Game of Thrones e o poder da autoconfiança
Leandro Quintanilha fala sobre a série de sucesso da HBO
Tyrion Lannister, personagem de Peter Dinklage na série “Game of Thrones”
Foto: Divulgação
Era difícil prever que uma aventura épica fantasiosa alcançaria uma popularidade maior do que o nicho de seguidores do gênero. Também era improvável que, numa história com tantos núcleos e personagens, um coadjuvante conquistasse tantos fãs. Trata-se de Tyrion Lannister, personagem de Peter Dinklage na série “Game of Thrones“, da HBO. Um grande papel para um grande intérprete – um anão.
O programa é uma adaptação para a TV da saga literária “As Crônicas de Gelo e Fogo”, do americano George R. R. Martin. “A Guerra dos Tronos”, que empresta o título à série, é o primeiro livro dos cinco publicados sobre a história de uma terra medieval em que famílias poderosas (e seus exércitos) disputam o reinado.
Nesse passado alternativo e hostil, as estações podem durar décadas, mas um rei não. O que dizer de uma pessoa fragilizada pela própria natureza? Tyrion sobrevive porque é esperto. Dotado de uma autoconfiança invejável e uma rapidez de raciocínio inversamente proporcional à estatura, ele não é o anti-herói cômico que aprendemos a esperar de um personagem com o seu biotipo.
Nem anti-herói nem herói. Tyrion consegue se impor – e se virar – por meio do conhecimento e da inteligência, em um mundo em que coragem e força são atributos mais valorizados. Ciente de suas qualidades e de suas fraquezas, não se deixa abater por sua condição, mesmo sendo desprezado pela família e pela sociedade (“Todos os anões são bastardos!”). Assim, ele domina e manipula os crescidos ao seu redor.
Além de seu refinamento intelectual, a dignidade de Tyrion é acentuada por seu caráter. Ele não é um tipo bonzinho, que precisa agradar a todos, como se precisasse se desculpar por sua deficiência. É generoso com quem merece e cruel com os cruéis.
A trajetória de Tyrion é semelhante à de seu intérprete. O americano Peter Dinklage, de “As Crônicas de Nárnia” e “O Agente da Estação”, construiu uma carreira respeitável, escapando dos estereótipos que a sua altura e os nossos preconceitos pudessem sugerir. Seus personagens são principalmente humanos, com complexidades para além da estatura – 1,35 m, se você ficou curioso.
Pelo papel em “Game of Thrones”, Dinklage levou os prêmios mais importantes da televisão: o Emmy e o Globo de Ouro. Com a saída de um personagem importante no fim da primeira temporada, o intérprete do coadjuvante Tyrion é agora o primeiro nome nos créditos. Como será que as premiações vão categorizar o ator agora que ele cresceu?
Dinklage, assim como seu personagem mais célebre, soube atribuir a si mesmo o valor que sempre lhe recusavam. “Não se esqueça de quem você é, porque é certo que o mundo não se lembrará”, aconselha Tyrion. Talvez seja mais do que isso: ao se lembrar de quem é, você pode se tornar memorável.
Leandro Quintanilha trabalhou no Estadão e no UOL. Hoje, escreve para revistas. Ele adora livros, séries e filmes, que prefere analisar pela perspectiva comportamental. Leandro confessa que acha muito esquisito escrever sobre si mesmo assim, na terceira pessoa.
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