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Por que a Família Real não deve se comportar como celebridade?

A jornalista Barbara Gancia faz uma análise sobre o momento de transição da monarquia britânica

Por Barbara Gancia*
Atualizado em 13 jan 2020, 14h18 - Publicado em 13 jan 2020, 13h50

A esfera de influência do Reino Unido diminuiu consideravelmente desde que a rainha Elizabeth subiu ao trono. Dos 16 países do Commonwealth que sobraram, os mais importantes, Canadá, Austrália e Nova Zelândia vivem ameaçando sair. Na Grã Bretanha, o Brexit reforçou a ideia de uma Inglaterra isolada e um Reino Unido despedaçado. Escócia e Irlanda do Norte não fazem mais questão de fazer parte do Império no qual se dizia antigamente que “o sol nunca se punha”. Elizabeth II termina seu reino com uma Grã Bretanha sem grande expressão no mundo. E a Família Real é um bicho darwiniano. A eles interessa sobreviver e perdurar.

Antes do escândalo do príncipe Andrew com o milionário norte-americano Jeffrey Epstein, envolvido com pedofilia, havia rumores de que o segundo filho homem da Rainha estava bastante indisposto com o palácio de Buckingham – e com Charles – porque suas filhas haviam sido cortadas do serviço público e das funções reais.  A princesa Anne e o terceiro filho da Rainha, príncipe Edward, também foram cortados da lista, mas se foram sem reclamar. Mais recentemente, o próprio Harry declarou que seu irmão e ele andavam se desentendendo. É preciso compreender que a transição do trono, de Elizabeth para Charles, já está em andamento. O público não irá aceitar um reinado de Charles em que haja uma extensa Civil List (as despesas pagas pelo erário à família real). Daí o drástico enxugamento.

Rainha Elizabeth II e os herdeiros diretos da Coroa: Charles, William e George (Ranald Mackechnie/Instagram)

De uns tempos para cá, em todas as fotos oficiais da Família Real, só quem aparece são a Rainha (Philip está enfermo e já se aposentou do serviço público), Charles, William e George.
Devemos levar em consideração também que Harry andava muito chateado com o tratamento que Meghan vem recebendo da imprensa sensacionalista na Inglaterra. E que ele nunca engoliu o que aconteceu com sua mãe. Harry é de longe o membro mais popular da família real na Inglaterra.

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Harry está chateado com o tratamento que Meghan vem recebendo da imprensa sensacionalista na Inglaterra e de piadas de mau gosto que circulam na Internet, comparando a duquesa à Yoko Ono (Reprodução/Twitter)

Em termos práticos e simbólicos diz muito uma Família Real que se prepara para fazer a transição de um monarca para outro esteja querendo ficar mais enxuta e que um membro sênior da Casa de Windsor não queira mais sugar o dinheiro da Civil List. Mais ainda, que ele pretende trabalhar, como todo mundo, para arcar com suas despesas. O Parlamento fica sem argumentos para protestar contra o ônus de ter uma Família Real, os Windsors se modernizam e reinventam e Harry ainda por cima vai passar boa parte do ano entre a Califórnia e o Canadá, que aliás seria o primeiro país a querer deixar o Commonwealth assim que o controvertido Charles colocar os pés na Catedral de Westminster para ser coroado. A mim parece uma jogada de mestre. Inclusive porque sabemos que Meghan não está se acomodando ao seu novo papel e que o público não irá tolerar mais qualquer deslize protocolar e de decoro vindo da família. Resta ver como ficam a segurança do casal e outros detalhes logísticos da nova situação, mas creio que isso só irá depor a favor da Família Real.

Charles já marcou um baita gol com o enxugamento, mas também com a modernização empreendida por seu filho mais moço, que além de trazer diversificação à Coroa ao se casar com uma mulher mestiça, demonstra ser um cidadão do mundo moderno. E Harry continua sendo superstar. Assim como o filho da rainha Vitória, o rei Edward, que esperou 60 anos para ser rei depois de ter sido um príncipe de Gales fanfarrão e festeiro acabou virando um grande rei, sempre se disse que a longa espera de Charles também provocaria surpresas assim que subisse ao trono. Afinal de contas, ninguém nunca teve tanto tempo para se preparar para a missão quanto ele. Mas vc acha que vai ser bom pra popularidade da Família Real?

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(Alexi Lubomirski/Divulgação)

A Família Real não pode se portar como “celebridade”. Antes de Diana esse conceito era impensável porque implica instabilidade. Num momento você pode estar em alta, noutro em baixa. A Família Real funciona sobretudo na base da estabilidade. Eles têm que ser acessíveis e nunca acima dos súditos. Roupas de grife, costumes mundanos, isso não é pra eles. Eles não tem público, têm súditos. É claro que se importam com popularidade, mas não a ponto de ser coqueluche. O estrelismo é perigoso pra eles. E Harry é muito parecido com a mãe. Além disso se casou com uma atriz norte-americana. O potencial para a encrenca é grande. E os royals precisam ser confiáveis. Eles conseguiram sobreviver a duas Guerras contra a Alemanha abdicando do sobrenome alemão (todos os Windsors tem sangue alemão por conta dos casamentos entre as várias casas reais da Europa); depois eles emergiram do escândalo Wallis e Edward, conseguiram ultrapassar o furacão que foi a separação de Diana e Charles, as avacalhações de Sarah Ferguson e agora, no meio da transição de um reinado sólido e sem uma única mácula para o de um Rei de quem ainda não se sabe o que esperar, surge o mega escândalo do príncipe Andrew. Não dava para correr mais um risco com Harry, especialmente porque ele é muito popular. Sua ida para o Canadá é providencial. O Parlamento não iria endossar mais um escândalo. E Meghan de fato está sendo muito pressionada.


*Barbara Gancia, 62, é repórter do GNT e autora do livro “A Saideira”

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