Rupi Kaur emociona e cativa em apresentação única no Brasil
Poeta que já vendeu mais de 11 milhões de cópias recitou seus livros diante de um público leitor fiel e deslumbrado pela performance honesta
Fenômeno mundial, Rupi Kaur coleciona fãs. Aos 30 anos, a poeta indiano-canadense já publicou três livros — Outros Jeitos de Usar a Boca (2014), O Que o Sol Faz Com as Flores (2017) e Meu Corpo Minha Casa (2020), todos traduzidos pela Editora Planeta —, que, juntos, somam mais de 11 milhões de cópias vendidas. E apesar da interação ativa que tem nas redes sociais com seus leitores, ela nunca tinha vindo ao Brasil. O plano era fazer essa mesma tour em 2020, mas todos sabemos o final dessa história.
Dois anos depois, ela começou as apresentações, que foram de Toronto a Londres, e seguem, este ano, até a Oceania. Aqui, a divulgação de sua apresentação única foi modesta, comparada ao tamanho de seu público. Mas, de qualquer forma, o auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, lotou de seguidoras, que compraram livros na porta, choraram e vibraram com ela durante a performance.
“Mas como é um show de poesia?”, você deve estar se perguntando. Cada um funciona de uma forma: existem os saraus, que revezam os leitores de acordo com alguma temática ou até mesmo tempo de palco; os slams, que misturam música e palavra falada; e o de Rupi, que é uma conversa intensa e verdadeira com os ali presentes por meio dos poemas declamados.
O show estava marcado para começar às 20h, mas ela entrou pouco tempo depois — o suficiente para deixar a audiência mais ansiosa. Usando um conjunto colorido da Mrs. Keepa, joias Swarovski e uma maquiagem deslumbrante, ela chega para brilhar, e sabe muito bem ocupar o seu lugar de destaque. Antes que você pense que esse é um comentário machista ao reduzir uma mulher bem-sucedida ao look usado por ela, saiba que Rupi Kaur é conhecida também pela sua relação com a moda e usa peças de designers autorais para as suas apresentações — afinal, uma mulher não precisa ser “só” uma escritora best-seller, ela tem direito de querer se vestir bem e isso, jamais, deve ser usado contra ela, para diminui-la.
Passado o recado, o que mais fascina ao presenciar a luz que Rupi irradia é como ela recebe de volta o amor das pessoas que clamam por suas palavras. E todo mundo tem uma história diferente com elas: de um poema que veio na hora certa, um livro que abraçou com cuidado, uma frase que atravessou sem pedir licença. Esse é o poder da identificação que a sua escrita gera nas pessoas, principalmente jovens mulheres. “Não importa se você for uma mulher indiana que vive no interior de uma pequena cidade ou uma CEO em Nova York, o patriarcado vai te encontrar”, disse ela no palco.
Antes de ler cada um dos poemas selecionados para aquela noite de sábado, ela contava a história que a inspirou para tal, algumas cômicas e outras trágicas. Assim, foi conduzindo os 90 minutos de apresentação: fazendo a plateia chorar, suspirar e gargalhar em conjunto. Feito que pouquíssimos autores são capazes de fazer hoje em dia. Tudo com uma honestidade também em falta na vida contemporânea.
Ela convida as pessoas a vibrarem junto, a expressarem seus sentimentos em voz alta quando algum verso lhes tocassem mais que o anterior, a baterem palmas e a emanarem boas vibrações, enquanto ela se transformava em um sol. Bem ali na frente de todos. Até uma pessoa ela convidou para recitar um de seus poemas.
Rupi Kaur é uma escritora generosa, inteligente, cuidadosa, respeita seu público e acolhe cada coração pronto para te demonstrar mais afeto. Talvez seja coisa de brasileiro, mas ela entende e retribui. E presenciar isso foi um deslumbre. Seu lugar é no palco, nas estantes, nas listas de mais vendidos. Nasceu para isso e que bom que não deu ouvidos aos professores lá atrás, publicando de forma independente e já vendendo milhares de cópias logo de cara. É um fenômeno, apesar de ter gente que insista em dizer o contrário.