Indicado ao Oscar, Selma mostra o ativismo de Martin Luther King Jr.
Concorrente a Melhor Filme no Oscar, 'Selma - Uma Luta pela Igualdade' provoca protestos por conseguir apenas duas indicações da Academia
É um tanto surpreendente que um personagem tão importante quanto Martin Luther King Jr. (1929-1968), um dos líderes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, não tenha sido tema de uma produção hollywoodiana de grande alcance. Mas chegou a hora, com Selma – Uma Luta pela Igualdade, de Ava DuVernay, 42 anos, que relata a marcha apoiada por ele entre as cidades de Selma e Montgomery, em 1965, para assegurar os direitos de voto dos negros, já oficialmente livres da segregação, mas ainda impedidos por todo tipo de artimanha de ir às urnas. “Ainda é novidade um filme com protagonistas negros, com esse orçamento, desse tamanho, ser feito”, diz David Oyelowo, 38, que interpreta Luther King Jr. “Depois do sucesso de 12 Anos de Escravidão, Hollywood parou de ter desculpas para não fazer uma produção com protagonistas negros.” O filme citado concorreu a nove Oscar e levou três (Filme, Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante para Lupita Nyong’o, 31).
Esperava-se que Selma, com críticas positivas quase unânimes e uma mãozinha de Oprah Winfrey, 61, e Brad Pitt, 51, como produtores, tivesse destino parecido no Oscar. Foi uma certa decepção quando o filme conseguiu apenas duas indicações (Filme e Canção Original para Glory, de John Stephens e Lonnie Lynn), despertando críticas pela falta de diversidade nas escolhas da Academia – neste ano, todos os atores, nas quatro categorias, são brancos.
David Oyelowo leu o roteiro em 2007, dois meses depois de se mudar da Inglaterra, onde nasceu há 38 anos, para Los Angeles. “Eu estava determinado a fazer”, diz. Para ele, ser inglês foi uma vantagem. “A pressão seria bem maior se eu fosse americano, com pais, avós e tios que marcharam com o Dr. King ou tinham sua foto ao lado da imagem de Jesus Cristo.” O ator, que é cristão e pai de quatro filhos, como Luther King Jr., identifica-se com seu personagem. “Para ele, o amor é uma arma. E ela só funciona se você não tem raiva nem amargor. Acredito na mesma coisa.” Ele estudou os discursos, a voz, suas posições políticas e seus movimentos. O mais difícil foi imaginar como era a portas fechadas. “Tenho certeza de que ele não discursava quando falava com a mulher e os filhos.”
FATOS REAIS…
Os acontecimentos que levaram à histórica marcha de Selma até Montgomery tiveram uma boa dose de tensão na vida real. As primeiras tentativas de caminhada acabaram em violência por parte das autoridades locais e estaduais da cidade, em Dallas County, Alabama. O governador e o xerife eram oponentes ferrenhos ao registro de negros para que pudessem votar, cobrando taxas e exigindo teste de escolaridade, entre outras táticas – apenas 2% da população de Selma estava registrada. Tendo Luther King Jr. entre seus líderes, o mundo observava o desenrolar do movimento. A Guarda Nacional Federal passou a proteger o grupo que, enfim, iniciou a longa jornada de três dias pelas estradas.
O filme da diretora DuVernay, que já havia feito dois longas com histórias de personagens negros (I Will Follow, 2010, e Middle of Nowhere, 2012), aproveita seu personagem principal histórico e o coloca também em momentos distintos, como quando recebeu o prêmio Nobel, em 1964 (foi o mais jovem ganhador da honraria, aos 35 anos).