Estereótipo “cômico” da mulher obcecada por um homem não tem mais graça
Kim passou por uma mini-mudança em 'A Dona do Pedaço', e o resultado não foi tão legal.
Desde quando foi apresentada na segunda fase de ‘A Dona do Pedaço‘, a personagem Kim (Monica Iozzi) se mostrou uma boa surpresa. Empresária, dona do próprio nariz e responsável pela carreira de Vivi Guedes (Paolla Oliveira) e Josiane (Agatha Moreira), a assessora se tornou uma das personagens mais gostáveis da novela por ser uma mulher vencedora, mas sem deixar de lado um pouco do deboche que gostamos. Porém, nossa primeira impressão sobre ela acabou rapidinho: agora ao lado de Márcio (Anderson di Rizzi), Kim se revelou como uma personagem cômica bem pouco moderna na novela.
A mudança na personalidade de Kim aconteceu há poucos capítulos. A antes mulher-independente demonstrou em uma balada, ao lado de Vivi, que gosta de um homem certinho, e seu alvo então se tornou Márcio, o funcionário da Bolos da Paz. Kim o abordou na balada, beberam um monte e foram até o apartamento do rapaz. Após uma noite de romance, Márcio a rejeitou pois ele cometeu um erro… tem uma namorada, Sílvia (Lucy Ramos), e isso ativou o lado “obsessivo” de Kim.
A empresária não aceitou de forma alguma que o homem já era comprometido, e começou a fazer pequenos joguinhos com ele. Primeiro, jogou a chave do apartamento pela janela (com os dois trancados do lado de dentro, lógico). Depois obrigou o rapaz a lhe dar carona, e ao vê-lo falando no celular com a namorada, Kim logo pegou o aparelho e arremessou pela janela do carro em movimento. Para se livrar de Kim, Márcio precisou trancar a porta do carro e deixá-la sozinha na rua. Acredite, tudo isso foi feito como uma forma de cena cômica.
O relacionamento conturbado de Kim e Márcio promete ser tratado como humor nos próximos meses de ‘A Dona do Pedaço’. Temos aqui dois atores experientes com humor, um timing bom na direção e umas tiradas que até parecem engraçadas num primeiro momento, mas apenas reforçam o estereótipo da mulher obsessiva que tanto foi usado no passado para desqualificar as mulheres.
A narrativa da mulher “maluca”, ou da mulher “obsessiva”, é usada há muito tempo na mídia e é um daqueles estereótipos que ficaram bem datados, assim como as piadas de loira. Há outras formas de continuar essa dinâmica da Kim com o Márcio sem precisar apelar para um humor tão antiquado. A personagem já tinha se mostrado inteligente, por que reduzi-la a apenas uma doida obcecada pelo homem, ignorando toda a construção feita até agora?
Em uma história que prometia trazer a mulher ao protagonismo de sua própria história, seja com Maria da Paz erguendo um império sozinha ou então com uma diretora mulher cuidando da principal novela da Globo, uma personagem como a Kim mostra um passo atrás. Vamos torcer para que isso seja ajustado.