Patricia Pedrosa, diretora em ascensão, conversa sobre carreira e machismo
Diretora em ascensão conta como é sua rotina e como enxerga a presença de mais mulheres na produção de teledramaturgia.
Uma produção não é apenas o que vemos na frente das câmeras, uma multidão trabalha nos bastidores para conseguir realizar aquele projeto com qualidade e no tempo previsto. E, nos últimos anos, a participação feminina tem aumentado inclusive na parte técnica e artística, trazendo uma maior diversidade para a teledramaturgia que, por muitos anos, era basicamente comandada por homens.
Patricia Pedrosa é uma das diretoras em ascensão na Globo. Aos 35 anos, ela já dirigiu atores como Ney Latorraca e Miguel Falabella, participou de grandes produções como ‘A Grande Família‘ e ‘Mister Brau‘ e recentemente esteve responsável por séries que chamaram bastante a atenção pela audiência, ‘Cine Holliúdy‘ e ‘Shippados’ (esta exclusiva do Globoplay).
A oportunidade de trabalhar na Globo começou em 2007, quando foi contratada como estagiária de assistente de direção na ‘Grande Família’, e de lá pra cá Patricia passou por uma série de produções e maior envolvimento nas séries. Em 2011, ela retornou ao popular seriado como diretora e não parou mais. “Eu era assistente de direção e lembro do Pedro Cardoso conversando com o Luís Felipe Sá (diretor geral), falando que achava que eu poderia ser uma boa diretora e que merecia uma chance”, revelou a diretora em uma conversa com o MdeMulher, realizada via e-mail.
Perguntada sobre situações machistas e sobre ser plenamente respeitada no set, Patricia contou que toda mulher já esteve diante de situações machistas, e que muitas podem nem ser notadas pelas pessoas ou pelo agressor, mas que felizmente as pessoas estão prestando mais atenção nisso. A diretora ainda acrescenta a importância de termos mulheres em todas as esferas de criação para termos histórias melhores. “Há diversos assuntos, sensações e experiências que fazem parte do nosso dia a dia e que os homens nem imaginam, e vice-versa”, explicou.
Ela aproveitou também para desmistificar um pouco aquela ideia de ator dando ataque de estrelismo: “Eu diria que de todos que trabalhei até hoje, 5% têm o lado negativo e os outros 95% são parceiros fantásticos”. Após ter cuidado de ‘Cine Holliúdy’ e ‘Shippados’, Patricia já tem um novo projeto à vista: ela cuidará da série ‘Todas as Mulheres do Mundo‘, futura série da Globo baseada nos textos de Domingos Oliveira e escrita por Jorge Furtado.
Confira a conversa com Patricia Pedrosa na íntegra abaixo:
MdeMulher: Primeiramente, gostaria de fazer umas perguntas de ordem prática. Quantos anos você tinha quando dirigiu ‘A Grande Família’? Qual é a sua formação? Quais foram os seus trabalhos anteriores à Globo?
Patricia Pedrosa: Desde pequena, eu sempre estudei música, dança e teatro. Fiz High School numa escola de Artes Performáticas nos Estados Unidos, graduação em Música na UNIRIO e me formei em Cinema na UFF e Artes Cênicas na CAL. Dava aulas de piano e teoria musical antes de trabalhar na televisão. Era compositora e queria ser regente. Entrei na TV Globo através do Estagiar. Meu pai havia acabado de falecer e eu precisava arrumar um emprego fixo. Me inscrevi na seleção e passei. Comecei a trabalhar como estagiária de assistente de direção na ‘Grande Família’ em 2007. Fui promovida a assistente de direção na novela ‘A Favorita’, em 2008, e comecei a dirigir em 2011, quando voltei para ‘A Grande Família’. De lá pra cá, dirigi ‘Chapa Quente’, assinei a direção geral de ‘Mister Brau’ e de ‘A Fórmula’, escrevi a quarta temporada de ‘Mister Brau’ e assino a direção artística de ‘Cine Holliúdy’ e de ‘Shippados’.
MdeMulher: Você era muito jovem quando dirigiu ‘A Grande Família’ e sua carreira ascendeu na Globo a partir disso. Como chegou a esse trabalho e como foi ter essa vivência?
Patricia Pedrosa: Eu tinha 27 anos quando dirigi minha primeira cena em ‘A Grande Família’. Era uma cena de estúdio com Agostinho, Bebel e Beiçola. Eu era assistente de direção e lembro do Pedro Cardoso conversando com o Luís Felipe Sá (diretor geral), falando que achava que eu poderia ser uma boa diretora e que merecia uma chance. Na época, todos me apoiaram muito. As cenas foram funcionando e eu fui dirigindo cada vez mais. No ano seguinte, fui apresentada ao Guel Arraes. Trabalhamos um período juntos conceituando a nova temporada do programa. Foi aí que comecei a dirigir episódios inteiros e fui promovida a diretora da série. Não poderia ter havido uma escola melhor.
MdeMulher: Como é ser uma mulher de 30 e poucos anos na sua posição? Você se sente plenamente respeitada no set? Você já vivenciou alguma situação machista no trabalho (ou até mesmo na faculdade)?
Patricia Pedrosa: Toda a mulher se depara em diversos momentos da vida com situações machistas. Algumas são muito claras e graves, mas muitas delas podem nem ser percebidas pelo agressor e pelas pessoas à volta. Noto que há, cada vez mais, uma atenção geral voltada para isso, uma evolução comportamental positiva.
Eu sempre encontrei pessoas muito íntegras e respeitosas na minha trajetória profissional, que me inspiraram na construção de um ambiente de criação acolhedor, fruto de uma liderança doce, com ênfase no trabalho coletivo e nas parcerias afetuosas. Essa equação, quando bem realizada, promove o respeito mútuo dos departamentos envolvidos.
MdeMulher: A gente admira demais o trabalho dos grandes atores da Globo, mas também sabemos que existe muito ego e estrelismo nesse meio. Como você lida com essa questão?
Patricia Pedrosa: Fala-se muito dos atores que dão “ataque de estrelismo” e pouco daqueles que são profissionais dedicados, artistas encantadores. Eu diria que de todos que trabalhei até hoje, 5% têm o lado negativo e os outros 95% são parceiros fantásticos. Eu me apego a esses fantásticos. Me apego mesmo. Trago pra perto, proponho desafios, estimulo a criação coletiva e aprendo junto. Adoro ator dedicado, obsessivo, estudioso, que pede pra repetir mil vezes a cena até ficar do jeito que a gente goste e, comprovadamente, eles são a maioria. É com esses que procuro sempre trabalhar.
MdeMulher: Você acha que é importante ter mulheres na direção audiovisual e nas mesas de roteiro? Por quê?
Patricia Pedrosa: É importante que nós mulheres estejamos representadas em todas as esferas da criação para que possamos, através da nossa experiência, trazer fidelidade para as histórias. Há diversos assuntos, sensações e experiências que fazem parte do nosso dia a dia e que os homens nem imaginam, e vice-versa. Por isso, é fundamental que tenhamos grupos de criadores de diversos gêneros, raças e realidades sociais. É fundamental que haja pluralidade na realização da dramaturgia para que ela reproduza de forma mais realista a nossa sociedade.
MdeMulher: Como você vê o cenário para as mulheres na direção de TV e cinema? E qual é o conselho que você daria às minas que querem seguir a mesma carreira que você?
Patricia Pedrosa: Quando comecei a dirigir, havia pouquíssimas mulheres. Hoje, com alegria, vejo esse número crescer cada vez mais.
O estabelecimento de boas parcerias costuma trazer bons frutos. Procure trabalhar com criadores que tenham valores éticos e artísticos parecidos com os seus. Uma coisa que sempre fiz e que deu certo foi me preparar com antecedência para o próximo passo que gostaria de dar. Por exemplo, quando eu era assistente de direção chegava no set com todas as cenas do dia decupadas como se eu fosse a diretora. Há coisas que você só aprende quando se coloca no lugar do outro.
MdeMulher: Quais são os seus projetos futuros? O que você almeja alcançar na profissão?
Patricia Pedrosa: Estou na pré-produção de Todas as Mulheres do Mundo, uma série da Globo, baseada nos textos do Domingos Oliveira e escrita por Jorge Furtado. Entre um projeto e outro, busco um tempo para filmar um longa.
Meu maior objetivo é ser feliz a cada projeto. Parece piegas, mas é o meu lema diário. Passo mais tempo trabalhando do que com a minha família. Se não for pra ser feliz, fica impraticável. Não quero começar a aproveitar a vida na aposentadoria. O momento que importa é o agora. Por isso, sou muito intensa em tudo que faço. Quando estou no trabalho, estou 100% lá, quando estou com a minha filha, estou 100% com ela. E por aí vai. Também me importo muito em saber se as pessoas que estão na minha equipe estão felizes, se está tudo indo bem na vida delas. Acredito muito que a satisfação do grupo proporciona um resultado leve e solar. E é isso que eu busco a cada trabalho.