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Lázaro Ramos: “Não posso ocupar a minha vida toda com o racismo, estou aqui para viver”

Lázaro Ramos está em cartaz no teatro, na TV e, logo mais, em dois filmes no cinema. Também se prepara para lançar mais um livro infantil e está escrevendo um para adultos. Já seu programa de entrevistas, o casamento e a rotina de pai autoproclamado “babão” seguem firmes

Por Liliane Prata
Atualizado em 28 out 2016, 08h28 - Publicado em 13 dez 2015, 07h00
Rede Globo / Divulgação
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Ele é um sujeito atarefado. Muito. Daquelas pessoas que estão habituadas a preencher cada fração do tempo e nem se dão conta do próprio entusiasmo e dinamismo. Além dos trabalhos como ator (na TV, no teatro e no cinema), Lázaro acumula as funções de diretor, ativista social – mantém quatro centros na Bahia que estimulam jovens carentes a ler – e escritor. O lançamento de seu segundo livro infantil, o Caderno de Rimas do João (Pallas), está previsto para o próximo mês – o primeiro é A Velha Sentada (Melhoramentos). Atualmente, ele está escrevendo um romance para mulheres adultas. A empolgação com ele é tanta, que, ao chegar de madrugada da estreia da sua peça O Topo da Montanha, em São Paulo, em vez de descansar e desfrutar do sucesso da noite, ele se sentou para escrever um capítulo. “Sou agoniado”, define o baiano de 36 anos. “As pessoas usam mais ‘inquieto’, mas eu gosto mesmo de ‘agoniado’.”

O espetáculo, que ele dirige e protagoniza ao lado da mulher, Taís Araújo, fala justamente da agonia de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes do movimento negro dos Estados Unidos. No palco, Lázaro retrata o pastor e ativista em 1968, um dia antes de seu assassinato. Taís é a camareira do hotel em que ele está hospedado e uma espécie de confidente de ocasião. O casal também estrela junto o seriado Mr. Brau, que estreou na Globo em setembro. Nele, Lázaro vive o cantor que dá nome à série; e Taís, sua mulher e empresária. Como a peça, a comédia provoca uma ampla discussão sobre racismo.

É, portanto, impossível não mencionar o tema nesta conversa, embora Lázaro demonstre cansaço em discuti-lo – preconceito acaba sendo uma constante para entrevistados negros. “Não posso ocupar minha vida toda com o racismo, estou aqui para viver”, diz. “É claro que existe preconceito no Brasil. E cada um tem sua forma de lidar com ele, que pode inclusive mudar ao longo da vida. Às vezes, sou mais contundente; em outras, não quero falar sobre o tema; e há momentos em que me expresso com base no afeto. Estou sempre em movimento.”

Então vamos seguir o papo, até porque não falta assunto. Lázaro é um dos maiores atores de sua geração. Aos 15 anos, entrou no grupo de teatro Olodum, em Salvador, onde nasceu. Seu pai, que trabalhava como operador de máquinas em um polo petroquímico, não queria que ele fosse artista, mas deu o braço a torcer – ainda que de maneira discreta – ao ver no palco o filho, então com 17 anos. “Ele sempre foi correto, justo, mas nunca de muito toque”, conta. “No fim do espetáculo, não me abraçou, mas me olhou nos olhos e sorriu. Entendi que ele estava dizendo: ‘Gostei, vá em frente’ ”, relembra. Lázaro explodiu em 2002 com Madame Satã, filme que lhe rendeu o troféu da respeitada Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), entre outros prêmios. Sua primeira novela foi Cobras & Lagartos (2006), em que fez o carismático Foguinho. De lá para cá, alternou outros personagens populares, que ganharam o Brasil em filmes classificados como alternativos ou “cabeça”. E, assim, o baiano foi construindo um caso de sucesso de público e crítica.

A dedicação à carreira combina talento e um jeito muito prático de encarar a vida, os objetivos e os obstáculos. Lázaro gosta de refletir sobre seu trabalho, mas curte mesmo entrar em cena. Trata de agonia, mas “movimento” e “afeto” são duas das palavras que mais pautam suas respostas. Quando fala do seu casamento com Taís, por exemplo.

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Ele conta que a viu pela primeira vez na novela Da Cor do Pecado e, na mesma hora, falou ao amigo – e também ator – Bruno Garcia que era com aquela mulher que se casaria. “É cada vez mais legal estar com ela porque a gente não ficou parado. Mudamos o formato da relação, a família aumentou…” A união de 11 anos teve um intervalo de sete meses em 2008, que ele encara com naturalidade. “Um casal feliz, que se ama, pode perfeitamente passar por fases difíceis. Casamento não é linear; afinal, nenhum de nós é linear.”

Agora, ele aproveita a ótima fase para desfrutar da harmonia a dois sem “inventar problema”. “Às vezes, esperamos do casamento algo que ele não pode nos dar. São insatisfações nossas que precisamos resolver sozinhos ou com a ajuda de um terapeuta.” Um dos grandes aprendizados da relação, ele conta, foi dar atenção para as qualidades um do outro. “Antigamente, eu achava que devia apontar o que a pessoa tinha que melhorar, mas vi que é preferível elogiar e focar nos pontos positivos.” Ele procura ser assim também com os filhos, João Vicente, 4 anos, e Maria Antonia, 10 meses. “Sou aquele pai babão”, confessa. “Outro dia, João acordou falando de madrugada. Fui com sono ver o que tinha acontecido e ele me disse: ‘Quero comer um pedaço de lagosta com a folha da árvore lá da escola’. Tem como não achar bonitinho?”, derrete-se. Pelas crianças, Lázaro busca sempre se aprimorar. “Fiquei com vontade de me tornar cada vez mais relevante. Comecei a fazer as coisas para eles verem. Eles não sabem nada de mim. O que eles vão me ver fazendo?”, pergunta, agoniado. Em ação, sempre. Disso não restam dúvidas. 

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