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Irlanda vota a favor do aborto e passa uma mensagem para o resto do mundo

Num país conhecido mundialmente pelo conservadorismo religioso, a população vem mostrando que busca novos ares.

Por Júlia Warken
Atualizado em 16 jan 2020, 13h37 - Publicado em 28 Maio 2018, 18h07
Manifestos a favor da legalização do aborto tomaram conta da Irlanda (Charles McQuillan/Stringer/Getty Images)
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Na última sexta-feira (25) aconteceu na Irlanda um plebiscito para decidir se as duríssimas leis antiaborto do país seriam mantidas ou alteradas. Conhecida como uma das nações mais católicas do mundo, desde 1983 a Irlanda previa a proibição do aborto até mesmo em casos de estupro.

Na época, isso também foi votado pela população e a chamada Oitava Emenda passou a legislar de forma que a interrupção de uma gravidez só seria aceita caso a mãe corresse risco de vida. Outro exemplo do conservadorismo irlandês é o fato de que o divórcio só passou a ser permitido por lá em 1995 – e teve uma votação popular acirrada na época.

Agora, novos ares tomam conta do senso comum e os irlandeses têm mostrado que não concordam mais com tanto conservadorismo. Em 2015 isso foi sentido quando o país tornou-se o primeiro do mundo a liberar o casamento homossexual através de um plebiscito.

“Na Irlanda uma mulher pode passar mais tempo na cadeia por buscar um aborto do que o estuprador que a engravidou”, diz o tuíte de uma das milhares de pessoas que usou o hashtag #HomeToVote (#EmCasaParaVotar) na última semana. 

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E nessa sexta-feira a Irlanda voltou a se mobilizar, dessa vez de forma muito mais enfática. Três terços da população mostraram nas urnas que rejeitam a Oitava Emenda. Segundo o encarregado para assuntos eleitorais do país, Barry Ryan, 66,4% votaram a favor do aborto e 33,6% votaram contra.

E isso não é tudo: a aderência à votação – que não era obrigatória – foi histórica. Ceca de 125 mil novos eleitores se registraram para votar antes da consulta, de acordo com o Conselho Nacional da Juventude. Isso representa mais do que o dobro de adeptos em comparação ao plebiscito referente à liberação do casamento igualitário. 

Outro detalhe muito interessante é que grupos a favor da liberação se mobilizaram para literalmente bater de porta em porta, chamando as pessoas a manifestarem-se contra a Oitava Emenda. Em tempos de picuinha infinita nas redes sociais, os irlandeses mostraram que vale a pena resgatar o diálogo do olho no olho.

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Foi um grande mutirão e o resultado é o que a gente viu na última sexta-feira. Além disso, assim como aconteceu três anos atrás, foi significativo o número de irlandeses que viajaram longas distâncias até a terra natal só para participar do referendo. 

NI Women Attend Pro-Choice Rally Following Irish Referendum Decision
Mulher grávida se manifestando a favor do aborto na Irlanda (Charles McQuillan/Stringer/Getty Images)

A população irlandesa já mostrou – e com grande força – os rumos que pretende dar ao país e há indícios de que o governo apresente, até o fim do ano, uma lei que autorize a legalização do aborto irrestrito nas 12 primeiras semanas de gestação.

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Em 2009 os irlandeses viram seu conservadorismo religioso ser extensamente debatido ao redor do mundo, quando uma investigação trouxe à tona o maior escândalo recente do país: durante 40 anos a Igreja Católica acobertou dezenas de padres que abusavam sexualmente de crianças e adolescentes. Agora, a população mostra nas urnas que quer dar uma cara mais liberal ao país.

Enquanto outras nações ocidentais vêm abraçando a intolerância e o conservadorismo, a Irlanda mostra têm um recado significativo a dar para o mundo.

“Quando eu era jovem você não podia comprar camisinhas, ser gay, se divorciar e nem mesmo assistir à ‘A Vida de Brian’. Agora nós somos um dos países mais liberais do mundo. Incrível. Parabéns a todos que trabalharam duro batendo de porta em porta e tudo mais”

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