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Daniela Mercury declara: ‘Meu legado é abrir cabeças’

Em entrevista exclusiva, a cantora conta como tem sido a vida depois da atitude de declarar publicamente amor à uma mulher.

Por Dagmar Serpa
Atualizado em 28 out 2016, 03h04 - Publicado em 16 jul 2014, 22h00

Foto: Divulgação

Como todo mundo sabe desde abril de 2013, Daniela Mercury declarou publicamente seu amor homossexual no Instagram, com direito a uma imagem de um quase beijo, e provocou um vendaval. Suas três filhas adotivas, Ana Isabel, 4 anos, Ana Alice, 12, irmã legítima de Isabel, e Márcia Vanessa, de15, segundo ela, absorveram a novidade logo e hoje chamam as duas de mãe – e até se aproveitam da fartura. Mas o post bombástico na rede de compartilhamento de fotos abalou não só a vida de Daniela e da parceira Malu Verçosa, mas também a do trio, dos pais, sogros, irmãos e dos dois filhos naturais da baiana: o músico Gabriel, 28, e a bailarina e atriz Giovana, 26, ambos da primeira união de Daniela, com o engenheiro Zalther Póvoas.

As duas mulheres ainda celebraram um casamento civil e, quando a calmaria parecia restabelecida, o casal escreveu a quatro mãos um livro, Daniela & Malu – Uma História de Amor (Leya), lançado em dezembro. Foi nessa ocasião que Daniela falou a CLAUDIA sobre “a nova fase”, como às vezes dizem os pais dela. A seguir, trechos da conversa, na arejada casa da cantora, em um condomínio fechado de Piatã, em Salvador – com Malu sempre por perto.

Vocês dizem no livro que não faziam ideia de como seria depois de postar as fotos no Instagram. Passados meses, qual foi, de fato, o impacto na sua vida cotidiana?

DANIELA – Foi um novo momento para mim, com muita demanda da imprensa, como se fosse um lançamento vibrante de um disco. Foi maravilhoso. Oh, meu Deus, sonhei tanto em mudar o mundo, e Malu também, como jornalista. E a gente descobre que nossa experiência pode fazer um bem enorme a tanta gente. Aí tivemos coragem para dar continuidade. Porque a gente ouviu muito: “Pra que isso? Por quê?” Porque a gente viu que era importante e resolveu segurar essa. Perguntam: “Daniela, você tá levantando bandeira?” Digo: “Não, eu sou a própria bandeira, pela primeira vez”. Não sou a preta que canta Pérola Negra, eu sou a mulher que diz que namora com outra mulher, e isso fez bem a outras pessoas. O foco do livro é o amor que transforma. Nós fizemos uma revolução pelo amor.

Como sua família e a de Malu foram abaladas por essa revolução?

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DANIELA – Imagine que toda pessoa com uma vida pública impacta a família. Qualquer coisa que acontece, a família toda é cobrada por aquilo. Não é cômodo para ninguém. Parente de rainha é família real. A pessoa chega ao salão de beleza e perguntam: “E aí, o que você acha? Como elas estão?” Nossas famílias comentam que ouvem coisas agradáveis e desagradáveis também. Aí todos vão em nossa defesa. Pode ser cansativo, emocionalmente desafiador. Meus dois filhos mais velhos tiveram que responder a muitas perguntas. Eu vi o Gabriel falando na TV que homossexualidade é uma coisa já elaborada pra ele desde menino. Sempre conversei sobre diversidade. E ele diz: “É a vida da minha mãe. Estou feliz se ela está feliz”.

E seus pais, também são questionados sobre isso? Como reagiram e estão reagindo a esse furacão todo?

DANIELA – Dias antes do nosso casamento, um jornal do Rio de Janeiro ligou para o meu pai, que é aposentado e fica sozinho em casa. Por mais que eu o alerte, ele não se dá conta e tem a bondade de atender jornalistas. Acabou que publicaram que meu pai estava contra o casamento, o que era mentira. Ele ficou arrasado, minha mãe ficou arrasada, eu fiquei arrasada. Liguei para o meu pai e perguntei: “O que aconteceu?” Ele não queria falar. Minha mãe entrou no meio: “Abreu, diz à menina o que foi que houve”. E ele respondeu: “Não atendi nenhum telefone”. Ela: “Atendeu, sim, alguém falou com você!” Aí ele, com vergonha, porque viu que tinha feito besteira: “É, um homem ligou, saiu perguntando coisas e eu disse que não queria falar, que não tenho nada a ver com a vida da minha filha”. Foi uma forma de se esquivar. Aí saiu que meu pai não ia ao casamento, que ele era contra. Olha o impacto negativo!

Mas pai e mãe foram ao casamento?

DANIELA – É lógico. Estava fora de cogitação não irem.

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E fizeram as pazes rápido?

DANIELA – Gerou um stress enorme, ficou parecendo que ele era contra o casamento. E ele: “Não, minha filha, eu vou, estou com a roupa pronta”. Mas foi uma aporrinhação. Até se esclarecer, a situação foi muito chata. Foram necessários uns bons telefonemas. Precisou ligar, reiterar as coisas, ele dizer que me amava, que queria ir (ao casamento). Ele não se atreveria a não ir! A gente tem uma relação forte e meus pais não têm chance de escapulir de mim, mesmo que quisessem. E eles nunca escapuliram, porque a gente se ama demais. Lá em casa, quem ama não tem escolha, apoia mesmo.

No livro, é dito que os filhos adultos tratam vocês duas, o casal, com carinho. É sinal de que criou bem os filhos? O que fez de especial?

DANIELA – Eles estudaram, desde os 2 anos, em escolas construtivistas, que compartilhavam os mesmos princípios de diversidade e liberdade. Tinham como colegas crianças com deficiência, de nacionalidades, raças e universos diferentes. Aprenderam a exercitar sua cidadania. Minha família sempre foi lúcida. Não existe preconceito e discriminação em nossa casa. Exemplos sempre valem mais que milhões de palavras. Meus filhos tiveram o meu testemunho, de uma pessoa que luta pelos direitos humanos a vida toda. Os filhos são o que a gente consegue passar para eles. Mas não é só com discursozinho ou deixando a escola educar.

Daniela Mercury declara: 'Meu legado é abrir cabeças'

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Foto: Divulgação

E desde que começou essa história, em abril, não houve um dia em que as filhas menores chegaram da escola chateadas porque disseram isso e aquilo?

MALU – A mais velha tem 15 anos. Essa geração é muito diferente da nossa, né? Eles têm uma cabeça mais aberta. Então, admiram a postura de coragem da gente, de falar a verdade, de não ter medo de nenhum tipo de retaliação, de ser livre. Ela é tratada (na classe) como uma “ídola” e mandam recado e beijo para a gente.

Quer dizer, a iniciativa de abrir o jogo foi libertadora para todos?

DANIELA – E fazer casamento civil foi mais libertador ainda.

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MALU – Conheço mulheres que criavam filhos juntas já havia dez anos e nunca tinham tocado no assunto de que eram um casal. Uma vida inteira e nunca tinham falado. A gente tem amigas que adotaram crianças e nunca se beijaram nem deram um selinho na frente das crianças. A gente não tem problema nenhum porque as meninas acham muito natural. Elas veem o amor. Elas fazem cara de nojo, mas é para essa coisa de ser apaixonada. “Ah, de novo essa paixão, esse grude!” Ontem mesmo, a do meio estava tomando café da manhã com a gente, aí olhava e fazia: “Hum… de novo! Ai, que saco”.

DANIELA – E elas se adaptaram mesmo à Malu. As meninas são apaixonadas, loucas por ela.

MALU – A menor é a que melhor explora o fato de ter duas mães. Porque é o máximo, né? Quando não está uma, está a outra para resolver as coisas. Porque as duas resolvem tudo na vida dela. É o remédio, o cachorro que mordeu, a irmã que não quer dar não sei o quê…

Então, com as três meninas foi tudo muito tranquilo?

DANIELA – Um dia, logo depois que saíram capas (de revista, com ela e Malu), a do meio chegou em casa falando disso. Ela estava ainda sem entender muito. O que ocorreu é que ela não sabia se aquilo era bom ou ruim. Só via que estava mobilizando os colegas. “Ah, sua mãe está namorando com outra mulher?” Então, ela ficou meio atrapalhada vendo aquela repercussão. Como a escola é construtivista, o que se faz é aproveitar para estimular discussões. Na sala de Alice, conversaram sobre diversidade para que a situação ficasse tranquila. Teve essa sensibilidade da escola de acolher, de debater, de tratar o assunto com clareza. Foi, inclusive, tema em reunião de pais.

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Você já declarou que, eventualmente, teve outras relações com mulheres antes. Seus pais sabiam disso? Se acontecia, você nunca escondeu deles?

DANIELA – Nunca, nunca… Desde pequena, eu sou assim. Sou um excesso de verdade. Minha mãe sempre reclamava comigo quando eu dizia que não gostava de um presente. Ela falava que aquilo era falta de educação. E eu, pequenininha, dizia: “Mãe, eu não consigo ser hipócrita”. Não consigo mesmo esconder nada. E eu não estou preocupada com o que as pessoas julgam certo ou errado. Eu simplesmente existo. Minha mãe e meu pai me deram o pozinho da vida e me educaram para existir integralmente.

Por que você resolveu adotar as meninas?

DANIELA – Desde o começo da minha vida, eu tinha planos de adotar. Eu, por mim, tinha uma creche. Sou de família grande, somos cinco irmãos. Acho que, quanto maior a família, mais rica a sua experiência. Mas as três meninas têm gênios fortíssimos. Lá em casa, todo mundo é forte e faz o que quer. Graças a Deus! Acho isso maravilhoso. Porque eu tenho que lidar com essa diversidade, né?

Malu virou mãe delas também. Aconteceu naturalmente?

DANIELA – Quando ela resolveu ficar comigo, já sabia que eu tinha as meninas. Disse: “Eu sei que vem o pacote completo”. Perguntei: “E aí?” E ela: “Eu topo o desafio”. Fiquei surpresa, porque a gente podia ter ficado alguns anos namorando, com menos comprometimento. Não precisava morar na mesma casa. Mas Malu viu que não tinha muito jeito, porque como é que eu ia conseguir dar conta de três crianças, de casa, de carreira, de não sei o que mais e dela? Ela viu que, para ficar comigo, não tinha meio-termo. Era ou vai ou racha. Foi uma decisão corajosa. Digo que não foi o Instagram, a maior coragem foi casar comigo. Falo para ela: `”Amor, você é

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