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Camila Pitanga: “Não podemos mais ignorar a falta de representatividade da mulher”

Recém-nomeada embaixadora da ONU Mulheres, a atriz reverte seu sucesso em prol de causas sociais. O que não a impede de continuar brilhando na televisão. Ou de se revelar uma persona divertida e debochada no universo digital

Por Isabella D’Ercole
Atualizado em 15 out 2016, 23h09 - Publicado em 3 abr 2016, 06h00
Bruna Castanheira
Bruna Castanheira (/)
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Um novo papel se desenha na vida de Camila Pitanga, 38 anos. Em dezembro último, foi nomeada embaixadora nacional da Boa Vontade da ONU Mulheres, entidade que defende os direitos femininos pelo mundo. Ela é a primeira das Américas a receber tal título, e se junta a estrelas como a britânica Emma Watson e a australiana Nicole Kidman. “Camila tem uma corajosa trajetória ligada às causas sociais. De forma destemida, colabora para a visibilidade de mobilizações políticas e da própria ONU, sempre em favor da igualdade”, declarou Nadine Gasman, representante do órgão no Brasil, na cerimônia de posse. Entre as prioridades estabelecidas por Camila está a mudança no cenário político brasileiro. “Não podemos mais ignorar a falta de representatividade da mulher”, disse, olhos no horizonte carregado de nuvens da Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, onde encontrou a equipe de CLAUDIA.

Assumir tarefa de tamanha importância não parece assustar Camila, que escolheu as redes sociais para reverberar suas ideias sobre a questão da igualdade. Toda hora é hora e ela não larga o celular. No Facebook, avalia um vídeo que denuncia o racismo na TV. No WhatsApp, grava mensagens de voz. E aí fica evidente que nem só de trabalho vive a moça. Ela administra, a qualquer tempo, compromissos profissionais e pessoais. Conforta uma amiga, vítima de acidente de trânsito. Conversa com a mãe. E também com o médico que, naquele dia, teria operado seu padrasto. Seu tom de voz traz sempre embutido uma nota positiva. “Vai dar tudo certo!”

Mais que administrar tantas tarefas, Camila parece perita em cultivar muitas relações. Orgulha-se da convivência harmoniosa com o ex-marido, o diretor de cinema Claudio Peixoto, com quem divide os cuidados com a filha, Antonia, que completará 8 anos em maio. Sorri fácil ao falar de sua nova e declarada paixão, o ator Igor Angelkorte, com quem adora pedalar em direção ao cinema – para depois trocar ideias sobre o filme. Leveza que contrasta com a de sua personagem na próxima novela da 9, Velho Chico, que estreia este mês. A atriz será a introspectiva Maria Tereza, que vive a angústia de um grande amor, nunca oficializado. A seguir, ela fala, sobretudo, de suas grandes inspirações.

Bons exemplos

O divórcio dos pais, quando Camila tinha 9 anos, foi decisivo para o despertar do feminismo na menina. Ela e o irmão, Rocco, foram morar com o pai, o ator Antônio Pitanga. Ao se tornar a “mulher da casa”, ela se sentiu valorizada. “Eu tinha autonomia, minha opinião pesava nas decisões”, conta. Depois do pai, outras figuras a influenciaram. “A Maria Bethânia, para mim, é um exemplo de mulher que sabe se impor, mas não através da força”, avalia. A referência maior, porém, viria aos 16 anos, quando o pai se casou com Benedita da Silva, hoje deputada pelo Rio de Janeiro. “Eu e a Bené temos as nossas diferenças, mas ela é ativa no empoderamento feminino, batalha pelo que acredita. Foi uma das pessoas que me fizeram ver que nós, mulheres, temos fibra”, afirma.

O lado bom da fama

Camila não acredita ter o dom para a carreira política. Mas sabe que sua visibilidade, como artista, pode ser canalizada para o bem. Há dez anos, tomou a dianteira da ONG Movimento Humanos Direitos. Como diretora-geral, costuma acompanhar, nos tribunais, o julgamento de casos contra empresas acusadas de trabalho escravo, principal alvo da organização. Nessa causa, conta com o apoio de colegas como Dira Paes e Letícia Sabatella. “Como toleramos um país com desigualdades tão radicais? Como assistimos com naturalidade pessoas passando fome, sofrendo racismo? São essas as perguntas que me movem nesse projeto”, diz ela. “Também já fui à cidade de Rondon do Pará (PA) para conversar com uma mulher ameaçada de morte por causa de conflitos de posse de terra. Quando eu vou, a imprensa dá atenção”, explica.

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Uma grande família

Os dilemas da maternidade afligem Camila, mas ela procura não se entregar à culpa. “Minha mãe não pôde me criar porque teve suas dificuldades. Então estou desenvolvendo esse meu lado agora, com a Antonia.” Admitir que nunca será uma mãe perfeita é parte do seu aprendizado. Um de seus maiores defeitos, ela aponta, é dar muita abertura à argumentação da filha. O toque veio de uma amiga, que recomendou mais assertividade. “Um dia Antônia me disse: ‘Tá bom, mãe, chega de conversa séria’ ”, diverte-se. “Foi quando percebi que pesava a mão nas explicações. Mãe, às vezes, tem que falar não e ponto final.” De todo modo, reconhece que está fazendo um bom trabalho: “Pela felicidade da Antonia, pela força que ela exerce no mundo, por se mostrar uma menina livre e entusiasmada”. Para a atriz, o sucesso é também resultado de um esforço coletivo, que se reflete num arranjo familiar em que imperam o companheirismo e o respeito. “Bato no peito para dizer que eu e o Claudinho, pai da Antonia, somos os melhores ex do planeta. Quando minha filha está com ele, me sinto tranquila.” Camila também fica à vontade quando é Gabi, a nova companheira de Claudio, quem vai buscar a menina na escola. Não é incomum ver os dois casais reunidos, aos domingos – para comer, conversar e dar risada. “Também vão o meu pai, a mãe do meu namorado… Não somos uma família tradicional, mas acreditamos no melhor do outro, temos o astral lá em cima”, completa.

Autêntica e divertida

Camila adora as redes sociais. “No Facebook, descobri um canal para discutir temas sérios. Lanço questões e as pessoas conversam comigo, me dão insights”, diz. Foi ali que ela viu crescer movimentos feministas como #meuprimeiroassédio e #carnavalsemassédio. “O que me tocou foi a chance que essas mulheres tiveram de falar. No final, virou uma terapia coletiva, uma rede nacional de escuta e acolhimento”, conta. Em seu perfil do Instagram, @caiapitanga, publica fotos sem maquiagem e em momentos relaxantes. Já no Twitter, @CamilaPitanga liberou seu lado debochado. Em 24 de fevereiro, tuitou: “Querido @pefabiodemelo e demais correligionários. É pecado gostar MUITO do novo clipe do Justin Bieber?” No início, ela se assustou com os comentários dos haters. Mas logo se deu conta de que o humor ácido é característico da rede. “Passei a me chamar de ridícula antes que os outros o fizessem”, diz, rindo. “As redes são plurais, como nós. A comunicação é solidária, estreita laços mesmo com quem não conhecemos.”

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