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Alinne Moraes opina sobre aborto: “a decisão cabe a cada uma”

Atriz faz questão de defender liberdades individuais

Por Pedro Henrique França
Atualizado em 20 jan 2020, 18h46 - Publicado em 9 mar 2017, 15h55
 (Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/Estilo)
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Pode, a princípio, parecer charme. Mas acredite: Alinne Moraes, 34 anos, demorou a se entender com o espelho e se reconhecer bonita.

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Passou a curtir sua aparência apenas depois de sessões de terapia, entre os 17 e 18 anos, que começou a fazer assim que se mudou para o Rio de Janeiro, onde mora. “Foi quando questionei de que batom, música e roupa eu, Alinne, realmente gostava, sem a influência da moda. Comecei a me achar bonita porque fui me reconhecendo”, diz. Até então, essa paulista de Sorocaba já colecionava cinco anos trabalhando como modelo, desfiles em Paris e Nova York e um apartamento próprio, comprado aos 16. No começo da carreira, era considerada andrógina: alta para a idade – aos 12, já media o atual 1,73 m –, com olhão, bocão. Todo mundo apostava que ela cresceria mais. Mas parou de ganhar altura e passou a ser vista como um tipo comercial. Chegou a ouvir que era linda, só que com “cara de atriz”. Esse acender e apagar de luzes tão rápido na moda é uma das coisas que mais a frustram no meio – algo que também vê na televisão, para onde foi pós-passarelas. Mas, quando isso aconteceu, ela era outra Alinne.

A que chegou à televisão sem querer, numa busca da Rede Globo por rostos novos para a novela Coração de Estudante (2002), já lidava bem com o espelho e enxergava a verdadeira Alinne – que não só é muito bonita, mas também tímida. Um de seus pavores é encarar um programa de auditório. “Lá vem ela, a maravilhosa, a mulher do momento: Alinne Moraes” é uma introdução que sempre ouve, mas com a qual não se acostuma. “São pessoas aplaudindo a Alinne que criaram, e não as personagens que faço. Sinto vergonha porque não sou eu. Trabalho e volto para a Alinne que anda de chinelos e descabelada, na rua, suando, com as compras do mercado e o meu filho Pedro, de 2 anos, no colo. É assim que me sinto viva de verdade”, garante.

Alinne Moraes
Alinne Moraes ()
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Pode reparar: a atriz de fato não vive uma vida de estrela. Raramente é vista entre amigos celebridades. Seu perfil pessoal no Instagram é privado e nele quase não há colegas famosos, a não ser alguns da atual trama de que participa, a novela das 7, Rock Story, o maior sucesso entre os folhetins no ar hoje na Rede Globo. Tampouco curte as panelas formadas nos bastidores ou circula no circuito de quem busca ser flagrado por paparazzi. Amigos da emissora, “dá para contar nos dedos”.

A atriz Taís Araújo está entre eles. E sabe que, para Alinne, o Projac é apenas seu local de trabalho, sem glamour. “Ela se expõe durante o ofício. Acabou a gravação, é ela, o marido, o filho e os amigos”, conta. “O Projac é um lugar onde todos lambem você o tempo inteiro. Mas é um amor que não é amor”, define Alinne. “Se você se deixar levar por isso, começa a se distanciar do seu material de trabalho, que é o ser humano, e se torna pobre.” Ela não se mantém isolada, entretanto. Taís mesmo lembra do quanto foi generosa quando contracenaram na novela Viver a Vida (2009). Sua personagem, Helena, foi alvo de críticas, enquanto Alinne brilhava como a modelo Luciana, que vivia o drama de ficar tetraplégica. “Meu papel não rolou. O que aconteceu foi o dela, e ela teve a empatia de entender a minha posição e se mostrou humana, não ficou num reinado. Fez o trabalho que tinha de fazer e foi um colo para mim durante todo esse período”, diz. Luciana foi uma das personagens com maior carga dramática e de sofrimento que Alinne já encarou – o oposto daquilo com que está acostumada a lidar em sua vida. Quando fica para baixo, isso dura só o tempo de uma música triste, suficiente para exorcizar. “É necessário um momento de catarse assim, mas não sou muito dos dramalhões. Sou prática, não quero problemas”, declara.
Alinne Moraes
No dia a dia, a escolha também é pela praticidade. Corretivo, máscara para cílios e gloss são os itens básicos que carrega na bolsa, seu principal objeto de consumo. O guarda-roupa até conta com alguns vestidos coloridos, mas, no geral, é mais dark. “Tenho um espírito do rock. Gosto de usar peças rasgadas, um sapato empoeirado e o cabelo embaraçado.” Diana, sua atual personagem, tem um figurino próximo ao da atriz. “Assim como ela, gosto do look bota, calça jeans e camiseta. À noite, complemento com um blazer”, diz.
O estilo de Diana é inspirado em Beyoncé, Victoria Beckham e Kate Moss, com quem Alinne mais se identifica. “Sempre gostei dela. Primeiro porque tem uma androginia que eu tinha quando comecei a modelar. Depois, e sobretudo, pela mulher que é: livre, cool e que faz o que bem entende.” Já em relação à personalidade da personagem, “alguém sem filtros, que vai de 8 a 80 numa velocidade absurda”, não há tanto esse paralelo. É mais comedida a respeito de temas polêmicos, como feminismo e política. “Tenho a impressão de que, às vezes, quando falamos sobre alguns assuntos, parece que em vez de esclarecer a gente vem com mais preconceitos”, analisa.

No entanto, acaba aos poucos expressando suas opiniões nas entrelinhas. Faz questão, por exemplo, de defender liberdades individuais. “Realmente acredito nisso. Cada um sabe de sua vida, o que lhe faz bem, se está com a consciência tranquila ou não, se prefere acreditar em Krishna, Deus ou ser ateu”, afirma. Sobre a legalização do aborto, faz ressalvas, mas defende novamente que “cada um tem que decidir o que fazer com o próprio corpo”. Medo de que seu filho seja gay, não tem. E acha que aquela conversa de azul para menino e rosa para menina é um papo careta. De política, se diz “perdida, porque a gente vê que o buraco é mais embaixo”, mas não esconde ter antipatia pelo presidente Michel Temer.
Quando o foco é o amor, revela já ter arrastado alguns relacionamentos. Amadureceu, porém, e agora, casada com o cineasta Mauro Lima, com quem está há cinco anos, fala que não existe mais espaço para DRs. Amar, para ela, tem de ser libertador e tranquilo. “Não posso amar alguém e querer que ele seja menos do que sempre admirei, tentar apagá-lo. Se amo uma pessoa, quero que seja ela mesma. Que deseje e seja desejada. E também quero ser um lugar confortável para que ela possa voltar.” Lima conta que sempre reparou na beleza da mulher, “agressiva, de tanto que me impressionava”. Mas fingia não se impactar “para parecer original”.

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Alinne Moraes
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Hoje, diz sem pieguice: “Olhar dentro dos olhos dela é como descer uma corredeira”. Algumas coisas mudaram ao longo do relacionamento dos dois. A começar pela mãe que se tornou, uma espécie de “capitão interno que ela não me apresentou”, comenta ele. Outra é a vaidade que se revelou. “Quando nos conhecemos, ela me disse que se arrumava para sair em segundos e de fato o fez no início. Agora, demora o tempo que precisar e vez ou outra pede minha opinião”, entrega, rindo.

A sua beleza é mesmo muito difícil de passar batida. Só que nem de longe é seu material principal. Diretora de Rock Story, Maria de Médicis se lembra de ter ficado boquiaberta com ela na primeira novela juntas, Da Cor do Pecado (2004), mas destaca da mesma maneira o seu profissionalismo.

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“Eu tenho até hoje na memória uma cena dela saindo do mar com uma prancha de surfe. Linda, linda. De lá pra cá, ela ficou ainda mais deslumbrante e nasceu uma atriz madura, sensível e dedicada.” Atual colega de cena, o ator João Vicente de Castro vai por caminho idêntico ao opinar que Alinne representa bem a escola do diretor argentino

Eduardo Milewicz, que preparou o elenco da novela. “Ele diz que a atuação contemporânea tem uma regra básica: atuar com elegância. Usar pouco para transmitir muito. Alinne ilustra isso e é fascinante vê-la em ação. Mesmo tão bonita, quando está atuando só consigo reparar em como faz tudo parecer real.” Das grandes de sua geração, a atriz pode ser vista, além da novela, em dois filmes este mês: Os Saltimbancos Trapalhões, com Renato Aragão e Dedé Santana, e A Paixão Segundo João, sobre o maestro João Carlos Martins e com o comando de seu marido, que a dirigiu ainda na cinebiografia Tim Maia (2014).

O que Alinne enxerga no espelho está ligado ao que anda sentindo. “Se estou bem, me vejo bonita. Se não, pareço um monstro”, exagera. Antes de começar a fazer estas fotos, já maquiada, unhas e cabelos alinhados, olhou mais uma vez seu reflexo e, ao ver-se arrumada, disse estar, agora sim, pronta. “Não acordo desse jeito. Preciso de corretivo, máscara e manicure. Se acreditar que sou essa tela pintada, linda, maravilhosa, serei uma mentira”, exagera de novo. Seu rosto lavado ao chegar à sessão diz que não é por aí. Mas isso tudo, claro, é só uma questão de espelho.

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