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A nova criação de Aguinaldo Silva

O autor de Duas Caras tem a preocupação em mostrar a cara do povo brasileiro e não repetir fórmulas

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 14h03 - Publicado em 22 out 2008, 21h00

Aguinaldo se inspirou na favela Rio 
das Pedras para compor a Portelinha
Foto: Ivone Perez

Em 2004, quando lançou Senhora do Destino, Aguinaldo Silva falou à tititi sobre o desafio de fazer uma novela totalmente diferente das outras que o consagraram, como Tieta (1989), Pedra Sobre Pedra (1992) e Fera Ferida (1993). Missão cumprida, pois na época ele inovou com a trama de sucesso.
Agora, o escritor está experimentando um novo caminho com Duas Caras, que trata da necessidade que o ser humano tem de mudar: de vida, de personalidade e até de aparência. Ousado, mais uma vez Aguinaldo quer mudar fazendo um folhetim com a cara do povo brasileiro e, também por isso, surpreendente. Uma história imperdível, como você pode ver nesta entrevista exclusiva. Confira!

tititi – Além de mestre em novelas, você foi um grande repórter policial no passado. Até em função disso, freqüentou várias favelas. Hoje, para abordar a vida nessas comunidades, você se reciclou?
Aguinaldo Silva – Eu me reciclei, sim, mas confesso, as favelas que freqüentei são todas horizontais e na região da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. Por falta de tempo e conhecimento nas outras áreas, me limitei a essas regiões. Por isso, minha favela (a Portelinha de Duas Caras) é horizontal, como é a Rio das Pedras, por exemplo.

E por que se inspirou em Rio das Pedras?
Porque lá não tem tráfico de drogas. Queria, na verdade, mostrar uma favela que fosse um bairro de trabalhadores. Aliás, todas as favelas são bairros, com a diferença básica de que não têm infra-estrutura. Estou muito mal impressionado com essa tendência do teatro, do cinema e da televisão de mostrar a favela como lugar apenas de bandidos. Eles são minoria, se impõem pelo terror, mas são minoria. Na minha novela também não existem conflitos sociais, e sim existenciais. Quero falar de pessoas, e não de luta de classes. As favelas estão espalhadas pela cidade e os políticos nada fazem porque temem perder votos. E a cidade constituída de cidadão favelado e não-favelado está abandonada à própria sorte.

O que o motivou a mostrar a favela do ponto de vista de seus moradores?
Desde Senhora do Destino minha preocupação é de não me repetir. E a gente tem essa tendência de repetir o que é bom. Quero fazer uma coisa completamente diferente. Vai dar certo? Não sei.

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A gente, então, não vai ver cenas de conflitos entre bandidos e polícia?
Não quero tráfico na trama. Mas tem uma coisa mais perniciosa, porque o Juvenal Antena, personagem do Antonio Fagundes, liderou a invasão do terreno, comandou a criação da favela, com a clara intenção de transformar aquele local em seu reino. Dez anos depois ele é um líder populista como vários na América Latina.

E você vai questionar o poder do Juvenal?
Sim… Líderes como ele existem porque as pessoas adoram ter alguém dizendo o que pode e o que não pode. Esse é um tipo que, embora o povo adore, não deveria existir, pois cada um é que tem de mandar em si. É isso que minha novela vai propor. A alternativa é que o Estado dê segurança a essas comunidades. E nós temos de exigir isso.

Mas depois vai rolar uma contestação brava por parte do Evilásio, feito pelo Lázaro Ramos, não?
Vai, com certeza. Quando o rapaz começar a dizer às pessoas que não precisam de quem mande nelas, terá início uma guerra entre ele e o Juvenal. Aliás, uma das características dos ditadores é achar que foram predestinados a comandar a vida alheia. Nos países da Europa é praticamente impossível aparecer alguém assim que vingue. O povo lá não cai nessa cilada. Mas no Terceiro Mundo fico impressionado como as pessoas – em todos os setores – têm sempre que ter um paizão.

Você resolveu abordar as mudanças devido à experiência de ter se transformado a partir de Senhora do Destino?
Ali descobri que nunca é tarde para a gente se reinventar. Por mais que você tenha uma idade avançada, esteja com a vida toda assegurada, se quiser se reinventar, pode. Em várias ocasiões minha vida sofreu mudanças radicais. Comecei a ver que no mundo atual essa necessidade das pessoas atingiu até características físicas. Elas estão aí mudando de cara, de bunda, de peito. Virou uma obsessão. Pensei em fazer uma trama sobre esse tema tão atual.

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