João Emanuel Carneiro e “A Favorita”
Se você está odiando a personagem Flora, interpretada por Patrícia Pillar, a culpa é todinha dele!
João Emanuel Carneiro,
o autor de “A Favorita”
Foto: João Miguel Jr./Rede Globo
Num papo delicioso e cheio de novidades, o autor de A Favorita, João Emanuel Carneiro, fala do desafio diário de escrever uma novela das 9. E, sobretudo, da polêmica que causou ao declarar Flora, de Patrícia Pillar, como a verdadeira bandida da história. Muita gente reclamou, mas o ?pai? da vilã e da vítima Donatela, de Claudia Raia, está adorando toda essa reviravolta que provocou na trama e que fez a audiência subir. Prepare-se para muitas outras surpresas e revelações desse jovem e talentoso escritor.tititi ? Quando você escolheu quem seria a assassina de “A Favorita”?João Emanuel Carneiro ? Logo que a novela entrou no ar. Optei pela Flora porque achei que seria mais instigante e justificaria toda a perseguição da Donatela. Ficaria muito óbvio se a Flora fosse inocente, já que passou 18 anos presa. Era fácil para o público gostar mais dela no início porque saiu da cadeia com o discurso de que foi presa injustamente… E a Donatela era aquela mocinha politicamente incorreta, que apesar de estar com a razão, cometia atitudes politicamente incorretas.Antes da estréia da novela, entrevistei a Claudia e a Patrícia e ambas defendiam com unhas e dentes a inocência de suas personagens. Quando você contou a elas quem seria a assassina como reagiram?Contei logo depois que decidi. Acho que criei um problemão para as duas e para mim também porque imaginava que seria xingado, odiado no lugar da Flora, até então a favorita do telespectador. Quanto a Patrícia e a Claudia, apesar de defenderem suas personagens, senti ambas muito entregues à história, à minha decisão. Foram superprofissionais e continuaram a defender os papéis com muita garra. Foi um segredo muito bem guardado. Aliás, contei para as duas e para o Ricardo Waddington (diretor). Dois meses depois da estréia, revelei também para o Ary (Fontoura, o Silveirinha). Até para a minha família, contei só para umas três pessoas. É o tipo de segredo que não dá para espalhar (risos).Você sabe que muita gente ficou brava com você por causa da Flora ser a bandida, né?Sei, mas meu desafio como escritor é desafiar as pessoas, é realmente trazer problemas para minha vida (risos). Acho que a motivação do público para continuar assistindo à novela é justamente o fato de ter sido provocado, desafiado, enganado e agredido pela Flora. Eu também fui (risos). Todo mundo vai querer ver o que vai acontecer com essa mulher e o que a Donatela, que foi presa injustamente, vai fazer para provar sua inocência e fazer justiça.Flora vai se revelar talvez a mais terrível vilã de novelas de todos os tempos…É… ela é terrível (risos). Após matar a Maíra (Juliana Paes) ainda vai aprontar muito… Nesse meio tempo insistirá em conquistar o carinho da Lara (Mariana Ximenes). Mas ela nunca vai gostar da Flora e nem considerá-la sua mãe.Nós publicamos uma capa adiantando que o Zé Bob está marcado para morrer. Você confirma? O Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia) é a bola da vez, ele corre um sério perigo!E a Cilene?Só posso dizer que a Cilene (Elizangela) tem muitos segredos.E o que dá para antecipar sobre a Donatela?Além de fugitiva da polícia, ela fica pobre. Acredito que isso atrairá a simpatia do público para ela. Descobri que as pessoas não aceitam uma heroína rica. Até minha empregada se revoltou quando ficou sabendo que a Donatela tinha 22 milhões de dólares na conta bancária. Se eu soubesse disto antes teria colocado só 2 milhões, não tinha exagerado tanto na fortuna da Donatela. Mas ela vai perder tudo (risos).É, mas ela vai ter um belo romance com o Augusto César (José Mayer)… É verdade!Pessoalmente, adoro a Donatela, mas ela é uma mocinha bem atípica, não? Eu queria, mesmo, uma mocinha fora dos padrões. Todo mundo reclama das mocinhas chorosas, água-com-açúcar, mas quando coloco uma diferente, o público também reclama. A Donatela também tem um elemento muito provocador que é o fato de não ser filha de sangue, mas ser a preferida do pai da Flora, que a adotou. Na vida real se vê muito disso, laços de amor mais fortes que os de sangue, mas na ficção isso não é aceito. É curioso…Você mudou ou antecipou tramas em função de audiência? De jeito nenhum. Já estava tudo programado. Em agosto eu tinha planejado revelar a assassina. Se você observar minhas outras duas novelas anteriores, constata que elas tiveram essa virada, esse recomeço dois meses depois do início. Da Cor do Pecado (2004) foi a partir da descoberta do avô, feito por Lima Duarte, que tinha um neto. E em Cobras e Lagartos (2006), a partir da ascensão do Foguinho, personagem de Lázaro Ramos. Gosto dessas viradas até para me estimular, porque oito meses de novela é um tempo muito longo. Gosto de subverter a ordem das coisas, de desafios.Como você avalia o elenco de “A Favorita”?Acertamos a mão com ele. Muitos atores me surpreenderam, e posso citar a Gisele Fróes (Lorena), não conhecia o trabalho dela, mas é uma atriz muito boa. Aliás, ela vai descobrir o caso do marido com a irmã (a Cida, feita por Cláudia Ohana, que, aliás, é irmã de João Emanuel), mas vai manter o casamento. Eu gosto muito dela e do Chico Diaz enquanto casal.E aí, no final você pretende unir os personagens da Glória e do Tarcísio?Pretendo. Eles vão ter um romance, um amor na terceira idade e darão muito trabalho para o Gonçalo (Mauro Mendonça) e a Iolanda (Susana Faini) (risos).