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Elas lutam pela informação na crise do coronavírus

O jornalismo é essencial em momentos de crise. CLAUDIA conta a história de três profissionais que diariamente atuam para informar a população

Por Colaborou: Esmeralda Santos
Atualizado em 28 Maio 2020, 19h14 - Publicado em 28 Maio 2020, 13h31

Entendemos por heroínas pessoas que tomam a frente de uma situação difícil para ajudar quem mais precisa. No contexto atual que é a crise do coronavírus, médicos, enfermeiros e todos que atuam na área da saúde têm arriscado suas vidas por uma causa maior.

Mas há outros segmentos da sociedade com profissionais que também merecem ser lembrados por trabalharem para combater a crise e que se prontificam a não estar em suas casas para cumprir um papel importante para as pessoas que precisam se proteger da covid-19. São os jornalistas. CLAUDIA reuniu aqui a história de três mulheres que diariamente produzem informação.

Luciana Barreto é jornalista e atualmente âncora do telejornal “Visão CNN”. A emissora norte-americana estreou no Brasil em março. Quando completou um mês no ar, Luciana precisou se afastar por ter sido diagnosticada com coronavírus. “A primeira coisa que eu pensei foi viver. Recebi a notícia, pensei na minha filha e formas práticas de isolamento, e disse, meu deus, o que eu vou fazer, eu preciso ficar viva”, contou em entrevista à CLAUDIA.

O susto de estar com a covid-19 a fez refletir sobre inúmeras coisas. Luciana é uma das poucas âncoras negras e fez um pedido ao seu médico, pensando no lugar que ocupa profissionalmente e, principalmente, em sua filha. “Falei, doutor, não me deixa morrer”. O apelo foi “primeiro pela minha filha e, segundo, porque na noite anterior já tinha passado pela minha cabeça aquele filme da luta que enfrentamos para chegar ao jornalismo como âncora e uma luta por um espaço mais democrático”, relembra.

Com toda a fraqueza que a doença traz, Luciana precisou ainda ter forças para as tarefas da casa, cuidar da filha e se isolar para não contaminá-la. Mesmo sendo uma tarefa difícil, a âncora realizou tudo com maestria e muito cuidado, até que pudesse abraçar sua filha novamente, sem restrições.

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Não é #tbt não. Foi hoje. Nosso primeiro contato físico depois de um longo mês de distanciamento seguido de mais 15 dias de isolamento total e absoluto. Só agradeço.💛 #quarentena

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Quando precisou ser afastada, muito acontecia no Brasil e no mundo. No seu retorno, ministros haviam sido demitidos, a política como sempre pegava fogo e Luciana voltou no meio do furacão que já conhecia. Agora, tenta acompanhar o ritmo de seus colegas de trabalho. “Preciso correr para alcançá-los, mas vou conseguir porque não é a velocidade de largada, mas a resistência de permanecer na maratona que vai contar agora”, diz empolgada.

Luciana enfrentou a covid-19 e agora trabalha com ainda mais força à frente das câmeras. “Os jornalistas têm um papel brilhante nesse momento e eu acho que sairemos muito fortalecidos. Nunca foi tão importante nosso papel na sociedade brasileira e no mundo. O direito à informação correta é fundamental para a população”, reafirma.

A delicadeza do olhar

Karime Xavier é fotógrafa do jornal Folha de S. Paulo há 16 anos e desde que começou a pandemia iniciou um ensaio fotográfico sobre os “Essenciais”, os profissionais que não podem parar de trabalhar. Também fotografou as mulheres trans em situação de rua.

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A fotógrafa encontrou um cenário totalmente diferente de antes e, com as novas regras de isolamento social, percebeu que o comportamento que antes era normal, agora precisava ser evitado. “Nós não sabíamos como se portar. Eu e o repórter Bruno Soraggi fomos na casa de um personagem fotografá-lo e, quando todos se encontraram, ninguém se tocou, foi automático. Eu sou muito do toque, de abraçar os personagens e agradecer”.

Com a curva crescente de contaminações na cidade de São Paulo, Karime percebeu que sua saúde emocional também foi atingida. “Eu e o repórter Dhiego Maia fomos ao cemitério Vila Formosa para fotografar o sepultador para o ensaio dos essenciais e ainda não era o pico de contágio. Estava com um tênis bem leve e fiquei focada em fotografar, até que o repórter me alertou: “Karime, você está com esse tênis nesse chão contaminado, estão enterrando pessoas com covid”, conta ela. “Começou a me dar um pânico, eu tirei meu tênis, comecei a jogar álcool em gel e fiquei louca pra ir embora. Os sentimentos ficam muito à flor da pele”, explica.

O momento de medo se repetiu quando precisou ir a outro local para fazer o ensaio dos profissionais essenciais. “Fui fotografar um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Quando vi todo mundo sem máscara e entrei nas salas de atendimento meio labirínticas, me deu a mesma sensação ruim. Só queria sair dali o mais rápido possível”, conta.

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Vendo a realidade das ruas e registrando a cidade que passa por um momento delicado, Karime ainda não consegue imaginar um futuro pós-pandemia. Mas deixa um recado importante para os profissionais da comunicação que estão se arriscando para levar informação para a população.

“Cuidem-se. Usem máscaras, deixem os tênis fora de casa e tenham muita delicadeza quando forem conversar com as pessoas. A escuta é algo importante. Está todo mundo muito vulnerável. Na redação, apesar de estarem remotas, muita gente também está vulnerável, é difícil fazer um jornal acontecer com cada um em um lugar”, argumenta a fotógrafa.

“A política também está nos deixando muito fragilizados. Quando vamos para a rua estamos lutando contra o vírus e a belicosidade do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores em relação à imprensa”.

Jornalismo na quebrada

A jornalista Gabriela Monteiro é locutora do programa “Juventude em 120” da Rádio Comunitária Cantareira, em São Paulo. A atração é um experimento jornalístico com foco no protagonismo dos adolescentes de dois bairros periféricos da capital paulista – Brasilândia e Jardim Peri.

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“Tudo é realizado pelos adolescentes, desde a ideia inicial até o produto final. Com a linguagem, a perspectiva, as demandas e a voz desses adolescentes”, explica Gabriela, que também trabalha com produção cultural de Hip Hop. O programa é transmitido tanto pela rádio quanto pelo Facebook.

Com a chegada da pandemia, o programa, que antes era ao vivo, agora precisa ser gravado. Esse novo formato ainda não é definitivo e o Juventude em 120 já experimentou várias formas em meio a essa reestruturação. “Nesse momento estamos colhendo relatos sobre como as pessoas estão reagindo ao isolamento e aos novos cuidados”, explica.

Hoje, apesar de todas as dificuldades geradas pela chegada da pandemia, Gabriela entende a programação como uma ferramenta fundamental para informar os jovens da região, que seguem sofrendo com o número de casos nos bairros.

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“Percebemos uma grande dificuldade da população da região em cumprir o isolamento social, por motivos que estão elencados a situações de vulnerabilidade”, diz ela. “Além de contrapor uma onda crescente de fake news, visto que elas operam de forma cruel e destrutiva nas periferias, o programa tem um compromisso social de garantia de direitos”.

Atualmente, a maior dificuldade de Gabriela é assegurar a participação dos adolescentes como acontecia antes da crise do coronavírus. “Muitos sofrem com a falta de recursos em relação à internet e aparelhos de comunicação, tivemos uma grande evasão no projeto. Buscamos recursos para viabilizar esse acesso”.

Apesar de todas as complexidades, as três revelam em comum profunda dedicação ao que fazem. Luciana Barreto também faz questão de deixar um recado para os profissionais que, antes de tudo, realizam suas atividades porque amam e acreditam no jornalismo, independentemente do meio ser rádio, televisão, fotografia, jornais, revistas ou internet. “Resista, vai passar também pra gente esse momento cansativo e, especialmente, vamos voltar a ter aqueles encontros de fim do dia em que podemos rir desses momentos cansativos que nós vivemos, rir não por ter alegria nas notícias tristes, mas rir de como conseguimos viver, lidar e driblar as adversidades”.

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