Malu Mader: “A obrigação de encontrar um amor escraviza as pessoas”
Atriz de Sangue Bom fala de casamento, filhos e seu papel na novela das 7h da Globo
Malu Mader
Foto: Divulgação
Malu Mader tem expressão séria e parece reservada, porque não costuma sair distribuindo sorrisos por aí. Mas quando começa a conversar é tão gentil e bem-humorada que tira essa impressão na hora. Aos 46 anos, a atriz estava longe da TV desde Tititi, em 2010. Agora ela volta como a garçonete Rosemere em Sangue Bom, pela primeira vez, em 27 anos de carreira, uma personagem do povo. “Ela é encantadora, mas difícil de classificar. Não é heroína nem vilã, erra bastante, fracassa e é extremamente apaixonada pelo filho”, diz. Diferentemente da personagem, que tem azar no amor, Malu é casada há 23 anos com o guitarrista Tony Bellotto, dos Titãs. Juntos, eles têm dois filhos: João, de 17 anos, e Antonio, de 15. Nesta entrevista, a atriz se emociona ao lembrar da mãe, Ângela, que faleceu há quase dois anos, e conta um pouco de sua vida como mãe, esposa e profissional.
O que chama sua atenção na personagem Rosemere?
O foco dela é ser uma mãe dedicada. Acho que, nessa tentativa de viver para o filho, ela acaba errando bastante, mas, como todas as mães, faz isso sempre tentando acertar. É uma mulher cheia de vida, bem animada, que tenta dar tudo de si no trabalho e na criação do filho.
Você se parece com ela?
Somos um pouco diferentes, porque nesses anos desenvolvi autocrítica e tento sempre melhorar. Rosemere tem dificuldade para enxergar seus erros. Eu quero melhorar e me recuso a dizer: “Sou assim mesmo e que se dane”. Essa vontade de mudar sempre para melhor é principalmente por causa das pessoas com quem convivo, especialmente meus filhos.
Como é o diálogo com eles?
[Abre um sorriso] Meus filhos são críticos comigo e gosto de ouvi-los. Quem está ao nosso lado deve apontar nossos erros. passam por isso. Não só quem vive nas comunidades carentes mas também as da elite e da classe média. A novidade são os homens que trocam fraldas e são presentes. Tanto que caras iguais ao Tony, que são dedicados, são admirados. Minha mãe, por exemplo, achava o máximo o jeito dele.
Será que é porque o mundo ainda está machista?
[Eleva o tom de voz e fala com convicção] Sim. Porque quando um homem é bom pai, todo mundo valoriza, mas uma mulher que é boa mãe está fazendo apenas sua obrigação. Todo mundo fala que a mulher conquistou seu espaço, mas ainda há bastante a ser conquistado. A realidade é que a maior parte dos homens, no Brasil e até no mundo, é ausente.
Mesmo fora da TV, você continua em forma. O que faz para se cuidar?
Sou desencanada com peso, tanto é que fiquei acima do ideal um bom tempo. Como detesto malhar pesado, só jogava tênis. Um tempo depois, comecei a jogar tênis e dar voltas de bicicleta na lagoa. Talvez isso tenha me ajudado a emagrecer.
Mas você tem cuidados com sua alimentação, né?
Fui acostumada a comer mal em casa, só que, desde que me casei com o Tony, como ele sempre se alimentou bem, venho tentando mudar alguns hábitos. Fui deixando de gostar tanto de comida pesada e começando a comer mais carne branca e arroz integral. Quando você entra no ar, fica um pouco mais atenta, porque a televisão engorda uns 3 kg, e aí a gente pensa: “Se eu estou assim aqui em casa, imagina no ar”.
Qual o segredo dessa relação duradoura com o Tony?
Não tem segredo, isso depende de cada pessoa. A gente começou a namorar de 1989 pra 1990 e eu gosto do meu casamento. Acho que temos uma relação bem legal. Acredito que é possível, inclusive, ser feliz sem alguém ao seu lado. Vejo várias pessoas sozinhas e bem.
Mas a grande maioria das mulheres acha que é necessário ter alguém ao lado para ser feliz…
A obrigação de ter que encontrar um amor escraviza as pessoas. Tenho sobrinhas e uma enteada, e vejo que existe uma cobrança muito maior com a mulher, principalmente se ela está próxima da idade de ter filhos e ainda não encontrou alguém. As próprias mulheres se cobram e ficam chateadas com a pressão alheia. Aí fica mais fácil uma relação dar errado.
Você pensava em se casar?
Quando era garota nunca pensei em casar. Minhas brincadeiras eram eu e as bonecas, sem pais na parada. Tanto é que eu não casei. Mas estou com o Tony há mais de 20 anos.
Isso é bastante tempo!
O Tony é evoluído. E nos mantemos bem se ficamos longe um do outro. Falamos ao telefone, mas somos dois solitários. Todo mundo é só, independentemente de estar com alguém. Passei vários aniversários sozinha enquanto ele viajava ou fazia shows. Somos um casal moderninho, não no sentido de ter uma relação aberta, mas na questão de ficar longe. A gente esteve só ao longo desses anos, mas juntos, mesmo que a distância.