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“A Fazenda” reafirma a banalização da violência contra a mulher

Ao escalar Marcos Harter e Yuri Fernandes para a atual edição, a Record mais uma vez está mostrando que não leva essa questão a sério.

Por Júlia Warken
Atualizado em 17 jan 2020, 15h28 - Publicado em 25 set 2017, 17h51
 (Divulgação/Record)
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Assim como qualquer reality show que confina diversas pessoas numa casa e as vigia 24 horas por dia, “A Fazenda” tem um objetivo muito claro: gerar audiência através da polêmica. Até aí, nenhuma novidade, e é aquela velha história: assiste quem quer.

Acontece que a gente não pode ignorar um detalhe muito importante: dar holofote para agressores de mulheres é um problema sério. E a Record está fazendo isso mais uma vez.

Assim como na primeira edição do programa – em que Dado Dolabella foi não apenas um participante, como também sagrou-se vencedor -, agora temos em “A Fazenda” outros dois homens que já tiveram que acertar as contas com a Justiça por conta de violência contra a mulher: Marcos HarterYuri Fernandes, ambos ex-BBBs.

Marcos chegou a ser expulso do “Big Brother Brasil 17”, depois de mostrar-se agressivo com Emilly Araújo, que era seu affair na casa. Na ocasião, ele foi indiciado a depôr e o Ministério Público realizou uma denúncia formal contra o médico. 

Marcos e Emilly, no BBB 17
No “BBB 17”, o comportamento agressivo de Marcos resultou em expulsão (Reprodução)

Já Yuri, que participou do reality da Globo em 2012, foi preso em flagrante três anos atrás, após agredir sua namorada na época – a dançarina Angela Souza. O lutador ficou apenas um dia preso e foi liberado após pagar fiança. 

No caso de Marcos, as agressões e o desenrolar jurídico foram amplamente noticiados e, para a surpresa de ninguém, o cara está aproveitando “A Fazenda” para difamar Emilly sempre que pode. Num dos momentos mais perturbadores, ele disse que teve medo de que Emilly tentasse incriminá-lo por estupro – como se inventar casos de violência sexual fosse uma cartada que as mulheres usam para se vingar.

Esse comentário já seria problemático por si só, mas se torna ainda mais irresponsável – e cruel – tendo em vista que a ex-BBB Monique Amin também está nessa edição de “A Fazenda”. Para quem não lembra, Monique esteve envolvida numa polêmica que culminou na expulsão de Daniel Echaniz do BBB 12. Ele foi acusado de estupro de vulnerável, pois manteve relações sexuais com Monique enquanto ela estava desacordada. Ela nega o estupro, mas já declarou que não se lembra de tudo o que ocorreu na cama naquela noite – apenas sabe que foi dormir de roupa e acordou nua. 

Voltando aos casos de Marcos e Yuri, sabemos que com currículos como os deles, ambos provavelmente se dariam bem mal se resolvessem voltar a agredir mulheres dentro de um ambiente vigiado por câmeras, mas a questão não é essa. O ponto é que, com a escalação dos dois para “A Fazenda”, a Record reafirma o quanto a violência contra a mulher é tratada como algo sem importância no Brasil.

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Também vale lembrar que, na semana passada, e atitude da Record em relação a um relato de agressão foi muito criticado. Na ocasião, Adriana Bombom teve o áudio cortado bem na hora em que estava falando sobre as agressões físicas que sofreu durante quatro anos em um antigo relacionamento.

Adriana Bombom
Em “A Fazenda”, o áudio de Bombom ficou mudo enquanto ela contava que já foi agredida (Reprodução/Record)

Por fim, sabemos que a banalização da violência contra a mulher não é algo que está inserido somente em “A Fazenda” e que o reality faz eco a um problema de toda a sociedade. Prova disso é que o público já coroou Dado Dollabela como vencedor do programa, um ano depois de ele ter sido condenado por agredir Luana Piovani.

Só que isso não isenta a responsabilidade da Record em reafirmar tal banalização mais uma vez. E esse é um problema que vai muito além do bom e velho “quem não gosta está livre para mudar de canal”. O posicionamento da emissora de Edir Macedo tem um peso sócio-cultural imenso, que vai muito além da questão referente ao bom ou mau gosto da programação de TV.

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Até quando será aceitável passar por cima da dor de tantas mulheres – e estamos falando das vítimas de violência doméstica como um todo, não apenas de Emilly, Angela e Luana – em nome da audiência pautada na polêmica?

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