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“A política faz parte do ser humano, especialmente se você vem da América Latina”, diz Gael García Bernal

O ator mexicano está prestes a estrear um novo filme, mas revelou a CLAUDIA que anda sonhando em entrar para a carreira pública.

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 18h52 - Publicado em 23 out 2016, 07h05
Foto: August/James Dimmock
Foto: August/James Dimmock (/)
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Apenas os poucos cabelos brancos que salpicam a cabeça de Gael García Bernal dão alguma pista de que o ator mexicano beira os 40 anos. Com jeito de menino levado, ele emenda uma piada na outra durante a conversa com CLAUDIA, em uma tenda montada na praia, durante o Festival de Cannes, na França. “Sou um homem de família agora”, diz, fingindo seriedade. De fato, ele é pai de Lázaro, 7 anos, e Libertad, 5 – frutos do relacionamento com a atriz argentina Dolores Fonzi, com quem namorou por seis anos. Solteiro desde 2014, Bernal é um homem tão bonito e cobiçado quanto discreto. “Não posso falar muito sobre isso, senão perco o mistério”, diverte-se. A verdade é que ele é um romântico típico, daqueles retratados com frequência no cinema e na literatura. “Na adolescência, não estava preocupado com sexo. Queria mesmo era me apaixonar”, lembra. “Escrevia histórias de amor, cartas para as meninas, pegava emprestados trechos de poesias do Pablo Neruda, mas nada funcionava”, completa, rindo. Poucos anos depois, ele encantaria mulheres do mundo inteiro ao protagonizar seu primeiro longa-metragem, Amores Brutos (2000), do também mexicano Alejandro González Iñárritu e, em seguida, E Sua Mãe Também (2001), de Alfonso Cuarón. 

Esse foi só o começo de um currículo internacional estrelado, em geral acompanhado por diretores renomados – que costumam disputar a agenda do ator. Agora, ele se prepara para lançar Salt and Fire (ainda sem nome em português), do diretor alemão Werner Herzog (do clássico Nosferatu, de 1979), que fez barulho no exterior, mas ainda não tem previsão de estreia no Brasil. Na trama – um thriller que debate a relação conflituosa do homem com a natureza –, Bernal é o dr. Fabio Cavani, cientista que entra em conflito com um empresário ao defender arduamente os próprios ideais. As gravações aconteceram no Salar de Uyuni, na Bolívia, o maior deserto de sal do mundo, o que garante um visual um tanto exótico à produção. 

Esses deslocamentos são uma constante na vida do ator e não só pelo trabalho. Ele divide seu tempo entre a Cidade do México, onde cresceu, e Buenos Aires, onde moram seus filhos. Fã declarado do Brasil, às vezes se hospeda em São Paulo – não é raro encontrá-lo sozinho nos restaurantes da cidade. Quando possível, combina viagens com amigos: há alguns meses, levou as crianças para uns dias de férias em Los Angeles, ao lado da família de Iñárritu. “Há muito não passávamos um tempo juntos, cozinhando para todo mundo, conversando, rindo. Foi fantástico”, conta Bernal – modesto, ele logo justifica que a intenção ao mencionar a amizade notória não é se gabar, mas reafirmar a importância de resgatar as relações próximas de vez em quando. 

Nos últimos anos, essas oportunidades têm sido cada vez mais raras: um papel fixo na televisão limitou a liberdade de ir e vir. Desde 2014, o ator passa temporadas em Nova York para se dedicar ao maestro inovador da série Sinfonia Insana, exibida no Brasil pelo canal Fox Life. Foi com ele que veio o primeiro Globo de Ouro, no ano passado. “Mais jovem, tive de me virar. Hoje, porém, tenho o privilégio de não precisar pensar em sobrevivência diariamente. Mesmo assim, sou bastante econômico”, garante. A arte sempre foi o sustento de Bernal, que tem pai diretor, mãe atriz e padrasto diretor de fotografia. Como era esperado, cresceu pelas coxias. 

Apesar da paixão declarada pela carreira, ele sonha em tirar um ano sabático ou se dedicar a outros projetos menores em áreas diferentes. Entre eles, está o plano de se envolver profissionalmente com política. Acostumado a fazer personagens engajados, descreve essa como uma faceta forte que carrega também na vida pessoal: além do ativismo ambiental, é embaixador da organização humanitária Oxfam – pela qual recentemente fez uma campanha pedindo doações a refugiados sírios. “A política faz parte do ser humano, especialmente se você vem da América Latina, onde tudo está borbulhando a todo momento”, afirma. Bernal calcula uma carreira pública de uns dez anos. “Sinto que tenho algo a dizer”. 

Na produtora que fundou com o também ator Diego Luna, a Canana, o foco são os filmes que visam conscientizar os espectadores de alguma questão importante. “No século 20, a arte era parte integral da política, ambas refletiam um futuro comum e faziam as gerações acreditarem que o mundo ia se tornar um lugar melhor. Hoje, não temos essa esperança porque nos falta a narrativa poética. Precisamos resgatá-la”, defende. 

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No decorrer de 16 anos de carreira, Bernal vem colecionando papéis marcantes, como o rebelde adolescente Octavio, de Amores Brutos, e a versão romântica e aventureira do jovem Che Guevara, em Diários de Motocicleta (foto acima), dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Em Salt and Fire, que chega ao Brasil em novembro, interpreta um cientista.

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