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Exclusiva: atriz Kathryn Hahn fala de ‘Mrs. Fletcher’, nova série da HBO

"Mrs. Fletcher" gira em torno de uma mulher que redescobre sua sexualidade em meio à síndrome do ninho vazio.

Por Da Redação
Atualizado em 15 jan 2020, 07h35 - Publicado em 5 nov 2019, 18h43
 (HBO/Divulgação)
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Lá em 1998, a HBO ousou falar sobre sexualidade feminina de um jeito como nunca havíamos visto na TV. Naquele ano nascia “Sex and the City”, série que tornou-se um marco.

De lá para cá, vimos os dilemas das mulheres serem debatidos com profundidade em outras produções da emissora, como “Girls” e “Insecure”. Agora, a série “Mrs. Fletcher” entra para essa lista de títulos – e traz uma trama que vai fazer com que, mais uma vez, muitas mulheres se identifiquem.

No ar desde o finalzinho de outubro, “Mrs. Fletcher” gira em torno de Eve, mulher que está vivenciando a síndrome do ninho vazio. Divorciada, ela tem apenas um filho, que sai de casa para cursar a faculdade. Em meio a esse novo momento de sua vida, Eve redescobre sua sexualidade. 

Baseada no livro de mesmo nome, a série é protagonizada pela ótima Kathryn Hahn, que foi indicada ao Emmy por “Transparent”. A seguir, você confere uma entrevista em que a atriz fala sobre seu papel em “Mrs. Fletcher”. Esse conteúdo foi cedido pela HBO com exclusividade para o MdeMulher no Brasil.

A série vai ao ar às segundas-feiras, na faixa da meia-noite. Simultaneamente, os episódios também ficam disponíveis na HBO GO.

Você está contente com a série?

Eu estou muito emocionada. É difícil ver claramente quando se trata do meu próprio trabalho, mas eu sei que a experiência foi ótima. Estou muito orgulhosa.

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O Tom Perrotta [criador da série e autor do livro homônimo] contou como foi importante você ter colaborado com ele na série. Ele disse que vocês estavam filmando enquanto acontecia o movimento #MeToo e que você foi uma ótima caixa de ressonância para ele…

Que interessante. O movimento #MeToo ainda está acontecendo, continua muito vivo e forte. E ainda há muito a dizer sobre essa questão. Isso é muito importante para mim. Depois do meu primeiro encontro com o Tom, eu senti que a história era contada a partir de duas perspectivas diferentes: a da mãe e a do filho. Foi interessante que no livro ela fosse escrita na terceira pessoa e ele na primeira. Fiquei muito curiosa para saber como ele seria capaz de ver pelos olhos da Eve, na primeira pessoa. Eu sabia que seria um obstáculo que enfrentaríamos juntos, o de entrar na alma dessa mulher. É preciso destacar que ele se cercou de mulheres muito fortes. Era importante para mim, e ele entendeu isso, ter uma equipe com todas diretoras mulheres, com uma produtora sensacional, a Helen Estabrook, uma sala de roteiristas cheia de mulheres e estarmos cercados de vozes femininas. E ele estava com o coração aberto. Ele realmente escuta, é aberto e flexível. Então pudemos usar essa obra incrível, o livro dele, como uma espécie de documento para avançar em algo que acredito que nenhum de nós tinha imaginado.

Você conhecia o livro?

Não. Li um roteiro do piloto e, depois, tive uma reunião com o Tom, em que eu tive que conquistá-lo. Foi um processo de irmos entendendo um ao outro [risos]. Nós nos encontramos, tomamos um drinque em Santa Monica e tivemos uma conversa sensacional em que falamos de tudo, mas pouco sobre a série, como acaba acontecendo nessas reuniões. Falamos sobre coisas que nos interessam.

Você ficou curiosa sobre a personagem Eve Fletcher?

Fiquei! Eu tive muita empatia com essa mulher que foi sobrecarregada com rótulos e identidades impostos pela sociedade, e que não eram mais dela. Por exemplo, continuar sendo chamada de “Sra. Fletcher”, uma identidade que ela deveria ter abolido – ela se divorciou há dez anos e continua vivendo como a “Sra. Fletcher”. A minha mãe teve a mesma experiência. Continua sendo a Sra. Hahn apesar de estar divorciada há cerca de 15 anos. Eu conheço muitas mulheres que mantêm o sobrenome de casadas. Não é estranho? Eu acredito que isso agora está mudando. Mas na geração da minha mãe era assim. Muitas vezes você está mantendo uma identidade que não é a sua.

E essa é a essência do que acontece quando o filho da Eve vai para a universidade e ela começa a analisar a própria vida?

É. Essa identidade foi como as outras identidades que a Eve deu a si mesma, como a de “mãe”. Ela mora com esse estranho, que é o filho dela. O relacionamento deles não é dos melhores, nem o mais aberto. Ela é vista por ele como a vilã no divórcio, o que é injusto. O trabalho dela não é muito gratificante. Ela tentou ser boa a vida inteira e isso não adiantou muito para a sua alma. Agora, finalmente, tem a chance de saber quem é de fato. Para ela, ao contrário da experiência do Brendan, é por meio da Caixa de Pandora da pornografia na internet que ela consegue ser imprudente, ousada. Ela está tendo um caso e consegue se ver como uma mulher sexy, sexualizada e atraente, Por isso, mal pode esperar para voltar para casa, para
ficar com ela mesma. Acho que nesses primeiros episódios ela vive uma lua de mel. Depois a coisa fica um pouco mais sombria. Mas acho que ela está se apaixonando por si mesma novamente.

O Tom disse que a história, pelo menos em parte, é sobre a libertação do desejo. Você concorda? O que a pornografia representa para ela?

Concordo. Você não pode aprisionar o desejo. Você não pode escondê-lo, mesmo que ele seja muito irracional. Também acredito que a pornografia – esse despertar sexual para ela – é um substituto da busca existencial por algo, como Deus, a busca por quem ela é, por qualquer coisa. Eu acho que nós tentamos rotular as mulheres o tempo todo dentro de universos pequenos como a “maternidade” ou a “menopausa”. E a mulher se torna invisível, ninguém mais olha para ela da mesma maneira. Mas por dentro a sua experiência de ser mulher, a sua sexualidade ainda está muito viva e ativa. Acho que raramente temos a chance de ver uma mulher explodindo assim. Isso foi muito interessante para mim, porque as mulheres merecem ter esse poder representado.

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Teria sido uma história completamente diferente, é claro, se tivesse sido sobre um homem vendo pornografia…

Sim. Como espectadores temos tido basicamente o olhar masculino como observador de pornografia.

Inclusive no cinema e na TV?

Sim. E acho que ver uma mulher com esse olhar é diferente por si só. O fato de ser uma história de amadurecimento duplo também. Nós vemos a Eve passando por isso, abrindo essa Caixa de Pandora da pornografia na internet, e vemos o filho dela que, como muitos jovens hoje, está aprendendo a ter um relacionamento, a namorar através dos dispositivos, da tecnologia e da pornografia. Eles não sabem namorar, ter um relacionamento, uma conversa cara a cara, nem são capazes de lidar com um rompimento ou com um confronto, porque simplesmente fecham a tela. Então, ao mesmo tempo que a Eve está passando por isso, vendo a internet como um novo mundo, o Brendan está conhecendo na faculdade o mundo da intimidade real, do relacionamento com seres humanos reais. Então, eu acho que podemos ver as duas coisas nesta série. O Tom criou algo muito poderoso porque vemos os dois lados, o
que é muito interessante.

Como você se prepara para um papel como este? Você tem tempo de ensaiar?

Não o suficiente. Às vezes sim, às vezes não. Tivemos alguns jantares e eu passei algum tempo com o Jackson [White], o sensacional jovem ator que interpreta o meu filho, o Brendan. Ele é muito bom. É interessante, eu não quero fazer spoiler de nada, mas na verdade não tínhamos muito a fazer um com o outro na tela. Então tivemos que tentar lidar com o que tínhamos no começo, sem saber o quanto estaríamos juntos durante as gravações. Nós realmente tivemos a sorte de ter química. E a mesma coisa aconteceu com o resto do elenco. O Owen Teague, que interpreta o Julian, é simplesmente um ator sensacional. A Kate Kershaw, que interpreta a Amanda, a Jen Richards [Margo], o Rashad [Edwards, que interpreta o Curtis], a Casey Wilson [Jane Rosen], todos eles são ótimos. Eu acho que tivemos sorte. É um elenco lindo de seres humanos únicos e perfeitos [risos]. Eu me apaixonei por cada um deles.

Mrs. Fletcher é outro exemplo de como a maioria dos dramas e comédias de ponta está sendo feita para a TV agora?

Sim.

Você imagina esta série produzida há 20 anos?

Eu não consigo me imaginar sendo protagonista de algo como esta série há 20 anos. O fato de a HBO ter assumido o risco de que eu protagonizasse uma série como esta – uma série sobre estes assuntos, com estes protagonistas – prova que esta é uma época realmente emocionante. Eu estou muito agradecida e orgulhosa de a HBO ter mergulhado em algo assim. Realmente é a época de ouro para essa forma de televisão.

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Você se apega muito aos papéis? Alguns significam mais do que outros?

Este foi duro. Foi realmente difícil. Não estou dizendo que foi difícil deixá-lo, em termos de sacudir para sair dali, mas ele ficou comigo por um bom tempo. Foi difícil de fazer porque a Eve era difícil. Foi uma travessia difícil em todos os sentidos, de maneiras boas. Em todos os aspectos, foi difícil desenroscar, mas de uma maneira criativa e satisfatória. Estávamos no inverno em Nova York, eu estava longe da minha família. Íamos resolvendo tudo na hora, descobrindo a textura, descobrindo como ela era. Foi difícil porque a Eve é muito solitária e estar lá era muito solitário. Mas foi difícil deixá-la ir porque, em última análise – e isso é graças ao roteiro do Tom –, ela veio a mim, e ela chegou lá, eu acho. E eu amei o grupo com que eu trabalhei. Então foi muito bom o modo como todos realmente mergulhamos juntos nesse trabalho.

Como o público vai lidar com Mrs. Fletcher?

Eu não faço a menor ideia [risos].

Pode haver outra temporada de Mrs. Fletcher?

Vamos ver. Sem dúvida é uma série limitada. Mas eu amo muito a Eve. Vamos ver o que acontece [risos]. Olha, com “Big Little Lies” ninguém pensou que haveria outra temporada. Então, vamos esperar para ver.

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