Rodrigo Lombardi: “Sinto-me o verdadeiro Mickey Mouse!”
O ator Rodrigo Lombardi fala do assédio dos fãs, do que a fama lhe ensinou e da vontade de abrir uma padaria
“Sempre fui muito ligado ao meu pai e, se puder ser na minha vida metade do que ele foi na dele, será ótimo”, diz Rodrigo Lombardi
Foto: Alan Teixeira
Ele tentou ser jogador de vôlei, mas, com 1,83 m, era baixinho para a profissão. Foi garçom, modelo, iluminador, contrarregra e agente de viagens, até ser visto por um produtor de elenco da Globo, que o chamou para um teste.
De “Bang-Bang” a “Passione”, Rodrigo Lombardi mudou muito. Ganhou uns quilinhos, aprendeu a lidar com a fama e conheceu sua mulher, a maquiadora de efeitos especiais Betty Baumgarten, com quem teve Rafael, de 2 anos e meio.
Mas, se você olhar bem, vai ver que o filho de uma dona de casa e de um vendedor de roupas continua o moço simples e elegante que sempre foi. Só que, agora, em rede nacional.
Qual o maior sonho de consumo já realizado?
Rodrigo Lombardi – Minha casa no Rio. Agora vou comprar uma pra minha mãe.
“Caminho das Índias” foi um divisor de águas?
Rodrigo Lombardi – Sim. A partir do Raj, o assédio tornou-se muito maior. Se vou ao supermercado comprar uma caixa de aveia, levo uma hora e meia entre a prateleira e o caixa (risos). Vão me abraçando, colocando criança no colo, tirando foto… Sinto-me o verdadeiro Mickey Mouse!
O assédio é pior no Rio de Janeiro ou em São Paulo?
Rodrigo Lombardi – No Rio. Quando um famoso pisa na praia, o cara do quiosque liga pro paparazzi avisando. Não sei que interesse as pessoas têm nisso. Acho tão bobo mostrar que fulano foi ao shopping, beltrano lavou o carro…
Essas cenas mostram que artistas são como nós…
Rodrigo Lombardi – É claro que somos! Vamos ao supermercado, saímos com amigos e fazemos xixi e cocô como todo mundo (risos). Mas tem fotógrafo que tem prazer em flagrar a celulite da atriz, o galã com barriguinha, e isso não é legal. A gente se sente assaltado: alguém vem e rouba um pouco da sua energia.
O que aprendeu com a profissão de ator?
Rodrigo Lombardi – A não criar expectativas. Tem uma passagem de São Francisco de Assis que gosto muito: “Comece fazendo o que é preciso, depois, o que é possível e, quando olhar para trás, terá feito o impossível”. Atores são como o pedreiro, que vai assentando um tijolo atrás do outro – a gente faz uma cena atrás da outra até concluir.
Rodrigo e sua esposa Betty Baumgarten
Foto: Thiago Bernardes
Que loucura já fez para conquistar uma mulher?
Rodrigo Lombardi – Nunca fui do tipo de fazer loucuras. Quando estava a fim de uma menina e ela se mostrava desinteressada, já pulava fora. Não gosto de ficar correndo atrás de quem não me quer.
De onde vem sua elegância?
Rodrigo Lombardi – Aprendi a gostar de moda com meu pai, que me ensinou como um homem deve se portar. Ele trabalhou a vida inteira como representante de vendas de moda masculina.
Mas isso não tem a ver só com a roupa…
Rodrigo Lombardi – Acho que isso se deve à dança. Dos 20 aos 27 anos, estudei sapateado. Adorava os filmes de Gene Kelly e Fred Astaire e achava que, um dia, a dança poderia ser útil na minha carreira. Estudei jazz e balé clássico, isso moldou minha postura.
Você está mais encorpado?
Rodrigo Lombardi – Estou mais gordo! Entrei em “Bang Bang” com 80 kg, cheguei a 92 kg no final de “Desejo Proibido” e, agora, estou com 88 kg. Hoje, se quiser ir a um bom restaurante, tenho dinheiro. Antes, tinha de me contentar com um lanche de boteco.
Se acha bonito?
Rodrigo Lombardi – Acho que sou um cara de uma beleza comum, mas gosto de mim do jeito que sou. E não me acho mais bonito hoje do que antes da fama. Puxei o nariz grande do meu avô materno e do meu pai. O tamanho dele nunca me incomodou.
Rodrigo com o filho Rafael
Foto: Fernando Azevedo
Tinha vontade de ser pai fazia tempo?
Rodrigo Lombardi – Desde os 15 anos. Sempre fui muito ligado ao meu pai e, se puder ser na minha vida metade do que ele foi na dele, será ótimo.
O que você diria para quem quer ser ator?
Rodrigo Lombardi – Leia e assista a muitas peças de teatro. Descubra qual o grupo de teatro que você admira e tente entrar nele. Mas faça um pé-de-meia, pois a nossa profissão é muito ingrata. Entrei no Grupo Tapa em 1999 e só fui fazer a primeira peça como ator em 2004. As oportunidades nessa área são poucas.
É verdade que você aceitou fazer “Passione” pela oportunidade de contracenar com Fernanda Montenegro?
Rodrigo Lombardi – É verdade! No último dia de “Caminho das Índias”, o produtor de elenco de “Passione” disse que me queria na novela de Silvio de Abreu. Agradeci e disse que não ia dar, pois vinha de quatro novelas seguidas, precisava de um tempo para ficar com meu filho. Aí, ele me deu um motivo irrecusável: “90% das suas cenas serão com a Fernanda Montenegro”. Aceitei na hora!
Tremeu na base na primeira cena com ela?
Rodrigo Lombardi – Tremo até hoje! Não só com ela, mas com grandes mestres como Elias Gleiser, Cleide Yáconis, Leonardo Villar, Tony Ramos. Quando a Fernandona me deu “bom dia”, fiquei todo bobo, não sabia nem o que dizer. Ela percebeu meu nervosismo e foi muito aberta. E tem muito bom humor!
Você gosta de cozinhar?
Rodrigo Lombardi – Gosto. Minha especialidade é o rondele: faço uma receita deliciosa com molho de tomate e recheio de ricota, queijo, presunto e linguiça calabresa. Demora 3 horas e meia pra ficar pronto, mas fica delicioso! Gosto de levar para as pessoas o prazer de degustar algo feito com carinho. Até ando pensando em abrir uma padaria. Não vou enfiar a mão na massa, e, sim, gerenciar, receber os clientes, zelar pela qualidade dos produtos…
Cozinhou pra sua mãe?
Rodrigo Lombardi – Já. Vi na televisão uma receita de torta holandesa e demorei um dia para prepará-la – a cozinha ficou parecendo um galinheiro! Levei para minha mãe, ela comeu e não acreditou que tinha sido feita por mim.
Você é religioso?
Rodrigo Lombardi – Não diria que tenho uma religião, mas tenho a minha religiosidade. Acredito em uma força superior, à qual peço discernimento, clareza nos pensamentos e calma.
Que mundo gostaria de deixar para seu filho?
Rodrigo Lombardi – Sonho com uma sociedade mais justa e fraterna, mas acho que não conseguiremos construir um mundo melhor. As pessoas esqueceram os valores mais básicos do ser humano, como respeito ao próximo, honestidade, ética.
Tem algum ator ou autor de novelas com quem sonhe trabalhar?
Rodrigo Lombardi – Sonhava atuar ao lado do Raul Cortez. No meu coração vai ficar um buraquinho por ele ter morrido antes que eu tivesse essa chance…