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Nunca se falou tanto sobre aborto nas novelas quanto em 2019

Novelas e séries da Globo e da Record levantaram a questão do direito ao aborto legal e dos danos que o aborto clandestino causa às mulheres.

Por Fábio Garcia
Atualizado em 22 abr 2024, 08h38 - Publicado em 6 nov 2019, 17h45
 (Globo/ Montagem: MdeMulher/Reprodução)
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As produções brasileiras para televisão, como séries e novelas, são conhecidas não só pela qualidade de texto e de interpretação, mas também pela discussão de temas polêmicos. Também conhecidos como merchandising sociais, muitas novelas colocam em suas histórias tópicos para serem debatidos pela população que acompanha a história, e em muitos casos oferece uma boa ajuda para compreender o tema.

Recentemente, o aborto apareceu em destaque na novela ‘Bom Sucesso‘ e na série ‘Segunda Chamada‘, da Rede Globo, mas outras produções ajudaram a tornar este um dos assuntos mais debatidos do ano. Felizmente.

Debatendo o aborto na televisão

A novela ‘Bom Sucesso’ foi a mais bem sucedida no debate do assunto. Na trama, a personagem Nana (Fabíula Nascimento) acaba engravidando após seu marido, o vilão Diogo (Armando Babaioff), ter substituído seu anticoncepcional por um remédio falso. Para complicar ainda mais essa situação temerosa, Nana se envolve com o colega de trabalho Mario (Lúcio Mauro Filho) e, por alguns capítulos, ficou em dúvida se deveria levar para frente essa gravidez, afinal nem mesmo sabia quem poderia ser o pai.

Nana fica grávida em Bom Sucesso
(Globo/Reprodução)

A forma como os autores Rosane Svartman e Paulo Halm conduziram a discussão sobre o aborto foi incrível. Eles fizeram com que Nana ouvisse a opinião de várias pessoas, de realidades diversas, e cada uma delas apresentava uma opinião importante sobre interromper – ou não – a gravidez. Um ponto a ser levado em conta é que Nana se posicionava contra o aborto em si, mas era a favor de deixar a decisão nas mãos da mulher. Passada essa dúvida, a personagem decidiu não abortar e continuará com sua gravidez.

Já a novela ‘Malhação – Toda Forma de Amar‘ abordou o assunto do aborto em uma história paralela à trama principal. Uma das personagens principais da novela é Lígia (Paloma Duarte), mãe adotiva da filha perdida da protagonista Rita (Alanis Guillen). Mas a história do aborto aconteceu no exercício de sua profissão como ginecologista. Em um determinado capítulo, uma mulher deu entrada na emergência da rede pública por ter sofrido sequelas de um aborto clandestino, e a enfermeira havia decidido denunciar a paciente porque aborto é contra a lei.

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Com isso, o tema foi discutido sob um outro olhar que nenhuma outra produção havia feito até então: a questão ética a respeito do aborto e qual é a função de um profissional da saúde diante uma situação dessas. A julgar por alguns merchandisings sociais falhos escritos pelo autor da novela em temporadas anteriores, é até surpreendente como o tema foi debatido pela novela teen.

A mulher como vítima

Edilene morre em A Dona do Pedaço
(Globo/Reprodução)

Mesmo com uma abordagem muito equivocada de temas seríssimos, a novela ‘A Dona do Pedaço‘ explorou um pouco o aborto no começo da segunda fase ao mostrar a personagem Edilene (Cynthia Senek) buscando uma forma de interromper sua gravidez, fruto de uma relação extraconjugal com o patrão Otávio (José de Abreu). O resultado foi fatal.

Por mais que a repercussão posterior na trama tenha sido absurda (com o pai de Edilene procurando justiceiros para se vingar da filha de Otávio, a influencer Vivi Guedes), esse episódio mostrou dois pontos importantíssimos da discussão: a influência dos homens e quem, no final das contas, são as maiores vítimas do aborto clandestino: as mulheres.

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Edilene era uma mulher pobre e não havia qualquer condição de manter uma relação com Otávio, que já estava em um casamento com Beatriz (Natália do Vale). Ao saber da criança, Otávio ordenou que a funcionária abortasse para que não lhe complicasse a vida, e assim  Edilene procurou uma clínica clandestina e acabou morrendo no processo.

Jandira morre em Topíssima
(RecordTV/Reprodução)

Um homem ordenando que a mulher interrompa a gravidez também foi tema da novela ‘Topíssima’, exibida pela Record. A história da garota que viu numa gravidez com homem rico uma oportunidade de subir de vida acabou com a morte da mesma durante o procedimento. Aqui nesta novela temos uma forte tendência religiosa do texto, até porque a novela é supervisionada por Cristiane Cardoso (filha do bispo Edir Macedo, dono da Record), mas a autora Christiane Fridmann conseguiu discutir o assunto no limite do possível.

A maior vítima do aborto clandestino é a mulher pobre

Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, realizada em 2016, o procedimento é feito por mulheres dos mais variados perfis. Não importa classe social, nível de escolaridade, religião, raça… o aborto é uma realidade no Brasil a ponto de, segundo a pesquisa, uma em cada cinco mulheres até 40 anos já ter realizado um aborto na vida. Embora uma parcela considerável das mulheres já tenha passado por isso, o fato do procedimento ser ilegal acaba prejudicando as mulheres com menores condições financeiras.

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Para uma mulher rica, como a Nana de ‘Bom Sucesso’, realizar um aborto seria fácil. Ela teria condições financeiras de procurar uma clínica clandestina de qualidade no Brasil, ou mesmo realizar a operação no exterior. Jorginho (Daniel Warren), ex-marido da personagem, mora no exterior e sugeriu que ela viajasse para interromper a gravidez na Inglaterra, onde o aborto é permitido. Ou seja, deixando de lado a questão moral, os personagens mostraram que o aborto poderia ser visto também como uma questão jurídica de fácil solução: basta uma viagem para a Europa para fazer tudo dentro da lei.

Mas… e quem não pode viajar?

Rita em Segunda Chamada
(Globo/Divulgação)

Uma das histórias mais impactantes da série ‘Segunda Chamada‘ é a de Rita (Nanda Costa), uma das alunas da escola. Mãe de três filhos, ela estava há muito tempo aguardando na fila do SUS para fazer uma laqueadura e evitar novas gestações, afinal a personagem tinha um problema de saúde que a impedia de usar anticoncepcional. Na hora da operação, foi constatado que ela não poderia fazer a ligadura das trompas porque ela estava grávida do quarto filho.

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O desespero levou Rita a procurar uma forma clandestina de abortar, e o resultado são graves sequelas. Mesmo ferida, a aluna tem receio de procurar o hospital pois pode ser denunciada (como vimos em ‘Malhação – Toda Forma de Amar’), mas acaba convencida pelos professores. Infelizmente a personagem não resiste e vem a óbito, em uma cena que causou fortes emoções no público ao ser exibida na noite desta última terça-feira (5).

“É sempre muito difícil você lidar com personagens que têm questões que você sabe que tem muita gente passando por isso”, explicou Nanda Costa para o MdeMulher, durante a festa de lançamento da novela ‘Amor de Mãe‘. A atriz explorou o fato da personagem, de baixa renda, ter dificuldade de sustentar três crianças e que vê no ensino uma oportunidade para melhorar de vida. Porém, a realidade da Rita mostra como as mulheres mais prejudicadas nessa questão do aborto são as que não podem, tal qual a Nana de ‘Bom Sucesso’, viajar para Londres por causa de uma operação.

Para a intérprete da personagem, essa quantidade de discussões a respeito do aborto em novelas e séries é extremamente positiva: “Eu acho muito importante a gente falar sobre isso, ou pelo menos refletir sobre essa questão que é tão polêmica”, explicou. E que venham mais novelas trazer esse assunto fundamental.

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