Paula Fernandes: “Só não passei fome porque minha mãe foi uma guerreira!”
Nesta entrevista exclusiva, a cantora fala da infância pobre, dos imensos desafios até conquistar o sucesso, do relacionamento com a mãe e o pai, de casamento e sensualidade
“Eu já vivi com muito pouco (dinheiro) e era feliz “
Foto: George Magaraia
Aos 29 anos, Paula Fernandes é um fenômeno da música brasileira. Com oito CDs, mais de 3 milhões de cópias vendidas, turnês pela Europa e Estados Unidos, além de muitos prêmios, a mineirinha de Sete Lagoas está na cobiçada posição de estrela do sertanejo. Mas para a dona de hits como Prá Você, Pássaro de Fogo e Barco de Papel nada caiu do céu. Seu sucesso é fruto de garra, batalha e persistência, além de talento, claro.
Paula canta, compõe, toca violão e tem uma presença de palco incrível. É firme, marcante e doce, como o público fiel, e cada vez maior, pôde observar em seu show da turnê Um Ser Amor, em São Paulo, na sexta, 14. Antes do espetáculo superproduzido, porém, ela recebeu a reportagem de TITITI no amplo camarim com três ambientes, no Citibank Hall. Com temperamento mais contido e genuíno, Paula falou longamente da ligação com o campo, das lutas até se firmar como artista, do namoro com o dentista Henrique do Valle e muito mais. O resultado você lê a seguir: uma conversa interessante e gostosa.
TITITI Está feliz com a turnê Um Ser Amor? Por que esse nome?
Paula Fernandes Sem dúvida estou realizada. O nome é simples, mas de um poder incrível, retrata bem o que vivo, sinto, desejo… Queria descrever esse ser amor que vive em mim. É também o nome de uma canção que fiz para uma pessoa há algum tempo. É muito especial, foi tema da Paloma (Paolla Oliveira) e do Bruno (Malvino Salvador) em Amor à Vida (2013), e se tornou um dos momentos de auge do meu show.
Depois de uma disputa judicial com o cantor Leonardo, você saiu da empresa dele, a Talismã Music, que cuidava da sua carreira. Esta turnê é a primeira produção da sua empresa, Jeito de Mato. Você se sentiu mais livre para criar?
Com certeza! E ela faz parte desse processo de ter as rédeas da minha vida e da minha carreira nas mãos. Estou vivendo um momento de plenitude e descoberta… Sou empresária e tenho uma grande artista comigo: Paula Fernandes. Há a preocupação de estar em cima do palco, obviamente, mas também tenho de cuidar dos bastidores e saber como é estar na plateia assistindo para ver os detalhes
Desde a criação das canções até o show acontecer, eu estou lá, atuando em todas as fases.
O espetáculo retrata sua vida ligada ao campo. Que fatos marcaram você profundamente?
É uma história longa, até dizem que dá para virar filme. Ela é digna e de muita luta. Sou de origem simples, humilde, e comecei com esse sonho de ser cantora aos 8 anos. Desde então, venho buscando esse ideal de vida. Há uns três ou quatro anos consegui chegar ao grande público e ser reconhecida como tanto queria. Eu acredito que é bastante difícil chegar onde eu cheguei. E mais difícil ainda manter essa posição! É a ordem das coisas. Eu sou de levantar esta bandeira: a gente tem que estar sempre se renovando. Eu não vim para fazer qualquer coisa, não vim para fazer nada mais ou menos. Estou nessa busca de crescimento, de me tornar uma artista melhor, uma pessoa melhor!
Está pensando em contar sua vida em um filme?
Por enquanto ainda não (risos). Minha mãe (Dulce de Souza) está escrevendo um livro da minha vida, que não tem data para ser lançado. Mas estou muito orgulhosa da iniciativa dela.
Você dá os depoimentos para ela escrever, é isso?
Na verdade, estou deixando ela muito à vontade. Minha mãe sabe bem como sou, desde o primeiro segundo em que comecei a existir. E ela lembra das coisas que não me recordo mais. Vai ser uma ótima oportunidade para as pessoas me conhecerem. A versão da minha mãe será incrível.
Há alguns momentos emocionantes que ela já registrou?
A gente combinou que ela vai me mostrar só em determinado momento e ela está guardando segredo sobre o que vem escrevendo. Vai me fazer uma surpresa mesmo.
Dessas etapas incríveis da sua vida, tem algo que anteciparia pra gente?
São tantas… Posso dizer da primeira vez em que ouvi uma música minha em novela. Foi maravilhoso! Já tinha cantado trechos em América (2005) e Páginas da Vida (2006), mas em Paraíso (2009) foi uma canção minha e inteira: Jeito de Mato, que deu nome à minha empresa. É o grande sucesso da minha vida.
E no âmbito mais pessoal?
Com o primeiro dinheiro bom que recebi, queria comprar minha casa e contratar plano médico para minha família. E fiz isso! Bem material não é o mais importante. Eu já vivi com muito pouco e era feliz. Mas essa fase representou uma grande mudança para mim, porque vi que podia dar conforto à minha família.
Chegou a passar fome?
Só não passei fome porque minha mãe é uma guerreira! Ela trabalhou muito, fazia o que aparecia, não media esforços para nos sustentar, a mim e ao meu irmão (Nilmar Fernandes, 27 anos, que cuida da empresa de Paula). Passamos muita necessidade, mas sempre tivemos algo para comer por causa dela, que é fantástica.
Tem alguma lembrança marcante dessa fase mais difícil?
Eu lembro da minha mãe contando R$ 2 em moedinhas em cima da cama. Ela tinha esse ritual… Dizia que contando o dinheiro que tinha sobrado no fim do dia, em cima da cama, aquela quantia iria se multiplicar na manhã seguinte. Ela sempre teve umas coisas assim. Era meio mágica!
Pode contar mais uma dessas histórias?
Quando eu era adolescente e desejava alguma coisa, perguntava a ela: “Será que um dia vou ter isso, mãe?”. E ela respondia na maior calma: “Filha, continua seguindo seu caminho, tenha perseverança e você verá que um dia vai acontecer”. Ela é bruxa, porque realmente aconteceu tudo com o que eu sonhava (risos).
Você fala bastante de sua mãe, mas quase nunca do pai. Ele esteve presente na sua vida?
Muito, ele se chama Osvaldo Fernandes (é comerciante em Sete Lagoas) e está separado da minha mãe há uns 13 anos. Meu pai me ensinou a desenhar, ama música, natureza e bichos. Tudo de bom que ele tem, dividiu comigo. Fico feliz de podermos ter trocado nossas experiências. Ele é do interior, sou neta de tropeiros… E tudo que tem a ver com essa vida de campo, de gostar de roça, eu herdei do meu pai.
Paula Fernandes com namorado Henrique do Valle
Foto: Manuela Scarpa/Foto Rio News
Recentemente, um homem foi entrevistado por Sonia Abrão no A Tarde é Sua, da RedeTV!, e disse que gostaria de fazer um exame de DNA por acreditar que pode ser seu pai biológico. Você pretende fazer o teste?
Isso é piada. Ai, meu Deus do céu… Não, não! Pula essa pergunta!
Li que você já teve depressão. Cantar a salvou?
Música sempre foi algo muito importante. Já me perguntaram se escolhi a música, mas penso que eu é que fui escolhida por ela! Aos 8 anos, eu não tinha essa cabeça para definir minha carreira. A música me trouxe tudo que tenho, tudo que sou, que sinto. Não consigo viver sem ela. O universo é movido pela música e pela fé. Eu tenho os dois, então, tenho tudo!
Como cultiva a espiritualidade?
Acredito em Deus, sou devota de Nossa Senhora e de São Judas Tadeu. Inclusive nasci num dia 28 (de agosto), que é dia dele. Creio numa energia maior e faço minhas orações. Cuidar da alma é uma questão de princípios: rezo e faço caridade sempre que possível. Não gosto de falar que ajudo os outros, porque tudo que a gente fizer ainda é pouco.
O casamento rola quando?
Ah, o namoro está ótimo! Estou numa fase de desenvolvimento profissional, com minhas metas próprias, e ele também tem as dele. Então, esse casamento vai acontecer no momento certo para os dois. Não tenho pressa de me casar, já levo vida de casada, como diz minha mãe. É uma questão de confiança, respeito e admiração.
Vocês moram juntos?
Não, ele mora em Brasília (DF) e eu em Belo Horizonte (MG), com meu irmão, minha mãe, uma prima e meu cachorro, o Floquinho.
Quer ter filhos?
Algum dia, sim.
Como cuida do corpo?
Procuro me alimentar bem, não bebo, não fumo, pratico esportes e malho todos os dias, pois adoro.
Você se produz de maneira bem sensual para os shows. Considera-se uma mulher bonita e gostosa?
Acho esse assunto meio complicado porque é relativo, como a beleza. Tem gente que gosta de loira, de morena, de mais gordinha, de mais magrinha… Tem dia que acordo e me acho linda… Tem dia que não acho tanto assim… Quer dizer, depende muito do humor. Sou como qualquer outra mulher…
E tem dia em que acorda se achando mais bonita e gostosa?
(Risos) Que nada, eu sou é muito feliz!
Sente-se realizada também na cama?
A gente tem que falar sobre isso (gargalhadas)? Pula essa pergunta também, vai…
Tem medo de alguma coisa?
De perder a lucidez. Porque sem ela não conseguiria administrar tudo que conquistei. Então, é muito importante manter a cabeça no lugar.
Se sente privilegiada por cantar?
Tudo é a mão de Deus. É um privilégio ser artista. E também uma grande responsabilidade, pois sou formadora de opinião. Mas levo uma vida muito simples. E assim espero honrar sempre o dom que recebi.
Qual é sua maior inspiração para compor?
A minha própria vida. Já passei por tanta coisa, por dificuldades, e vejo que tudo mudou por meu esforço, pelo trabalho em equipe, pelo trabalho em família. Isso me mostra todos os dias que Deus existe na minha vida e que sou capaz de realizar tudo que ele coloca no meu caminho.
Como se vê aos 50, 60 anos?
Vou estar bem-cuidada, não vou ficar esperando as transformações acontecerem no meu corpo sem fazer nada. Eu já me cuido. Adoro correr, nadar, jogar basquete e futebol. Vou ser uma cinquentona, sessentona legal. Alto-astral, cabeça muito boa!
O que lhe dá mais prazer nas horas de lazer?
Eu tenho uma chácara, adoro ir para lá cuidar da minha horta, dos meus cachorros… E, quando vou para a casa do meu namorado, amo andar a cavalo. Por ser uma pessoa pública, não posso sair por aí para me divertir tranquilamente, mas, o que posso desfrutar, faço com muita alegria!
“A música me trouxe tudo que tenho, tudo que sou, que sinto. Não consigo viver sem ela”
Foto: Divulgação