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3%: a série da Netflix dá um belo salto em qualidade na segunda temporada

E mais: a representatividade feminina é ainda mais marcante nos novos episódios, que chegam ao catálogo nessa sexta-feira (27).

Por Júlia Warken
Atualizado em 16 jan 2020, 14h57 - Publicado em 27 abr 2018, 10h00
3% (Pedro Saad/Netflix)
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A segunda temporada de 3% acaba de sair do forno e está disponível no catálogo da Netflix a partir dessa sexta-feira (27). Faz quase um ano e meio que a série estreiou, em novembro de 2016, e uma coisa é certa: valeu a pena esperar.

Basta ver as primeiras cenas para perceber que a série está mais lapidada. Isso é bem perceptível através dos efeitos visuais que já aparecem nos minutos iniciais.

A Netflix não entrega qualquer tipo de cifra, mas fica claro que o investimento aumentou. “Realmente eu não sei os números, mas o que eu vejo disso é que o ‘3%’ foi um projeto meio piloto. O ‘Club de Cuervos’, do México, também foi meio piloto. O departamento internacional da Netflix era meio piloto há uns anos atrás, então, há sim uma diferença de investimento, porque entendeu-se a potência desse projeto. Tanto é que a gente tem quatro séries brasileiras sendo lançadas [num curto espaço de tempo]”, comenta Bianca Comparato, protagonista da série.

E as boas surpresas não se resumem só à ampliação da qualidade visual. O elenco está mais afiado e o roteiro traz uma trama bem mais empolgante.

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Há muito mais dinamismo e riqueza narrativa na segunda temporada, a começar pelo fato de que, finalmente, podemos ver como é o tão sonhado Maralto. Verdade seja dita: 3% tem uma ótima premissa, mas passar uma temporada inteira vendo o processo sendo realizado ficou meio cansativo a certa altura.

Agora, além de mostrar a vida no Maralto, os novos episódios também vai explicam como ele foi criado. Só que, obviamente, a trama não se limita a ser só expositiva. Há um novo conflito rolando e muitas cenas da segunda temporada se passam no Continente – a parte miserável do universo de “3%”.

Outro detalhe positivo dos novos episódios é que não há enrolação para elucidar as questões que ficaram em aberto no final da primeira temporada. Como está o irmão da Michele (Bianca Bin)? Por que Ezequiel (João Miguel) poupou a vida dela? O que Joana (Vaneza Oliveira), Fernando (Michel Gomes) e Rafael (Rodolfo Valente) pretendem fazer agora? Tudo isso já se desenrola nos primeiros capítulos.

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O roteiro continua dando alguns tropeços, mas acerta em cheio num ponto: o protagonismo feminino está ainda mais evidente na segunda temporada. Michele continua no centro dos acontecimentos e Joana cresce em importância na trama. Além disso, uma nova personagem deixa a força das mulheres ainda mais em evidência: a comandante Marcela (Laila Garin), que é chefe da divisão militar do Maralto. Prepare-se para morrer de raiva dela!

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Laila Garin está ótima como Marcela, a comandante do exército do Maralto (Pedro Saad/Netflix)

“Contraditoriamente, Marcela pensa que todos os pontos francos são os pontos femininos. Ela tenta sempre mostrar força se masculinizando, porque ainda precisamos vestir calça e tal, para ver se a gente se iguala um pouco em algumas situações, mas eu acho que é o contrário… talvez se ela agisse como mulher, do jeito que a gente [as mulheres] aborda o mundo em vez de tentar negar isso [ela se daria melhor]. Ela só se dá mal quando ela tenta negar esse lado feminino dela”, reflete Laila Garin.

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E há ainda duas novas personagens que também são bem emblemáticas: Samira e Laís, interpretadas por Maria Flor e Fernanda Vasconcellos respectivamente. Elas são peças-chave na construção do Maralto.

“Em 100 anos de cinema, eu acho que todos os problemas masculinos em relação ao mundo, todos os conflitos do homem, já foram retratados [no audiovisual]. Os das mulheres não. Então, são novas narrativas que estão vindo por aí. E não são só novas formas de se contar essas histórias, mas também novas formas de atuar. Por consequência, a gente acaba tendo personagens muito mais profundas. A Joana na segunda temporada está mais profunda, muito mais envolvida na história. Essas narrativas vão fazendo com que a gente esteja grande, mas é também porque a gente vem de uma história do audiovisual em que sempre quem era grande eram os homens”, aponta Vaneza Oliveira – atriz que interpreta a Joana – ao falar sobre a representatividade feminina em “3%”.

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“A Joana está mais profunda, muito mais envolvida na história”, aponta a atriz Vaneza Oliveira (Pedro Saad/Netflix)
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Bianca Comparato também comemora esse aspecto da série e aponta um detalhe que, para ela, é muito significativo na trama. “Esse personagem que eu faço, talvez dez anos atrás – ou oito, ou sete – teria que ser feito por um homem, porque é um personagem que é o herói, que leva a história, quase que com uma característica ‘masculina’ de lutar pelo que quer, que é uma coisa que a gente só via homens fazendo. E o bom de ‘3%’ é que isso não é uma questão, a Michele é assim e ponto. Então a discussão é daqui para frente. Ninguém faz um comentário como ‘nossa, mas é uma mulher tão forte’, ela simplesmente é assim”.

Ao final, é justo dizer que “3%” obviamente não tornou-se uma série perfeita na segunda temporada, mas ela definitivamente amadureceu. Também é justíssimo admitir que a trama traz uma reflexão muito importante – e absolutamente atual – sobre questões sociais. Mesmo que você não tenha morrido de amores pela primeira temporada, definitivamente vale a pena dar uma nova chance.

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