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Denise Fraga: “Somos agentes de transformação da própria vida e duvidamos disso”

Novo filme de Denise Fraga retrata um casal em processo de separação na mutante cidade de São Paulo

Por Luísa Graça (Colaboradora)
Atualizado em 16 out 2016, 04h53 - Publicado em 7 abr 2016, 16h02

O cineasta Luiz Villaça e a atriz Denise Fraga são cúmplices na vida e no ofício. Juntos, marido e mulher fizeram trabalhos para o cinema, teatro e televisão como o longa Cristina Quer Casar, a série 3 Teresas, do canal GNT, e Retrato Falado, quadro do Fantástico em que Denise interpretou mais de 100 mulheres diferentes. Casados há 21 anos e pais de dois meninos, eles gostam de observar o cotidiano e dar atenção aos pequenos dramas do dia-a-dia. O mais novo projeto do casal não foge a esse olhar.
De Onde Eu Te Vejo, comédia romântica tão simples e bonita quanto o seu título, dirigida por Villaça, acompanha o casal Ana (Fraga) e Fábio (Domingos Montagner) durante sua separação.  Ele sai de casa, mas não chega a ir tão longe. Muda-se para o apartamento do outro lado da rua e dessa distância cada um passa a assistir a vida do outro, lidando também com as saudades da filha, que vai morar no interior para fazer faculdade. Mas se engana quem pensa que isso soa como drama – é mais como a vida mesmo, meio cômico, meio dramático. Com participações de Marisa Orth, Laura Cardoso e Juca de Oliveira, o longa que estreia hoje nos cinemas conta ainda com São Paulo, cidade que respira e se transforma junto com seus habitantes, como espécie de personagem secundária da trama. 

São Paulo é a cidade que Denise chama de lar desde 1991, quando deixou o Rio de Janeiro. Em duas conversas com a reportagem de CLAUDIA editadas aqui, a sensível e generosa atriz fala sobre casamento, a importância de viver criativamente e afirma que existe, sim, amor em SP.

Como você enxerga o amor da Ana e do Fábio, personagens centrais de De Onde Eu Te Vejo?
Acho o casamento deles muito identificável. É uma família muito crível. A Ana tem mania de querer novidade e num casamento é natural surgir esse tipo de angústia. Como conseguir lidar com esse casamento depois da paixão. Ela tem certeza de que as mudanças pelas quais as pessoas passam têm de desaguar em algum lugar. O Fábio não pensa assim. Ele tem uma compreensão quase instintiva de que a vida é isso. Quando você tem um casamento de muito tempo, e eu tenho, vai vendo que é assim mesmo. Sobe, desce, vai e volta. É uma construção. 

O filme tem seus momentos dramáticos, mas não deixa de ser uma comédia. Você concorda?
Sim, essa divisão entre drama e comédia está cada vez mais diluída para mim. Gosto desse terreno do meio – fazer uma pessoa que está com o olho cheio d’água dar uma gargalhada ou uma pessoa que está rindo travar. O que adoro no filme é que esse casal precisa se ver de longe para se ver de perto. Passam a perceber coisas que não percebiam, inclusive que não era tão fácil assim se separar. E é por isso que não deixa de ser uma comédia, porque nós somos ridículos na falta de percepção de nós mesmos! Se você filmar um casal discutindo e colocar o vídeo para eles verem no dia seguinte, é provável que eles riam. Mas ninguém consegue rir na hora, né? E a arte existe para isso, para a gente se olhar por outra janela.  

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O que te faz rir?
Eu sou ótimo publico! Rio com facilidade, graças a Deus. Sou a menos engraçada na minha casa. O Luiz [Villaça] tem esse jeito sério dele, mas é muito engraçado, por incrível que pareça. E meus filhos são uns piadistas. Têm humor e ironia, o sarcasmo necessário – pedi isso a Deus. Aliás, sempre que vejo um bebezinho desejo que ele tenha humor. Humor é uma coisa que salva mesmo!

Casados há tanto tempo, como é dividir a vida e o trabalho com o Luiz?
A gente gosta de trabalhar juntos. Acho que conseguimos uma maturidade qualquer, uma harmonia que a gente respeita. Também somos exigentes um com o outro. Falo coisas para o Luiz que talvez não falaria para outro diretor e vice-versa. Extraímos o melhor um do outro. Não que exista um segredo para uma relação – seria fácil se houvesse uma receita [risos], mas acho essa coisa de ser melhor a partir do outro essencial. Você se deixar moldar por essa dupla, exercer complementariedade nas coisas. Eu e o Luiz somos muito diferentes. Discutimos muito, até quando trabalhamos. Mas às vezes uma cena deixa de ser uma coisa ou outra pra ser uma terceira: o montante de nós dois juntos. Somos abertos um para o outro pelo quanto nos modificamos no ofício e na vida. Mas não é fácil, viu? É uma construção. 

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De Onde Eu Te Vejo é um pouco sobre isso também.
Sim! É também sobre você entender a vida como uma massa que você modela. Às vezes, a gente acha que a vida é o que é e pronto. É incrível como somos agentes de transformação da própria vida e duvidamos disso. Deixamos nossa criatividade muito para o trabalho, para o que entregamos pro chefe e o resto fica abandonado à sorte, ao tempo, aos acontecimentos. Sempre fico feliz quando faço uma peça ou um filme que faz as pessoas saírem do teatro ou do cinema com vontade de viver melhor. E viver mais bonito, viver criativamente. Colocar um pouco de poesia na própria vida. Sinto-me modificada pelos filmes que vi, sabe? A arte ajuda a gente a ser complacente com a imperfeição humana, a ter compreensão daquilo que é humano porque ela faz a gente olhar para isso com olhos poéticos. Eu falo que quem lê [Fiódor] Dostoiévski e Fernando Pessoa, no mínimo, vai sofrer mais bonito [risos]. 

Nesse sentido, você acha que interpretar mulheres comuns, como você costuma fazer, ajuda a despertar esse olhar?
Eu e o Luiz temos amor pelo cotidiano. Quando vamos a um restaurante reparamos nas pessoas, nas conversas. Acho que por esse motivo isso permeia o nosso trabalho. Gostamos mesmo de filme de relação humana, daquilo que pertence ao dia-a-dia. Vem daí nossos trabalhos serem sobre pessoas muito simples, pessoas reconhecíveis. Da observação cotidiano, da vontade de ver que a vida pode ser melhor vivida. A vida nesta cidade, então, é uma coisa muito rica. O Luiz é paulistano, eu moro aqui há muitos anos. Ando muito pelas ruas de São Paulo. Gosto de andar pelo meu bairro, ponho um boné e um óculos e vou até a Avenida São João, o Elevado. Como é exuberante o material humano daqui.

Quando você chegou aqui, conseguiu enxergar São Paulo assim de cara ou levou tempo para achar a cidade bonita? 
Não demorou pra eu achar São Paulo bonita. Talvez a Ana seja a personagem mais parecida comigo que já fiz – sou meio distraída como ela, não tenho essa coisa mística, mas também sou antenada a sinais e gosto de olhar para a cidade. Cheguei aqui e era a primeira vez que eu ficava sozinha na minha vida. Achei tudo lindo! Parecia que eu estava em Nova York. Eu morava ali no Hotel Jaraguá e andava pela Barão de Itapetininga, pela 7 de Abril, gostando de ver aqueles edifícios cheios de fuligem. O Luiz diz que eu tenho olhar de estrangeira. E eu nunca perdi nem vou perder esse olhar sobre SP. É uma delicia ser estrangeira para sempre, uma forasteira. Acho São Paulo bonita há muito tempo e é claro que o Luiz me fez achá-la mais bonita, porque foi aqui que nos conhecemos e tivemos esse encontro lindo. SP é uma cidade acolhedora, fiz muitos amigos aqui. Apesar de tão cinza e tão caótica, ela é cheia de amor pelos cantos. 

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O que você gosta de fazer em São Paulo quando não está trabalhando?
Ter um tempo livre é coisa rara, mas eu gosto muito de ir ao cinema sozinha à tarde. Ir ali no Reserva Cultura e depois andar pela Paulista. O cinema faz a gente olhar com olhos generosos para a própria vida e viver de uma forma cinematográfica. Os americanos fizeram isso como ninguém, né? Eles distribuíram pelo mundo o american way of life, dominaram o mundo com seu cinema. Entenderam o poder que tem um filme! Poder filmar em SP e mostrar nosso viver nesta cidade, no Brasil… Acho que a gente já fez muitos filmes sobre nosso sertão e nossas favelas, e é sempre bom fazê-los, porque o drama dessas realidades nunca será esgotado. Mas é muito bom poder contar também uma história brasileira sobre um casal que se separa através dos olhos doces com os quais o Luiz Villaça enxerga a cidade e conta essa história.

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