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Os dilemas das mulheres são tema de novo filme de Laís Bodanzky

Acompanhamos um dia de filmagem de “Como Nossos Pais”, novo filme da diretora de “O Bicho de Sete Cabeças”

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 jan 2020, 10h57 - Publicado em 29 abr 2016, 10h17
Priscila Prade/Divulgação. (/)
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Desde que se consagrou com “O Bicho de Sete Cabeças”, lá em 2001, Laís Bodanzky entrou para a lista dos cineastas brasileiros mais aclamados de sua geração. De lá pra cá, ela tem mostrado uma habilidade ímpar em transitar pelos mais diversos temas em seus filmes. O drama pesado do jovem numa clínica psiquiátrica (que alavancou o prestígio de Rodrigo Santoro) deu espaço à atmosfera poética dos salões de baile em “Chega de Saudade” e ao universo das descobertas adolescentes em “As Melhores Coisas do Mundo”. Agora, Laís se propõe a falar sobre os dilemas da mulher contemporânea em “Como Nossos Pais”.

Pascal Le Segretain/Getty Images
Pascal Le Segretain/Getty Images ()

“Nos meus outros filmes, para desenvolver o projeto, eu sempre fiz uma pesquisa muito grande, porque eram mundos que não me pertenciam. O universo da loucura, das drogas, ou mesmo da terceira idade, dos salões de baile, da adolescência (que a minha já tinha passado há muito tempo). Eu tinha que fazer um mergulho pra entender as personagens e eu vi que era uma coisa curiosa: eu tinha passado por várias gerações – por vários universos – e faltava a minha”, conta a cineasta, em entrevista depois de um dia de gravações no bairro do Pacaembu, em São Paulo.

“Como Nossos Pais” se debruça sobre o cotidiano de Rosa (Maria Ribeiro), paulistana de classe média, casada com Dado (Paulo Vilhena) e mãe de duas filhas. O filme mostra a realidade dessa mulher comum que se vê em meio a uma rotina frustrante e que começa a questionar suas escolhas de vida, na família, no amor e na vida profissional.

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Priscila Prade/Divulgação
Priscila Prade/Divulgação ()

Para Laís, ainda existe uma resistência em se falar sobre o cotidiano no cinema e ela está motivada a mudar esse cenário. “Às vezes a gente acha que não é importante falar desse mundo, porque ele é muito próximo da gente. Achamos que isso não merece holofote, não merece ligar a câmera. Eu acredito que a coragem é perceber que o tema é sim urgente e é importante. Quando despertei para isso eu vi que as coisas que eu observava, as minhas amigas também observavam. Aí comecei a pesquisar e veio uma coleção de histórias”.

Segundo a cineasta, a escolha pela atriz principal também diz muito sobre “Como Nossos Pais”. Para quem não lembra, desde 2013 Maria Ribeiro é uma das apresentadoras do “Saia Justa”, icônico programa do GNT que há 14 anos põe mulheres na roda para debater questões contemporâneas.

Priscila Prade/Divulgação
Priscila Prade/Divulgação ()

Maria engrossa o coro para defender que histórias femininas devem ser mais retratadas na telona e lembra que chegou a comentar isso com o cineasta José Padilha, durante as filmagens de Tropa de Elite 1 e 2. “Eu falava assim pro Zé ‘um dia a gente tem que contar a história da Rosane [esposa do Capitão Nascimento, interpretada por ela], a gente tem que contar a história dessas mulheres que ficaram em casa’ e, enfim, em sei que ele nunca vai fazer isso pois o cinema dele é um cinema de homens e isso é OK, mas eu acho muito importante que a gente tenha também uma mulher que quer se ver representada. E pra mim o olhar feminino [da Laís] faz toda a diferença. Só uma mulher poderia ter escrito esse filme do jeito que a gente tá contando”.

Sem entregar os pormenores do roteiro, Maria define sua personagem como uma mulher que olha para a própria vida, percebe que não está plenamente feliz e que começa a refletir sobre possíveis mudanças de rumo. “É uma pessoa que chegou no segundo tempo e pensa ‘não, pera aí, passaram-se 45 minutos mas ainda tem outros 45. Eu vou fazer tudo igual ou vou fazer tudo diferente?’ E eu acho essa pergunta fascinante”. O longa também aborda a relação conturbada de Rosa com sua mãe e se propõe a refletir sobre o conflito entre gerações. Essa é a espinha dorsal da trama, detalhe que pode ser percebido no título: “Como Nossos Pais”.

Priscila Prade/Divulgação
Priscila Prade/Divulgação ()

Para além da história fictícia de Rosa, Laís Bodanzky também chama a atenção para o debate sobre o papel das mulheres na produção cinematográfica. Segundo ela, é fundamental dar luz ao tema para que cada vez mais profissionais femininas possam contar histórias como essa na telona. “Eu acho que tive sorte, na verdade. Eu estou no meu quarto longa e não acho que eu tenha feito menos filmes por ser mulher, mas isso não significa que eu não perceba que a gente tem que falar sobre isso sim. São poucas as mulheres [cineastas] e se a gente não falar a respeito vamos atrasar ainda mais a entrada de outras profissionais”. Ela ainda chama a atenção para o fato e que há sempre diversas mulheres envolvidas na produção dos filmes, mas muito poucas conseguem atuar na parte autoral.

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“Como Nossos Pais” conta ainda com a coautoria de Luiz Roberto Bolognesi no roteiro e a participação de Herson Capri no elenco. O filme passa atualmente pela fase de pós-produção está previsto para chegar em 2017 aos cinemas. 

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