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Por que a conversa vazada por Neymar não prova nada?

Uma reflexão a respeito de consentimento, conversas íntimas vazadas e o sempre ágil tribunal da internet.

Por Ligia Helena
Atualizado em 15 jan 2020, 16h40 - Publicado em 3 jun 2019, 10h19

No último sábado (1º), veio à público por meio de uma reportagem do site UOL que o jogador de futebol Neymar era acusado de estupro por uma mulher. De acordo com o boletim de ocorrência registrado por ela em São Paulo, ela teria ido a Paris encontrar o jogador no dia 15 de maio, e no mesmo dia teria sido estuprada pelo atleta, em um quarto de hotel.

De acordo com o boletim de ocorrência, o encontro teria começado bem, mas “em determinado momento, Neymar se tornou agressivo, e mediante violência, praticou relação sexual contra a vontade da vítima”. 

No domingo (2), Neymar publicou um vídeo de sete minutos em suas redes sociais, com o intuito de expor uma conversa que os dois tiveram via WhatsApp e provar que “o que aconteceu em um dia foi uma relação entre homem e mulher dentro de quatro paredes, algo que acontece com todo casal, e no dia seguinte não aconteceu nada demais”.

Não só ao tentar se defender da acusação do crime de estupro, o jogador pode ter cometido o crime de expor cenas de nudez – e já está sendo investigado por isso – como também a conversa publicada por ele não prova absolutamente nada, ao contrário do que o tribunal da internet parece acreditar.

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Pouco menos de 24 horas depois, Neymar apagou de suas redes sociais o tal vídeo que havia feito. Não sem, claro, ele ter sido visualizado milhões de vezes e ter virado até meme – “motivo da minha libido” foi piada até durante a transmissão da final da NBA no canal ESPN, e há registros da conversa circulando pela internet.

De fato, o diálogo entre os dois indica que havia um alto teor sexual na relação. De ambos os lados, havia troca de provocações e flerte, e promessas de que, quando eles se encontrassem, iriam ter, sim, relações sexuais.

Fica registrado também que Neymar teria pago a viagem para que a mulher fosse se encontrar com ele em Paris, e que ela, no dia seguinte do relatado estupro, queria encontrá-lo de novo, o que não aconteceu.

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Mas nada disso prova que ela não foi estuprada.

Simplesmente porque o consentimento durante o sexo não pode ser dado previamente. Uma mulher pode ter seduzido um homem, aceitado presentes, viajado para a cidade onde ele vive, e, quando se encontraram, ele ter se tornado agressivo e ela não ter mais querido fazer sexo com ele. E a partir do momento que ela não quer mais, que ela diz que não quer mais, não importa o que aconteceu antes. Ela não pode ser obrigada a fazer sexo.

Se alguém é obrigado a fazer sexo, mesmo não querendo, adivinhe só: é estupro.

E mesmo o fato dela ter entrado em contato com ele no dia seguinte, ter querido se encontrar de novo, nada disso é prova de que ela não foi estuprada. Ela pode, inclusive, ter entendido que o que aconteceu com ela foi um estupro apenas dias depois do ocorrido – seja por estar em choque, ou por estar envolvida com a situação ou por qualquer outro motivo. E isso não minimiza o que teria acontecido.

As conversas vazadas por Neymar serviram apenas para expor a intimidade dela (e dele, ok, mas Neymar se expôs por vontade própria – ela não teve escolha), e não provam nem a inocência, nem a culpa dele. Talvez por isso ele tenha escolhido tirar o vídeo do ar.

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Embora o tribunal da internet goste de se apressar e tirar conclusões baseadas em meia dúzia de evidências e preconceitos, a verdade é que quem vai decidir se Neymar é culpado ou inocente das acusações que foram feitas, é a polícia e a justiça. Vamos acompanhar.

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