Fátima: “Passei por um processo de luto e ele chegou ao fim”
A jornalista é expert na arte de se reinventar em público. Em entrevista a CLAUDIA, comenta suas guinadas
Quando a carioca Fátima Bernardes, 54 anos, surge na tela, no fim de cada manhã, parece ter entrado em casa uma pessoa muito próxima, íntima. Ela percorreu um longo caminho até chegar ao posto de apresentadora – a mais poderosa da televisão brasileira. E deixou sempre sua marca: um misto de simplicidade, sinceridade e credibilidade. Em 30 anos de profissão, 27 deles na Globo, não há um episódio de arrogância ou soberba. Passou pelo Jornal da Globo, onde conheceu o ex-marido William Bonner, e atingiu o topo na bancada do Jornal Nacional. Mesmo com uma carreira sólida, deu uma guinada: pediu para deixar o posto cobiçado e aventurou-se em um programa de entretenimento. Na época, houve quem questionasse a decisão ou apostasse no fracasso da jornalista. Neste mês, o Encontro com Fátima Bernardes completa cinco anos. “Não tive medo de mudar. Pelo contrário, meu receio era ficar acomodada e não conseguir sair do lugar nunca mais”, explica. “Para mim, renovação é chegar a um determinado ponto, que me fez muito feliz, e querer trilhar um novo caminho, um trajeto diferente que possa trazer aprendizados”, diz.
Em agosto do ano passado, a apresentadora aprendeu muito ao vivenciar outra guinada: encarou o fim do casamento. O Brasil sentiu a dor com ela. Afinal, o relacionamento com Bonner fez parte do dia a dia de milhões de telespectadores por mais de duas décadas. A separação se deu sob o desconforto provocado por boatos. O marido estaria tendo um caso de amor. Em um anúncio curto e direto, divulgado simultaneamente nos perfis de cada um no Twitter, o casal pôs fim aos 26 anos de convivência. Divulgaram que continuariam amigos, manteriam a admiração profissional mútua e sempre seriam pais orgulhosos de três jovens incríveis. Zeloso, o casal, que sempre se manteve longe das fofocas, não tocou mais no assunto. “É claro que ficamos tristes; quem não ficaria? Mas, no dia seguinte, estávamos trabalhando”, relembra Fátima. “Passamos por um processo de luto, e ele chegou ao fim, como tudo na vida.”
O que soou como notícia inesperada para o público, na verdade, foi resultado de um processo de muita reflexão. Tudo na vida de Fátima é assim; ela não se considera impulsiva. A saída do JN é uma prova disso. A vontade de deixá-lo começou em 2007. Ela conversou com a direção da Globo, amadureceu o desejo e o realizou em 2012. “Na hora em que bati o martelo, já havia ponderado muito e respondido para mim mesma todas as perguntas.” Ela não deixaria o maior jornal do país se não fosse para fazer algo que realmente quisesse. “Preciso me sentir feliz com meu trabalho. E dependo da minha história, porque é ela que faz as pessoas quererem me ver e acreditarem em mim.”
Reinventar-se não é algo trivial na vida pessoal ou profissional. O Encontro, que substituiu desenhos na grade, chegou a perder em audiência para o infantil Tom & Jerry, no SBT. Exibida de segunda a sexta, das 10h50 às 12 horas, a atração então passou por reformulações antes do primeiro aniversário. Hoje, atinge uma média de 11 pontos no Ibope, é vista por mais de 7 milhões de pessoas e a tendência da audiência é crescente. Com a proposta de unir famosos e anônimos num bate-papo, que pode fluir do corriqueiro cultivo de orquídeas a temas controversos, como a adoção por casais homossexuais, o programa se consolidou. O sucesso pode ser medido pelos telefonemas e e-mails à Central de Atendimento ao Telespectador. O cabelo, a maquiagem e o figurino da apresentadora estão sempre na lista dos mais procurados.
A cumplicidade com o público fez de Fátima a personagem dos sonhos dos publicitários. Disputada por grandes empresas, especula-se que seu cachê tenha chegado a 5 milhões de reais. Em janeiro de 2014, assinou contrato com a Seara, uma das marcas do grupo JBS, envolvido na Operação Carne Fraca e no escândalo da compra de políticos. O contrato acabou. Comenta-se que Fátima teria ligado para a WMcCann, agência responsável pela campanha do frigorífico, para rescindi-lo logo que soube das denúncias de que a empresa subornava funcionários públicos para que eles não fiscalizassem suas cargas. Ela não comenta. O fato é que a imagem de Fátima não foi atingida pelo escândalo. Poucas semanas depois, a apresentadora estava negociando um acordo publicitário com uma grande rede de ensino.
Vida observada
Discreta, Fátima já viu seu nome estampar capas de revistas e jornais centenas de vezes, mas nunca na intensidade de quando o divórcio foi anunciado. Teve de se acostumar também com as pessoas na rua incentivando uma reconciliação. “Apesar da reação, minha sensação não foi de fracasso, mas de uma fase da vida que fluiu, passou… O que tivemos foi bom, mas não era para continuar. E pronto.” Segundo diz, a vida seguiu o curso sem que ela se arrependesse de nada. “Não pedimos para ser modelo de casal. As pessoas é que nos idealizavam”, pondera. “Escuto que inspiramos muita gente. Ótimo.”
Apesar do tempo passado, ainda aparecem algumas saias justas, principalmente no programa. “Você nessa fase neossolteira está maravilhosa”, elogiou a jornalista Marília Gabriela, diante das câmeras do Encontro. Ao ouvir que Fátima não tem problema em dizer a idade, a atriz Maria Ribeiro disparou: “Até porque você está excelente. Depois que se separou, está uma loucura”. Nas duas ocasiões, a apresentadora riu e retomou a conversa naturalmente. Talvez por adotar sempre essa postura elegante e discreta, um comentário feito por Fátima causou estranheza. “Casamento e prisão são quase a mesma coisa”, afirmou ela ao ecoar uma piada do ator Murilo Rosa quando a atriz Klara Castanho, 16 anos, contou ter sido emancipada pelos pais e agora poder se casar e ser presa. “Foi uma brincadeira. Não tenho interesse em falar sobre a minha separação”, diz. “Certos assuntos devem ser resguardados. Até porque não vão fazer diferença na vida das pessoas, não agregam nada nem eliminam os boatos que surgem.” Para Fátima, não se deve falar de algo que foi tão bonito de um jeito menor. Seria colocar uma relação importante em uma vala comum. “O nosso casamento se encerrou de maneira bacana”, explica.
Recentemente, a curiosidade dos jornalistas que cobrem celebridades recaiu sobre Fátima. Atribuem a ela novas paixões. Até o médico e consultor do programa, Fernando Gomes Pinto, que é casado, foi apontado como affaire. “Todos os amigos com quem almoço viram interesse romântico nas chamadas”, diz. “Não sei se me aborreço ou se fico com pena dos alvos. Eles não são calejados como eu, que estou acostumada com a vida pública.” Fátima conta que Gomes Pinto e a mulher entenderam que esse tipo de notícia vai sair, ela querendo ou não. “Prefiro nem ler sobre isso.”
Arrumar um namorado – diz – não é prioridade. “Não por medo de me relacionar novamente”, garante. Fátima quer ser surpreendida pela vida e está deixando rolar. “A gente não sabe quando vai se interessar por alguém. Conheci meu primeiro marido (um engenheiro com quem ficou casada menos de um ano) na aula de ginástica. Quando percebi, estava gostando dele.” Começou a trabalhar com Bonner e, de repente, aconteceu. “Eu estava pronta? Tinha acabado de me separar! Pensei: ‘Como estou interessada nele e nem havia me dado conta?’ ” Por tudo isso, ela acha que a surpresa se repetirá. “Uma hora, vou me encantar por outra pessoa e descobrir que estava superpreparada.”
Para dar a volta por cima, a jornalista focou no trabalho, nas aulas de dança e na atenção aos trigêmeos Vinícius, Laura e Beatriz. “Não que deem trabalho; afinal, estão com 19 anos, fazendo faculdade e construindo a história deles. Mas fico bem junto de meus filhos. Eles foram supercompreensivos durante todo o processo”, conta. O colo dos três se mostrou fundamental, e ela não nega isso. De novo está em cena uma mulher de carne e osso. Que levanta e anda. Seu público percebe – e aí está seu carisma. Fátima tem uma facilidade enorme de se fazer indispensável. Os fãs se identificam com sua naturalidade e seu jeito franco de encarar a vida. “Não sou aquela mulher liiinda! Apenas funciono”, define-se. “Já ouvi uma vez uma explicação que me deixou muito orgulhosa: ‘Você é aquela prima legal!’ É isso. Eu poderia fazer parte da família de qualquer um.”