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Marcos Palmeira: “Fui tachado de playboy carioca, galã rural, tudo”

De volta ao horário nobre, o ator Marcos Palmeira é defensor dos orgânicos e de uma vida sustentável

Por Pedro Henrique França (colaborador)
Atualizado em 22 out 2016, 18h33 - Publicado em 28 mar 2015, 07h28
Daryan Dornelles
Daryan Dornelles (/)
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É um namoro antigo. Quem conhece um pouco da história do ator Marcos Palmeira logo entende por que ele virou defensor de causas verdes e adepto convicto dos alimentos orgânicos, a ponto de querer produzi-los. Quando criança, esse carioca da gema gostava mesmo era de passar férias na fazenda do avô materno, em Itororó, na Bahia, onde podia desfrutar a vida na roça e se fartar de brincadeiras ao ar livre. Aos 11 anos, foi, feliz da vida, embrenhar-se na floresta com o pai, o cineasta Zelito Viana, durante as filmagens do documentário Terra dos Índios. De tão entusiasmado com a experiência, quis retornar ao mesmo cenário aos 16 anos, para viver dois meses em uma aldeia. Na volta à cidade grande, conseguiu o primeiro emprego, não por mera coincidência, no Museu do Índio do Rio de Janeiro. “Eu estava em formação e tudo havia me marcado muito. Conheci índios que nunca tinham visto um homem branco”, conta o ator, que entra no ar neste mês no horário nobre, em Babilônia, nova novela das 9 da Globo.

Como se não bastassem os lances da sua biografia verde até aqui, um dos maiores sucessos do ator em seus primeiros anos de televisão foi em uma espécie de ecotrama, a novela Pantanal, exibida em 1990 pela extinta TV Manchete. Emendou em Amazônia, na mesma emissora, depois em Renascer, saga rural de 1992 que marcou o retorno à Globo, na qual ele tinha estreado nas telinhas e de onde não saiu mais. Já era ator sacramentado quando decidiu ter, na vida real, a própria fazenda. Ao comprar terras produtivas, na serra fluminense, espantou-se ao notar que os funcionários se recusavam a comer o que plantavam. “Eles diziam que aquela comida tinha veneno, referindo-se ao agrotóxico usado.” Foi a deixa para esse adepto da medicina antroposófica (abordagem holística da saúde que oferece tratamentos alternativos aos convencionais) transformar em negócio o interesse por uma dieta de qualidade. Há dois anos, o ator até abriu, no bairro do Leblon, o Armazém das Palmeiras, onde vende sua produção socialmente justa e ecologicamente correta. A clientela inclui colegas globais como Dira Paes: “Ele foi o primeiro a me falar de orgânicos. Está bem à frente do seu tempo”.

Palmeira, no entanto, jura que não é xiita com o que come, pois admite uma ou outra escapadela. “Eu diria que 90% da minha alimentação é feita em casa, mas não sou antissocial”, resume. E afirma que também não é rigoroso com a filha, Júlia, de 7 anos, fruto do relacionamento com a diretora de TV Amora Mautner. “Não a proíbo de comer nada. Ela só não toma refrigerante nem come fast-food porque não gosta”, garante. “Claro que acabo sendo exemplo, mas estou mais preocupado em ensinar ferramentas civilizatórias e me certificar de que ela é feliz, educada e ética.” A meta como pai nada tem a ver com seu novo personagem, Aderbal Pimenta, de quem a ética passa longe: ele é um político corrupto e ambicioso. Babilônia promove o reencontro de Palmeira com o autor Gilberto Braga e o diretor Dennis Carvalho, que integraram também a equipe de Vale Tudo, outro retumbante sucesso do início da carreira televisiva do ator, antes mesmo de Pantanal. “Estou envaidecido de trabalhar com os dois de novo. Eles querem aquela pegada de questionamento da honestidade que tinha em Vale Tudo, mas agora sem o corrupto dar uma banana no final, pois a realidade é outra e estamos vendo que os culpados são presos. É um desafio e tanto, por mais clichê que isso possa soar”, adianta Palmeira, que diz sair do sério ao saber de escândalos políticos.

“O Marcos é um ator versátil”, elogia o diretor Dennis Carvalho. Se Palmeira teve a vocação verde cultivada desde cedo, pode-se dizer que já nasceu com sangue de artista correndo nas veias, quase predestinado à profissão que escolheu. Do mesmo modo que o pai, a mãe, Vera de Paula, fez carreira no cinema – e a irmã, Betsa de Paula, idem. Ele ainda é sobrinho do humorista Chico Anysio, primo do ator Bruno Mazzeo. Assim, não pareceu estranho quando o adolescente Marcos Palmeira decidiu fazer um curso de teatro. Já são 35 anos de estrada. Começou no palco e no cinema, resistindo à TV até não poder mais. Cedeu em 1987, ao fazer participação em Mandala. “Não pensava em trabalhar em novela das 8 (hoje chamada ‘das 9’) ou em ser galã”, ressalta.

Mas ganhar o título foi inevitável. “No começo, fez até bem para o ego. E minha mãe ficava orgulhosíssima”, lembra. “Fui tachado de playboy carioca, galã rural, tudo. Não ligo, porque não me deixo engessar. Meus personagens incluem feiúra e suor.” E eles pegam algo mais emprestado do ator, segundo a colega Dira Paes: “O Marquinhos tem um olhar penetrante e um sorriso que é marca registrada”, diz, adicionando o cavalheirismo ao rol de elogios. A serenidade para lidar com os altos e baixos poderia ser outra qualidade na lista. Nos primeiros tempos de TV, se Vale Tudo e Pantanal viraram verdadeiros fenômenos, Amazônia, na sequência – justamente a trama que deu chance de encarnar o primeiro protagonista em novelas –, naufragou. Mas ele sabe que, depois de cair, basta levantar: “Já tive sucesso enorme e fracasso. O que me guia sempre é o amor com que faço aquilo no dia a dia. Preciso manter o tesão sexual, espiritual e profissional”.

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Até por isso, não é de ficar parado só esperando a próxima oportunidade. Procura fazer sua parte. Há 12 anos ininterruptos, frequenta sessões de análise. E busca constantemente desafios. Depois de Belíssima, em 2005, que tinha sido seu último papel no horário nobre da Globo, preferiu dedicar-se a especiais e séries, como Casos e Acasos e, mais recentemente, Canto da Sereia. Pelo papel em Mandrake, do canal fechado HBO, chegou a ser indicado a um Emmy. No período, até fez duas novelas, mas ambas das 7. Sentiu foi grande necessidade de mergulhar de novo no teatro e, por isso, procurou Amir Haddad, que o dirigiu em Auto de Angicos, na pele de Lampião. Ainda foi a Paris para uma oficina de reciclagem.

É óbvio que ele se alimenta também das coisas da vida. O nascimento de Júlia, diz, trouxe um ganho para sua carreira: “Ela me curou da grande dificuldade que eu tinha de chorar. E isso me ajudou, e ainda ajuda, como ator”. A mãe da única filha, a diretora Amora, de quem se separou em 2010, após sete anos de convívio, não foi a única famosa na vida do galã. Antes, havia se relacionado com as atrizes Ana Paula Arósio e Luana Piovani. Aos 51 anos, ele mantém a fama de sedutor. “Namorei mulheres visadas e isso dá uma impressão errada”, diz. E valoriza o passado: “Todas as relações que tive me acrescentaram alguma coisa”. Hoje, dá a entender que não está sozinho. Mas desconversa, encerrando o assunto: “A vida está boa”.

Do verde, ele nunca se afastou. Cumpre religiosamente a rotina de subir a serra pelo menos uma vez por semana para respirar o ar da fazenda e tocar a produção de orgânicos. Vira e mexe, viaja para dar palestras sobre sustentabilidade, enquanto sonha com uma bancada parlamentar “agroecológica”. Diz que, pela natureza, faz “o máximo que pode”, mas não quer se candidatar a nada. “Não tenho temperamento político. Na verdade, não sou o cara, sou mais um cara. Só quero mesmo ser uma pessoa melhor.”

 

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