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90 anos de Fernanda Montenegro: relembre a trajetória dessa grande atriz

Conheça o legado da mulher que é considerada por muitos a maior atriz brasileira de todos os tempos. Feliz aniversário, Fernanda Montenegro!

Por Fernando Gomes
Atualizado em 15 jan 2020, 08h32 - Publicado em 16 out 2019, 09h00

Nesta quarta-feira (16), Fernanda Montenegro comemora seu aniversário de 90 anos. Um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, a atriz tem uma história recheada de trabalhos lindos e premiados tanto aqui quanto fora do país – não é à toa que ela é considerada por muitos como “a grande dama do teatro brasileiro”.

E durante esse quase um século de experiência – e mais de sete décadas de carreira artística – Fernanda já contribuiu muito para a cultura nacional e nos proporcionou momentos emocionantes através da sua impecável atuação em diversos filmes, séries e peças teatrais.

Nascida Arlette Pinheiro da Silva em 1929, no subúrbio do Rio de Janeiro, ela adotou o nome artístico Fernanda Montenegro por volta dos 25 anos, quando já trabalhava como locutora na Rádio Ministério da Educação e Cultura. “Fernanda” foi aderido por conta da sonoridade, que ela achava bonita e única, enquanto “Montenegro” veio de um médico conhecido de sua família. Naquela época, ela também estudava secretariado. Ali Fernanda começou a trilhar seus passos na área da comunicação e, mais tarde, chegaria nas artes cênicas.

Sua estreia como atriz foi no Teatro Ginástico, em 1950, com a peça “Alegres Canções nas Montanhas“. Lá a atriz conheceu Fernando Torres, que tornou-se seu marido dois anos depois. Ficaram juntos durante quase 60 anos, até 2008 – ano em que o ator faleceu. Juntos, eles tiveram dois filhos, Fernanda Torres, atriz, e Claudio Torres, diretor.

Fernanda Montenegro com Fernando Torres e os filhos
Fernanda Montenegro com Fernando Torres e os filhos. (Arquivo Pessoal/Globo Repórter/Reprodução)

Fernanda foi a primeira atriz a ser contratada pela TV Tupi para o teleteatro, atuando em peças famosas de autores renomados como Shakespeare e Dostoiévski. Esteve ao lado de Nathalia Timberg, Cacilda Becker e outros nomes populares na época. Naquele momento, o nome da atriz já estava em ascensão e o público começou a tomar conhecimento de seu talento. Ainda nos anos 50, ela e Fernando fizeram as malas e se mudaram para São Paulo.

O próximo passo foi sua participação no chamado “Teatro dos Sete“, uma companhia de teatro fundada por um grupo de cineastas, produtores, atores e colaboradores. Curiosamente, a equipe era formada por apenas cinco pessoas: Fernanda, Fernando, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Gianni Ratto. A estreia da companhia se deu com “O Mambembe“, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e a peça foi ovacionada durante todo o tempo em que esteve em cartaz. Fernanda contou mais sobre o sucesso dessa peça no  Globo Repórter da última sexta-feira (11).

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Teatro dos Sete
Os integrantes da companhia “Teatro dos Sete”. (Arquivo Pessoal/Globo Repórter/Reprodução)

O grupo contou ainda com o repertório de Nelson Rodrigues, que escreveu uma peça com exclusividade a pedido dos Sete. Foi aí que nasceu, em 1961, a peça “O Beijo no Asfalto“, um dos clássicos de maior prestígio da nossa dramaturgia. A história já foi adaptada mais de uma vez para o cinema. Até Viola Davis se interessou pela obra de Nelson e está produzindo adaptações inéditas para as telonas e para a Broadway.

Coincidentemente, a estreia de Fernanda Montenegro como atriz no cinema também seria em uma adaptação da obra de Nelson Rodrigues. Em 1965, a atriz estrelou “A Falecida“, filme que chegou a ser censurado durante a Ditadura Militar, sob a justificativa de que Fernanda tinha “seu peior (sic) papel em representações”.

Arquivo pessoal de Fernanda Montenegro
Arquivo pessoal de Fernanda Montenegro. (Arquivo Pessoal/Globo/Reprodução)

Nos 16 anos seguintes, a carreira de Fernanda continuaria repleta de trabalhos. Atuou em mais 14 produções de TV e cinema até chegar ao seu primeiro destaque internacional. ‘Eles Não Usam Black-Tie‘, longa de 1981, foi reconhecido em diversos festivais internacionais, inclusive no Festival de Veneza. O filme, que tem Fernanda no elenco principal, ganhou o Leão de Ouro, o maior prêmio do evento.

No mesmo ano, a atriz estreou na TV Globo com a novela ‘Baila Comigo‘, escrita por Manoel Carlos. De lá pra cá, Fernanda participou de mais de 20 novelas da emissora. Alguns de seus papéis fazem parte do repertório mais icônico da teledramaturgia brasileira, como por exemplo a clássica cena da briga do café da manhã de Charlô e Otávio (vivido por Paulo Autran) em ‘Guerra dos Sexos‘ (1983), ou ainda a vilã Bia Falcão do bordão “pobreza pega” em ‘Belíssima‘ (2005).

De 1981 até 2019, Fernanda Montenegro já fez mais de 20 novelas. Alguns papéis ficaram tão populares que ainda são relembrados até hoje.
De 1981 até 2019, Fernanda Montenegro já fez mais de 20 novelas. Alguns papéis ficaram tão populares que ainda são relembrados até hoje. (TV Globo/Reprodução - Kiko Cabral/TV Globo/Reprodução - Globo/João Miguel Júnior/Reprodução)

Outros folhetins que fizeram sucesso valem a pena ser citados são: ‘Cambalacho‘ (1986), ‘Sassaricando‘ (1987), ‘Rainha da Sucata‘ (1990) e ‘Passione‘ (2010), todas elas de Silvio de Abreu; ‘Renascer‘ (1993), de Benedito Ruy Barbosa; ‘Esperança‘ (2002), de Benedito e Walcyr Carrasco e sua participação especial (e mais recente) em ‘A Dona do Pedaço‘, novela das 21h de Walcyr, que é exibida atualmente.

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Mas o auge da carreira da atriz veio com o aclamado ‘Central do Brasil‘, de Walter Salles, lançado em 1998. Este é o maior trabalho de Fernanda até hoje. O público e a crítica (nacional e estrangeira) simplesmente amaram o filme e ele logo correu para alguns dos festivais e premiações mais importantes de todo o cinema.

Central do Brasil
Ao lado de Vinícius de Oliveira, ‘Central do Brasil’ garantiu a primeira indicação de Fernanda Montenegro (a primeira do Brasil!) ao Oscar de 1999. (IMDb/Divulgação)

De todas as indicações em grandes eventos como o Globo de Ouro, BAFTA e o Festival de Havana, Fernanda conquistou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, além de ser indicada à Melhor Atriz no Oscar de 1999. Essa foi a primeira indicação de uma mulher latino-americana à categoria. Infelizmente, a atriz perdeu a estatueta para Gwyneth Paltrow – por ‘Shakespeare Apaixonado‘. ‘Central do Brasil’ também foi a primeira indicação 100% brasileira à Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, mas ‘A Vida É Bela‘, da Itália, levou a melhor.

Os anos após a aclamação e o reconhecimento internacional trouxeram outros trabalhos férteis. Em 2000, atuou em ‘O Auto da Compadecida‘, um clássico brasileiro; fez ‘Olga‘, ao lado de Camila Morgado e a série televisiva ‘As Brasileiras‘.

Fernanda Montenegro em 'O Auto da Compadecida'
Fernanda também foi destaque na comédia ‘O Auto da Compadecida’, filme baseado na obra de Ariano Suassuna. (IMDb/Divulgação)

Em 2005, Fernanda contracenou com a filha no filme ‘Casa de Areia‘, de Andrucha Waddington, o mesmo diretor da série ‘Sob Pressão‘, da Globo. A trama gira em torno de uma mulher que é levada por seu marido junto à mãe dela para um deserto distante. Com a morte do homem, as duas são forçadas a passar os próximos anos tentando escapar do local. O filme teve um bom prestígio internacional e chegou a ser premiado no Festival Sundance de Cinema.

Tudo isso foi caminho para mais uma grande conquista internacional. Em 2013, com ‘Doce de Mãe‘, ela ganhou o Emmy Internacional de Melhor Atriz pelo papel de Picucha, uma senhora mãe de quatro filhos que tem de lidar com a realidade de morar sozinha. Mais uma vez, Fernanda Montenegro se consagrava como a nossa maior estrela da atuação, conquistando um prêmio inédito para o Brasil.

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Fernanda Montenegro ganhou o prêmio de Melhor Atriz na edição do Emmy de 2013 por 'Doce de Mãe'.
Fernanda Montenegro ganhou o prêmio de Melhor Atriz na edição do Emmy de 2013 por ‘Doce de Mãe’. (Andrew Toth/Getty Images)

Dentre os pelo menos 30 filmes e 60 peças de teatro que possui no currículo, Fernanda mostra há muito tempo que é mulher inspiradora. E ela nunca parou de trabalhar – continua firme e forte até hoje. No dia 31 de outubro, a atriz retorna aos cinemas com ‘A Vida Invisível‘, de Karim Aïnouz. Ela interpreta a protagonista Eurídice Gusmão, na fase mais velha da personagem.

O filme recebeu o prêmio especial Un Certain Regard (Um Certo Olhar, em tradução) no Festival de Cannes deste ano e é o representante do Brasil na pré-lista do Oscar 2020. A história gira em torno de duas irmãs, Eurídice e Guida, que vivem no Rio de Janeiro de 1950 e possuem personalidades e temperamentos bem diferentes. Elas são muito unidas, mas a sociedade preconceituosa e machista da época obriga as irmãs a seguirem caminhos opostos. O elenco do longa ainda reúne Carol Duarte, Julia Stockler e Gregório Duvivier.

https://www.youtube.com/watch?v=ZLsldnY0m_s

E você pensa que Fernanda parou por aí? Não! Ela também atuou em outras duas produções que serão lançadas entre o fim deste ano e o ano que vem. São eles: ‘O Juízo‘, com Lima Duarte e Carol Castro, e ‘Piedade‘, com Cauã Reymond e Matheus Nachtergaele.

Recentemente, Fernanda publicou o livro “Prólogo, ato, epílogo: Memórias“. Nele a atriz conta com esmero a sua própria história, narrando momentos marcantes de sua vida. Fica a nossa dica de leitura se você quiser saber ainda mais detalhes sobre esta mulher tão única.

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Livro de Fernanda Montenegro
Capa de “Prólogo, ato, epílogo: Memórias”, de Fernanda Montenegro. (Companhia das Letras/Divulgação)

Tendo em vista tudo o que já foi dito, uma coisa é certa: Fernanda Montenegro é uma lenda viva. Toda a sua história, seus relatos, seus diversos trabalhos e o seu impacto na nossa sociedade faz com que ela seja nada menos do que uma mulher revolucionária e inspiradora. E é incrível poder prestigiar uma atriz maravilhosa com uma carreira excepcional que nem ela. Viva Fernanda!

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