Padre Marcelo fala sobre violência, funk, TV e conta sobre sua doença
Com problemas de coração, ele conta como se trata e mostra que continua ativo e muito crítico
Padre Marcelo no Vaticano, na Itália,
em 2004. Ele não pode mais viajar
para o exterior por recomendação médica
Foto: João Santos
Usando uma batina tradicional e com a serenidade de sempre, o Padre Marcelo Rossi recebeu a reportagem de tititi na terça, 24, na Cúria Metropolitana de Santo Amaro, em São Paulo, para contar como foi feito seu mais novo DVD, o quinto de sua carreira, que tem como tema a violência e a paz. Nesta entrevista exclusiva, ele falou também de problemas sociais, de sua saúde, do padre cantor Fábio de Melo, de funk, aborto e do sensacionalismo na TV, entre outros assuntos polêmicos. Acompanhe!
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tititi – Como o DVD foi gravado?
Padre Marcelo Rossi – Ele faz parte do projeto Paz Sim, Violência Não. Já é o segundo DVD do grande show que fizemos em 21 de abril de 2008 com 20 artistas e 3 milhões de pessoas no Autódromo de Interlagos. Aquele foi realmente um momento muito especial.
O que o senhor destaca de mais emocionante neste novo trabalho?
Tem o Serjão (Sérgio Reis), que era vizinho da minha família e me pegou no colo quando eu era pequeno… Maurício Manieri me surpreendeu, cantando com uma entrega total. Acompanhar Agnaldo Rayol em Ave Maria e Alcione em Nossa Senhora também foi maravilhoso. E é incrível rever o público em silêncio total para ouvir o maestro João Carlos Martins, um grande exemplo de superação, um músico esplêndido, que, mesmo depois de sofrer uma paralisia na mão, estava ali tocando piano só com três dedos.
Foi um grande evento da música pela paz.
Isso mesmo, a música é capaz de ajudar contra a violência. Desde que tenha um conteúdo sadio. Mas hoje há canções na mídia que levam para o pior.
O senhor está falando diretamente do funk?
Não sou contra o funk, mas contra o que algumas letras propõem, inclusive em outros ritmos. Em uma música de uma banda inglesa, por exemplo, os cantores dizem “Se mate, se mate… Esse mundo não vale a pena”. Em cada cidade em que eles faziam shows, aconteciam dois, três suicídios entre os jovens. A música tem poder, pode salvar ou criar monstrinhos, trazer problemas muito complicados.
Na sua opinião, qual a maior causa da violência?
A falta de vida espiritual. Será que estamos criando nossas crianças à imagem e semelhança do Supremo? Os pais precisam ensinar seus filhos a procurar o caminho de Deus.
O senhor, que é corintiano, acredita que há como acabar com as guerras nos estádios?
Sim, há medidas a serem tomadas. E os próprios jogadores precisam começar um movimento de pacificação nos estádios. Alguns incitam o conflito entre os torcedores. Não podem chegar pra torcida do outro time e fazer sinal de silêncio… (o sinal é usado para debochar do adversário). Outra medida que pode ser muito benéfica é a Lei Seca nos estádios, com bafômetro. Na maioria das brigas e crimes, os infratores estão bêbados ou drogados.
O que tem a dizer aos jovens dependentes de álcool e drogas e a seus familiares?
Falo isto numa música: “Você, que se encontra na contra-mão, entre na mão, na mão de Deus e tenha certeza de que você vai crescer”. Mantenham a fé e a esperança.
O senhor tem alguma crítica à televisão atual?
O que vale hoje é a audiência imediata. Com isso, as emissoras sacrificam o conteúdo. Não é porque sou parceiro da TV Globo, mas ela tem uma triagem, corta cenas mais pesadas. Outras pegam um ato de violência e exploram à exaustão. Foi assim no caso Isabella, no ano passado, e em outros.
O pai e a madrasta de Isabella deverão ser julgados em breve e, possivelmente, vão a júri popular. O que o senhor espera que aconteça?
Desejo que a justiça seja feita! Leia na Bíblia, Mateus, capítulo 18: “Ai daqueles que mexerem com algum dos meus pequeninos. Melhor seria amarrar uma pedra de moinho e se jogar no mar…”
O que mais o preocupa na sociedade atualmente?
Peço aos pais e educadores: por favor, tomem cuidado com as nossas crianças. Fiquem atentos se o filho ou o aluno mudou o comportamento, se está calado demais. Conversem com ele, com carinho. Insistam, pois ele pode estar sendo vítima de molestadores.
O senhor concorda com a excomunhão da equipe médica de Recife (PE) que no início do mês fez o aborto numa menina de 9 anos, grávida de gêmeos, depois de ter sido estuprada pelo padrasto?
O Código de Direito Canônico é muito claro. O aborto é crime passivo de excomunhão imediata. Não quero julgar, prefiro não comentar mais esse assunto. E orar por misericórdia para esse padrasto.