocar Fernanda Montenegro e Paulo Autran levando torta na cara. Naquela época, as pessoas ficaram horrorizadas. Comentaram: “Como ele teve coragem de fazer isso? Está destruindo o teatro nacional!” (risos).
Você escolheu o elenco atual junto com o diretor, Jorge Fernando?
Todo, a dedo, um por um. E não foi fácil, não! É preciso trabalhar com pessoas que gostem de comédia. E não é todo mundo que gosta ou sabe fazer. Estava falando até outro dia com a Gloria Pires… É necessário ter uma atriz que consiga ser cômica, dar e levar tapa na cara e em seguida chorar, fazer uma cena romântica. Não é qualquer atriz que sabe isso. Uma coisa é você colocar uma para ser vilã e fazer bandidagem. Todo dia ela vai fazer uma cena semelhante. O surpreendente é quando você faz todo dia cenas de tonalidades diferentes, mesclando gêneros de interpretações.
Silvio de Abreu e Jorge Fernando em clima descontraído nos bastidores da novela
Foto: TV Globo/Divulgação
Teve problemas de escalação?
Sei que os autores andam reclamando muito disso. Leio sempre no jornal (risos). Eu não tenho esse problema, pois faço tudo com bastante antecedência. Quando resolvi fazer essa novela, disse: só vou conseguir se tiver Tony Ramos, Irene Ravache, Gloria Pires, Edson Celulari, Reynaldo Gianecchini e Mariana Ximenes. Mas o elenco todo é bom demais, e não só de profissionais. É bom de gente!
Você está se baseando no texto antigo?
Sim, mas reescrevo tudo. Conto com a facilidade de ter muitas ideias ali, mas a dificuldade de precisar modificá-las- para uma coisa nova. Quando leio os capítulos, vêm à cabeça os atores da primeira versão. Preciso tirá-los da mente e fazer algo inédito, no mesmo tipo de cena, mas com diálogos totalmente diferentes. Faço essa novela como se estivesse fazendo a supervisão de outro autor. Ele escreve, eu leio, dou sugestões, discuto as sequências. Vou mais ou menos corrigindo, até ele engrenar. Estou fazendo isso comigo mesmo, estou me supervisionando (risos)!
Você está tranquilo em relação aos resultados de Guerra dos Sexos, ou bate um nervoso?
É impossível não ficar nervoso! Não tem a menor chance, porque a gente nunca pode ter certeza do sucesso. Por exemplo, As Filhas da Mãe (2001) era uma novela ótima. A gente tinha certeza de que seria um grande êxito, e só deu problema…
É um desafio manter o público infantil de Cheias de Charme, por exemplo?
A audiência infantil é importantíssima. Quando perdemos as crianças, perdemos, pelo menos, 10% do público. E Guerra tem uma facilidade: os personagens são velhos, mas as atitudes deles são infantis. Atirar meleca um na cara do outro é coisa de criança. A chave da novela é ter atores de uma certa idade fazendo coisas muito infantis. Isso fica engraçado para um adulto e interessante para uma criança.
Falando do tema de Guerra, acha que as mulheres de hoje estão no campo de batalha com um contingente maior?
Claro, hoje, elas assumiram a Presidência da República em vários países (risos)! Nós (homens) estamos por baixo. Por isso que o Tony (Ramos) está mais irritado (risos).
Você é machista?
Será? Acho que não… Pergunte à minha mulher (risos). Adivinhe de quem é a última palavra na minha casa? É dela, claro! Homem diz que não, mas sempre abaixa a cabeça para a mulher. Quando ela começa a falar, então, ele cede logo. Eu já digo para a minha: “Tá! Faz do jeito que você quer. Não precisa mais falar”.