Ivete Sangalo: “Estou com vontade de fazer cinema”
Ivete Sangalo fala da experiência de interpretar Maria Machadão no remake de Gabriela
Ivete Sangalo está gostando tanto de atuar em “Gabriela”, que pretende fazer cinema
Foto: Divulgação
Desde que seu nome foi confirmado no elenco de “Gabriela” – como Maria Machadão – Ivete Sangalo se viu no meio da tormenta. “Por que, afinal, chamarem uma cantora e não uma atriz para interpretar personagem tão emblemático?”, perguntava-se a maioria.
O novelista Aguinaldo Silva chegou a fazer um protesto em seu blog. Mas, ao ver a baiana caracterizada, voltou atrás. Boatos dão conta de que parte do elenco continua insatisfeito com a escolha, mas… Ivete prefere ignorar o disse me disse. “Vamos falar das coisas boas”, pede, saindo da polêmica pela tangente.
Aos 40 anos – “Toda bonita, toda gostosa!”, como se descreve -, a cantora e dublê de atriz está tão animada que já fala até em fazer cinema. As bênçãos de Antonio Fagundes, o coronel Ramiro da trama, Ivete já tem.
Como uma cantora vira atriz?
Sempre gostei. Na escola, atuava de uma forma leve. Mas com essa responsabilidade, na Globo, com essa audiência absurda, sendo obra de Jorge Amado, um baiano de expressão… Nunca tinha participado efetivamente de uma novela e Gabriela ser a primeira é honraria demais.
E o que a fez aceitar o convite?
Por ser de Jorge, uma novela que se passa na Bahia, por ter o sotaque da gente, falar da gente… De certa forma é bem ufanista. A forma como me ofereceram, como eu fui recebida… Fui tratada como atriz, não como uma pessoa que está começando. Então, no primeiro dia, coube a mim perder isso, entendeu? Fui tratada de uma forma tão fluida, que, no segundo dia, já estava focada na personagem.
Como se preparou?
De verdade, não fiz uma preparação, não. Fiz uma leitura do texto com o Maurinho (o diretor Mauro Mendonça Filho). Aí, pedi a ele se eu podia absorver, do ponto de vista da prosódia, da forma de falar, outro jeito que não parecesse com Ivete. Tenho uma presença na TV muito intensa. Em comercial, em show, Carnaval… As pessoas me conhecem muito. É óbvio que sou eu quem está fazendo, é claro que tem um pouco da minha personalidade, mas queria fugir ao máximo disso. Então, mudei a maneira de falar, que é muito gostosa, a maneira que mainha falava. Acentuando as consoantes D, T e S, que é do interior da Bahia; daquela época, que não tinha tanta influência da globalização.
Chegou a falar com alguma prostituta?
Não, porque, hoje em dia, graças a Deus, essas mulheres podem se expressar publicamente, com desenvoltura, com maiores oportunidades. E, no meu dia a dia, estou atenta a isso, já vi milhões de entrevistas. São mulheres muito dignas, fortes, que batalham demais. Então, tenho essa experiência como espectadora e telespectadora. E também é uma coisa minha, de geminiana, de absorver as coisas com certa rapidez.
Fazendo Gabriela, não dá vontade de seguir na carreira de atriz?
Agora estou com vontade de fazer cinema. Fiquei feliz porque me chamaram, fiquei lisonjeada… E fizeram a gentileza de concentrar as cenas da Machadão de acordo com a minha agenda. Então, gravo quatro dias, viajo, faço meus shows, volto para casa. A novela é muito bem escrita! É tudo lindo, uma obra de arte mesmo.
Aguinaldo Silva criticou terem escolhido você e depois voltou atrás.
Então, vamos lembrar que ele voltou atrás, que é mais bonito. Vamos falar das coisas boas. Na verdade, eu queria ser modelo (risos). Mas tive a felicidade de ser convidada para fazer Gabriela, que tem um tempo estabelecido. Dentro da logística louca, de ser cantora e ter tanta coisa para fazer – sou mãe, sou esposa… -, consegui! Deu para fazer. E tem essa poesia, o fato de ser uma cantora baiana, que quer ser uma atriz, que batalha para isso, e está numa novela genuinamente baiana. Acho justo.
Aliás, conheceu Jorge Amado?
Conheci quando eu tinha 13 anos, acredita? Era colega de uma neta ou afilhada dele, nem me lembro bem… Fui à casa dele. Jorge estava lá, sentado numa cadeira branca, de madeira… E foi extremamente carinhoso, fofo… O que guardei dele foi esse encontro que independia de ele ser um escritor especial ou não. O que vale mesmo é a relação humana e Jorge foi muito querido comigo.
A cantora baiana aparece caracterizada como Maria Machadão em “Gabriela”
Foto: TV Globo/Divulgação
Bem à vontade em cena
Questionada sobre como está sendo o convívio com o elenco, Ivete apela para a brincadeira. “Emanuelle (Araújo) é minha amiga, então… O Bataclan é só nós! Eu, ela, Ildi (Silva), Fafá… Sabe quem é Fafá? Fagundes (risos)”, conta.
O entrosamento com Antonio Fagundes, de fato, é perfeito. E o próprio veterano assina embaixo. “Já demos boas risadas. Ivete é excelente companheira de trabalho. E estou rezando para o Walcyr (Carrasco, o autor da trama) achar que vale a pena rememorar o romance dos nossos personagens”, diz o intérprete do coronel Ramiro.
Sobre a atuação da baiana, ele enfatiza: “Quem disse que ela não é atriz? Ela é atriz, sim. E excelente! É surpreendente como ela fica à vontade e deixa a gente à vontade também!”