Renata Abravanel, a sucessora de Silvio Santos
A caçula Renata, que já foi caixa de livraria, é a aposta para assumir o grupo do pai
Renata Abravanel, 29 anos, caçula de Silvio Santos, 83, e de Iris Abravanel, 64, não assume, mas é ela quem está sendo preparada para liderar a empresa da família. Atualmente, é vice-presidente do Grupo Silvio Santos, assessorando o CEO da holding, Guilherme Stoliar, 59.
Nesta entrevista exclusiva a CONTIGO!, a “filha número 6”, como Silvio gosta de se referir à sua prole, mostrou que possui o carisma do pai e, ao que tudo indica, seu tino para os negócios – em agosto, Silvio voltou à lista de bilionários da Forbes, com um patrimônio estimado em 1 bilhão de dólares.
Renata se diz avessa aos holofotes, mas é falante e articulada, como se viu durante sua apresentação no seminário Mulheres Líderes, promovido pelo Grupo Doria, em 30 de setembro, em São Paulo. “Nunca gostei nem de palco nem de luz. Mas sempre fui muito criativa e acho que é por isso que estou aqui”.
Entre 2004 e 2007, ela estudou administração de empresas na Liberty University, na Virginia, Estados Unidos. Na volta, ingressou no SBT, onde foi trainee de várias áreas. Tendo o pai como mentor e maior incentivador, chegou ao cargo que ocupa hoje, enfrentando preconceitos por sua pouca idade. “Se precisar trabalhar, eu não meço esforços”, diz. A seguir, ela fala sobre a relação com Silvio e com o futuro da empresa e revela que está prestes a tomar uma decisão difícil: deixar a casa dos pais.
Disciplina na infância
“Meus pais nos criaram em uma realidade de família de classe média, sem muitos luxos ou ostentação. Eles sempre disseram muito mais ‘não’ do que ‘sim’. E sempre cobraram muito de mim e das minhas irmãs. Exigiam caráter, disciplina, esforço… Mas ao mesmo tempo nos incentivavam a enfrentar medos e lidar com nossos problemas.”
Faxina e vida (quase) dura
“Estudei em colégio americano a vida inteira. Mas optei por ir estudar nos Estados Unidos para sair um pouco do meu mundo. Queria deixar de ser filha de alguém famoso e reconhecida pelo meu sobrenome. A experiência de morar fora e sozinha foi muito valiosa. Cuidar da própria casa, das contas, fazer supermercado e faxina… Nem sempre foi fácil. Uma vez, voltando da lavanderia, deixei cair o cesto de roupa no chão e comecei a chorar. Achei que não aguentaria mais. Depois desse episódio, faxina virou uma terapia.”
Tino para os negócios
“Eu sempre desconfiei que viria trabalhar com meu pai, no SBT, mas achava importante ter alguma outra experiência. Enquanto estava na faculdade, tive dois trabalhos: fui caixa da livraria Barnes & Noble e residente assistant, que era uma espécie de assistente dos meus colegas estudantes. Nas férias, eu vinha ao Brasil fazer estágio nas empresas do meu pai e conhecer melhor cada departamento. Quando me formei, em 2008, fui trabalhar direto no SBT, na área de novas mídias. Em dois anos, transformei a área de um centro de despesas em uma fonte de receita.”
SBT, o futuro
“Hoje, sou assessora do presidente do Grupo Silvio Santos, Guilherme Stoliar. Minha vinda para a holding foi adiantada, depois do episódio do Banco Panamericano (Em 2010, o Banco Central descobriu irregularidades contábeis no Banco Panamericano. Desvios financeiros feitos por diretores gerou um rombo de 3,8 bilhões no banco. No ano seguinte, Silvio vendeu o Panamericano para o Banco BTG Pactual, que assumiu a dívida, já saldada pelo Fundo Garantidor de Crédito. Silvio alegou que nunca soube de irregularidades e demitiu toda a diretoria, inclusive o presidente, Rafael Palladino, primo de sua mulher.).Percebemos que precisávamos estar mais próximos e unidos, tanto na empresa quanto em família. Até mesmo Silvio passou a se envolver mais. Precisávamos colocar a casa em ordem. Foi um episódio muito marcante que nos fez rever várias coisas. A partir daí, tive de abdicar de alguns projetos pessoais, como uma pós-graduação, e da minha vida social para me dedicar ao trabalho. É um preço alto e a estrada é longa.”
Estamos trabalhando na sucessão, toda função importante tem de ter um plano B. Porém, Silvio Santos é insubstituível
Relação com o pai
“No começo, a gente (ela e Silvio) batia um pouco de cabeça. Mas ele via nessas ocasiões um jeito de me ensinar muita coisa. Ele é meu mentor. Gosto de observar como meu pai conduz reuniões, sua visão e o jeito como trata as pessoas. Eu duvido que vá se aposentar tão em breve (alguns rumores indicam que Silvio deixaria o comando do grupo até o fim do ano), mas não posso falar mais que isso. É óbvio que estamos trabalhando na sucessão, toda função importante tem de ter um plano B. Porém, Silvio Santos é insubstituível. Observar a parceria dele com minha mãe em momentos difíceis, como no episódio do banco ou do sequestro da Patricia (Em 2001, Patricia, então com 24 anos, foi sequestrada na garagem de casa. Ela ficou sete dias em cativeiro e foi libertada após o pagamento de um resgate), é mesmo muito inspirador. O SBT sempre foi como um sétimo irmão para nós. Era um assunto tratado no jantar, mas geralmente em aspectos mais divertidos, como os programas, os artistas… Com o tempo, passamos a ter conversas mais focadas.”
Caçula sofre
“Com tantas mulheres em casa, e sendo a caçula, lutar pelo meu espaço não foi fácil. Quem não chorava não mamava. Como irmã mais nova, tive de inovar e testar quais eram realmente os meus limites. Isso me ajudou a ser criativa. Minhas irmãs são minhas melhores amigas. A gente briga e discute, mas nos entendemos muito. Apesar das personalidades fortes e diversas, todas lutam por um bem comum. Hoje, convivemos cada vez menos, cada uma tem sua vida, sua família. Trocamos mensagens sempre, pelo menos para ter notícias dos meus sobrinhos e sobrinhos-netos. Acho o máximo que já sou tia-avó. Fiquei literalmente para titia.”
Amor à primeira vista
“Sou a única filha que ainda mora com meus pais. Fiquei noiva no início de outubro, ainda sem data para o casamento. Estou com o Caio (Curado) há dois anos. E foi amor à primeira vista. Ele é o máximo! O desafio agora é desapegar da casa que moro hoje. Eu sabia que esse momento ia chegar, mas adiei o máximo que pude. Gosto de acordar no sábado de manhã e estar com meus pais. Não sou muito de sair de casa. Nos momentos de descanso, gosto de estar com minha família e amigos. Sempre que posso, viajo para o Guarujá, lá é meu refúgio. É tão pertinho e me sinto em casa no hotel (o Hotel Jequitimar, na cidade litorânea, também pertence ao Grupo Silvio Santos)”
Silvio Santos, o mito
“Na homenagem que fizemos aos 80 anos do meu pai, ele me contou a verdadeira história (da sua troca de nome. Senor Abravanel é o nome de batismo do apresentador). Ele vivia dos prêmios dos concursos de rádio. Uma hora, foi impedido de concorrer, pois sempre ganhava. Como solução, pediram para mudar seu nome. Silvio foi uma escolha que veio da família, ninguém gostava de Senor e já o chamavam assim. Ele pensou: “Põe Santos, porque na hora todos os santos ajudam”. E acabou pegando. Foi uma boa ideia, só que ele é judeu, né?”