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“Não tenho medo de me arriscar”, diz Anitta

“As pessoas têm medo de errar. O que pode acontecer de tão grave? O mundo não vai acabar"

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
1 out 2018, 16h22

Depois de dias de céu nublado, o sol apareceu no Rio de Janeiro. No quintal da casa, na Barra da Tijuca, a roupa lavada secava em três varais de chão. Embora a piscina estivesse vazia, o som ligado tocava uma sequência do rádio com as músicas mais pedidas, abafado pelo barulho da reforma no terreno vizinho. Pareceria uma casa qualquer, não fosse a geladeira da churrasqueira – o eletrodoméstico era todo envelopado com fotos do rosto de Anitta.

“Foi um presente de amigos”, apontou a cantora encarando seus retratos. “Fazemos muita festa e churrasco aqui. Eles vêm, mesmo quando eu não estou, para colocar a cerveja para gelar. Um dia cheguei e tinha essa surpresa.” Enquanto Anitta falava, uma pessoa retocava seu cabelo, outra lhe colocava brincos.

Nesse dia, CLAUDIA fotografava sua primeira capa com a maior cantora brasileira da atualidade. Apesar do título, Anitta não é de cerimônias. Recebeu a equipe descalça e com sorrisão no rosto. Logo surgiram na mesa da sala de jantar dois bolos e uma bandeja com brigadeiros e beijinhos da festa do pijama que havia dado no dia anterior.

A brecha na agenda de Anitta é rara. Ela, que sempre sonhou em ser cantora famosa, hoje emenda shows pelo Brasil com compromissos internacionais, a produção de uma série para a Netflix, uma animação infantil, fora as inúmeras campanhas publicitárias. Nada mau para a menina que ia aos bailes funk do grupo Furacão 2000, no Rio de Janeiro, atrás de câmeras e reconhecimento.

“Como eu não tinha dinheiro para beber, comprava uma água e dançava. Fiz amizade com o DJ, pedia músicas. E procurava os câmeras que registravam o baile para aparecer nas filmagens.” Em 2010, publicou no Orkut uma gravação amadora cantando. Os amigos do Furacão viram e levaram ao diretor musical da gravadora, que fechou contrato com Anitta. De lá para cá, a ascensão foi meteórica. “Alcancei, com 25 anos, o que imaginava ter com 35, 40.”

Rotina trilingue

A trajetória inclui uma expansão internacional ousada e bem-sucedida. A empreitada estrangeira começou em 2017, com Paradinha, o primeiro hit que não era cantado em português. Antes disso, vídeos de pessoas do mundo todo dançando Sua Cara tinham viralizado, mas Anitta, modesta, achou que pudesse ser um golpe de sorte.

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“Estourar lá fora com uma música já aconteceu com muita gente; então não acreditei a princípio.” Aí vieram Downtown, Vai Malandra e, mais recentemente, Medicina, que teve em um único dia 10 milhões de visualizações no YouTube – a artista já bateu 2 bilhões de views em seu canal.

Os números são resultado de uma estratégia inteligente criada por Anitta. A começar pelas aulas de espanhol, que garantiram fluência na língua e evitaram vexames ao cantar as letras com perfeição. “Fui para a Espanha quando Sua Cara estava bombando, e a intérprete que me acompanhava tinha vergonha de falar na frente das câmeras. Fiquei completamente perdida”, diverte-se.

“Voltei e comecei a estudar, mas só fui até a terceira lição do livro. Ficava ouvindo letras de músicas e vendo séries e filmes em espanhol.” O inglês é vitória da mãe, Miriam, que obrigou a menina a fazer aulas mesmo sem poder pagar.

“Ela enrolava a escola, parcelava uma mensalidade em mil vezes, mas não me deixava faltar. Depois, graças a Deus, eu mesma consegui pagar e hoje agradeço a ela pela insistência.” Miriam é a maior conselheira e melhor amiga de Anitta. “Sempre conversou, me instruiu. Dizia que eu podia fazer o que quisesse, desde que não desrespeitasse ninguém.”

Braço direito

Fora a mãe, Anitta tem um conselheiro de carreira inusitado. “Ligo para o J. Balvin”, diz com naturalidade. O colombiano foi o mais ouvido do mundo na plataforma Spotify este ano e cantou com a brasileira Downtown e Machika, singles lançados por ela em 2017 e 2018, respectivamente. Os telefonemas podem durar horas. “Temos sintonia. Às vezes estou triste, e ele me procura para conversar sem saber.”

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A amizade surgiu por meio das redes sociais. Anitta enviou uma mensagem no Instagram do astro. “Também tentei com o Drake, mas ele não me respondeu. Ainda.” Se o rapper americano não deu atenção para Anitta (ainda), Pharrell Williams, cantor e produtor de Happy, que tocou à exaustão por aqui, já caiu nos encantos da carioca. “Outro dia, estava falando com ele, e o J. Balvin ligou.”

Mesmo com toda essa grandeza, há quem deixe Anitta tímida: seu sonho é conhecer Mariah Carey. “Por que você não manda uma mensagem no Instagram?”, pergunto. “Tenho vergonha. Ela é a Mariah.” É a diva da diva, a artista que Anitta escuta quando precisa de acolhimento ou de animação. Apesar de não ter coragem de enviar um recado, deixa comentários nas fotos do Instagram de Mariah: “Rainha”, “Te amo”. Fã mesmo.

Origens permanentes

Larissa de Macedo Machado virou Anitta inspirada na protagonista da minissérie Presença de Anita, exibida na Globo, em 2001. Anita reunia várias mulheres na mesma personagem. E com isso Larissa se identificou. “Eu sou 8 e 80, quente e fria, emotiva e racional.” Só a paixão pela música é constante. Aos 7 anos, entrou para o coral da igreja que os avós frequentavam.

Moradores de Honório Gurgel, subúrbio do Rio, dividia a casa simples com a mãe e o irmão. “Era do tamanho do meu quarto hoje”, descreve, sentada em frente à penteadeira branca que abriga seus perfumes preferidos e também a fragrância que leva seu nome, lançada em 2016.

Durante a adolescência, acumulou ao sonho da carreira artística a responsabilidade de ter um bom currículo. Completou o curso técnico em administração e passou no processo seletivo para ser estagiária na mineradora multinacional Vale do Rio Doce.

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Mesmo com oferta de contratação, deixou o escritório para trás. “Não tinha paixão e, para ser super em qualquer área, precisa amar, se entregar”, justifica. A aposta, apesar de arriscada, deu certo. Em 2013, tornou–se conhecida nacionalmente com o Show das Poderosas, a turnê mais lucrativa do país naquele ano.

Anitta é intuitiva e atenta. Ela se mantém atualizada pelas redes sociais, onde soma uma legião de seguidores. Só no Instagram são 30 milhões, mais do que Madonna. No Twitter, mais 7 milhões. Conta com essas conexões para extrapolar o alcance de suas estratégias, a exemplo do Projeto Xeque-Mate, anunciado em setembro de 2017. Prometeu que lançaria um clipe por mês até o fim do ano, e assim foi O objetivo era atrair a atenção para a carreira internacional, mas sem deixar os fãs brasileiros de fora.

“Tenho muitas ideias. Às vezes, estou andando e pá! Preciso dividir com alguém; senão não consigo dormir”, conta. “Quando pensei no Xeque-Mate, estava no estúdio e disse: ‘Quão incrível seria se fizéssemos isso!’. A equipe ficou em silêncio, gelada, provavelmente pensando que eu estava maluca. Já tinha compromisso marcado, patrocinador agendado para gravar outro clipe, mas cancelamos tudo e investimos. Nunca sugiro uma coisa impossível ou que vai me prejudicar.” Uma de suas assistentes, indignada, gravou um áudio dizendo que era um absurdo. Anitta usou a fala mixada em um funk, fez todo mundo rir no momento de tensão.

Ela é leve, bem-humorada e põe em prática uma gestão moderna. Os funcionários passam quatro ou cinco meses em treinamento com a própria cantora. “Depois, confio de olhos fechados. As pessoas precisam ser felizes. Não tem essa de ‘eu pago e pronto’.”

A entrevista foi interrompida pela ligação de seu segurança, que estava prestes a virar pai. Anitta mandou, de surpresa, vários itens de decoração para o quarto do bebê. “Ele cuida de mim que nem filha. Tenho certeza de que será um paizão”, falou para a esposa dele ao telefone. “Um grande líder dá autonomia. É para eles arrasarem estando comigo ou não”, continua, retomando a conversa. Ela gosta de se arriscar.

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“As pessoas têm medo de errar. O que pode acontecer de tão grave? O mundo não vai acabar. Repito isso para os fãs.” E críticas deles não faltam. Em março, os seguidores pediram que ela se posicionasse após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Quando postou um texto, dias depois do ocorrido, foi acusada de ser genérica. Apagou tudo e deixou apenas um emoji de um coração partido. “Tento lembrar que os outros não sabem o que é estar no meu lugar. Então lido com as críticas com tranquilidade.” Mas não é de ficar calada.

No mesmo mês, anunciou que gravaria o clipe de Indecente durante sua festa de aniversário e faria uma transmissão ao vivo. Atrasou duas horas, e os seguidores disseram que não passava de uma fraude. Ela justificou que a demora ocorrera por problemas com a internet. “No começo, ficava abalada. Hoje, peço para me falarem quando eu piro. Chega uma hora que é tanta gente elogiando que você se sente acima do bem e do mal. Não quero ser assim, prefiro estar evoluindo sempre.”

Vida offline

Thiago Magalhães, marido da carioca, é avesso à fama. O empresário do ramo de turismo e eventos acompanha Anitta sempre que pode em shows, mas evita aparecer. Os dois mantiveram o relacionamento em segredo por três meses. Thiago estava a trabalho na plateia do programa Música Boa ao Vivo, que ela apresentava no Multishow. “Quando vi, pensei: ‘Pelo amor de Deus, quem é esse homem?’.”

Ela pediu que entregassem a ele um papel com seu telefone. Thiago não ligou nem mandou mensagem. Aflita, Anitta acionou os amigos em comum. “Fala que ele tem que me ligar”, conta. Thiago não ousou desobedecer e se apaixonou. Ele faz questão de chamá-la de Larissa. “Sou que nem areia movediça. Quanto mais ele se mexe, mais se apaixona”, brinca.

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Em menos de um ano, casaram-se em uma cerimônia na Amazônia – Anitta tinha 24 anos [atualização: os dois anunciaram a separação]. “Eu sou impulsiva, mas só com coisas que têm volta. Não tomaria a decisão de ser mãe na mesma velocidade.” Esse plano ainda demora. E nem é a carreira que a impede, mas o desejo de amadurecer mais. Até lá, cuida dos cinco cachorros: Alfredo, Olavo, Plínio, Serafim e Tobias. Os dois últimos ela adotou do Instituto Luisa Mell. Eles ficam soltos pela casa, que é confortável e aconchegante.

Sua cama estava cheia de roupas dobradas no dia da foto. Se está cansada e com preguiça de guardar, só empurra para outro lugar. “Sou bagunceira. Não podia vir perfeita. Quando o Thiago e minha mãe reclamam, listo minhas qualidades.” Entre elas está a habilidade na cozinha. Inspirada, faz lasanha, pizza, pudim, mas no dia a dia tem uma chef que prepara um cardápio equilibrado.

O que mantém o pé de Anitta no chão são os amigos de infância. Para eles, não existe a estrela, só a menina que topava andar três bairros para chegar em casa quando alguém estava sem dinheiro para o transporte público ou que ajudava a dar um calote na van. “Ninguém puxa meu saco.” Não que ela não tenha amigos famosos. No Instagram, registra encontros, mas jura que só constrói laços com quem sente que é verdadeiro. “Eu abomino mentiras”, enfatiza.

Mesmo com o público, ela prefere a sinceridade. Logo no começo da carreira, chocou pela naturalidade com que falou de suas plásticas. “Já estive do outro lado; sei quão cruel é você achar impossível alcançar algo. Essa coisa de fingir perfeição nos prejudica até politicamente. Quando votamos, exigimos o perfeito. Como não existe, elegemos o que melhor finge.”

O futuro é certo

“Rolou uma polêmica porque falei que não pedia nada para Deus. O que mais eu posso pedir? Deus vai falar: ‘Garota, se manca!’.” A verdade é que ela foi mais longe do que imaginava, mas não consegue ficar parada. Topou desenvolver uma série com a Netflix, Vai Anitta.

Prevista para estrear este semestre, é uma mistura de documentário e reality que mostra os bastidores do Projeto Xeque-Mate e vai entregar até uma espiadinha da cerimônia do seu casamento. A cantora quer que o público goste tanto que exija uma segunda temporada. Com esmero, também se dedica ao desenho Clube da Anittinha. “Sempre achei importante investirmos em projetos de educação para as crianças”, explica.

Cada episódio tem uma lição, como respeito à natureza ou a importância do perdão, e uma música composta para a ocasião. Sem investidor, ela mesma bancou a ideia. Contratou uma empresa que fez as animações, aprovou o desenho, participou da roteirização. Pelo celular, dubla a voz da protagonista. Pediu a opinião dos filhos dos amigos, como Titi, de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, e Eva, de Angélica e Luciano Huck. A estreia está prevista para outubro nos canais Gloob e Gloobinho.

Anitta é empresária dela mesma, coordena equipes diferentes pelo país e agencia artistas iniciantes na produtora que abriu com o irmão – tudo pelo smartphone. Nos últimos seis anos, Larissa de Macedo provou que não seria uma sensação passageira. Ela revolucionou a indústria musical e desafiou seus colegas com ideias criativas e inovadoras. Mas, quando chega em casa, gosta de colocar o pijama e assistir a filmes e séries. “Deito à noite e penso: ‘Eu tenho tudo que quero’.”

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