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Erika Januza diz por que ainda é preciso falar de racismo na TV

"As pessoas acham que porque eu sou atriz eu não passo por isso. Basta ser negro para passar por isso", conta a atriz de "O Outro Lado do Paraíso".

Por Júlia Warken
Atualizado em 9 dez 2020, 09h15 - Publicado em 7 nov 2017, 17h20
Raquel (Erika Januza) (Raquel Cunha/)
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Em “O Outro Lado do Paraíso”, a atriz Erika Januza tem uma responsabilidade e tanto: ser a principal personagem negra da trama e problematizar a questão racial no horário nobre. Num primeiro momento, a descrição da personagem Raquel parece um clichê – ela é a empregada doméstica que vive uma paixão com o filho da patroa -, mas quem vem acompanhando a novela já percebeu há muito mais nuances nessa história.

Raquel é uma garota quilombola, que sai do Jalapão para trabalhar em Palmas e, apesar de não estar acostumada ao novo ambiente, ela sabe muito bem como se posicionar frente à discriminação que sofre no lugar onde trabalha. A personagem passa longe do estereótipo da mocinha que precisa ser salva pelo príncipe rico e visa representar as milhares de moças pobres que batalham por uma vida melhor, sem abandonar o sorriso, mas também sem levar desaforo para casa.

Erika Januza (O Outro Lado do Paraíso)
Erika diz que se apaixonou pelo Jalapão: “Energias renovadas” (Raquel Cunha)

Outro detalhe importante é que, na atual novela da 21 horas, a empregada doméstica tem voz e não é uma mera figurante. E essa voz é fortemente direcionada às questões de raça e de classe social.

Mas será que a gente ainda precisa bater nessa tecla? Para responder a essa pergunta, Erika nem precisa fazer esforço: “Essa é a minha causa e eu adoro quando me põem para falar sobre isso. Pouco tempo atrás um cara gritou para mim ‘tinha que ser neguinha mesmo’. Fiquei com tanta raiva, me desestabilizou tanto, que eu tive que parar o carro. As pessoas acham que porque eu sou atriz eu não passo por isso. Basta ser negro para passar por isso”.

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Visivelmente feliz por estar representando esse papel, Erika espera que a história de Raquel possa empoderar as espectadoras. “Quando a gente retrata a realidade e sente que as pessoas podem se identificar – como eu tenho certeza de que muitas vão se identificar e eu mesma me identifico – acredito que talvez uma empregada doméstica que esteja passando por humilhações no lugar onde trabalha, achando que não tem o que fazer… se ela chegar em casa, assistir à TV e ver que ela pode se defender, ver que ela tem direitos e ver ‘nossa, estão contando a minha história’, para mim é uma enorme satisfação”.

Erika Januza e Caio Paduan (O Outro Lado do Paraíso)
A história de Raquel e Bruno visa mostrar as barreiras enfrentadas por casais interraciais (Raquel Cunha/)

Em “O Outro Lado do Paraíso”, Raquel trabalha na casa do juiz Gustavo (Luis Melo) e a esposa dele, Nádia (Eliane Giardini), é bem esnobe e racista. Quando situações ofensivas acontecem, Nádia é repreendida pelo marido e pelos filhos e a novela também se propõe a explicar um pouco sobre como funciona a legislação brasileira em relação ao racismo. Erika acredita que a forma como a questão está sendo tratada serve como prestação de serviço, pois muitos negros ainda desconhecem seus direitos.

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Ela também defende que o romance com o personagem Bruno (Caio Paduan) tem um peso importante, pois mostra que a classe social não deve ser um empecilho nas relações de afeto. Além disso, Erika enfatiza a importância da representatividade negra na TV e comemora o panorama atual, que está finalmente dando atenção a isso – mesmo que a passos lentos.

“Identificação é uma coisa muito importante. Você assistir a alguma coisa e se identificar é muito gostoso. Como na questão do cabelo, eu fico tão feliz quando alguém vem e fala ‘seu cabelo é igual ao meu’. Nas ruas eu vejo muitas mulheres com o cabelo como o meu e é muito importante que elas possam ligar a TV e que possam se identificar. Eu não tive isso, eu tinha que alisar meu cabelo para que ele fosse como os que eu via nas novelas. Para mim, ver essa mudança na TV é uma vitória muito grande”.

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