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Mahmundi reflete sobre trajetória artística e aponta maiores inspirações

Reverente ao passado e antenada no futuro, Mahmundi funde mundos sonoros e fortalece o seu espaço na cena musical brasileira

Por Kalel Adolfo
17 abr 2024, 15h00
Entrevista com Mahmundi sobre carreira e inspirações musicais.
Mahmundi se apresentando na Casa Clã 2024.  (Mayra Azzi e Marcela Camillo/CLAUDIA)
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”Quero que as pessoas se lembrem de mim como uma pessoa estranha, irreverente. Quanto mais experiências e trocas tenho em minha existência, mais me sinto viva”, diz a cantora e compositora carioca Mahmundi, que se apresentou na segunda edição da Casa Clã — maior evento feminino da Editora Abril — no dia 9 de março. Tal declaração, sem dúvidas, conversa com a maneira com que a artista fez o público se sentir no Casarão Higienópolis, em São Paulo.

Presente de corpo e alma em cima do palco, ela propôs reflexões musicais sobre passado, presente e futuro. Canções como “Qual é a Sua?”, “Desaguar” e “Amanhã” (de seu disco mais recente, Amor Fati, de 2023) dialogam com o melhor da história da música popular brasileira, sem deixar de entregar novas possibilidades que trazem um frescor delicioso ao catálogo.

Sua obra é uma troca constante. Toda essa potência já foi — para a surpresa de ninguém — reconhecida nacional e internacionalmente: em 2014, a cantora foi vencedora do Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria Nova Canção (pela faixa “Sentimento”). Cinco anos depois, foi indicada ao Grammy Latino, na categoria de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, com o disco Para Dias Ruins.

O céu é o limite para Mahmundi. Por isso, não poderíamos deixar de bater um papo com a estrela que, aos 37 anos, continua a desafiar sua própria versatilidade — além dos padrões da indústria fonográfica.

Como você definiria a sua trajetória artística, do primeiro disco até o Amor Fati? Quais elementos se mantiveram em sua música e quais foram se apresentando com o passar dos anos?

Estou nessa estrada, oficialmente, desde 2012. Algo que sempre mantive em meu processo de criação é buscar os meus timbres, estudar, realizar uma verdadeira pesquisa de som. Como vim do cinema, já fiz muitas coisas para a televisão, trilhas sonoras… A minha ideia de música é literalmente transformá-la em uma espécie de trilha para a vida das pessoas. Mas recentemente, também notei que as artistas novas, como Rosalía e Billie Eilish, pensam muito no sound design. Por admirá-las, passei a considerar a tecnologia uma verdadeira aliada em meu trabalho. Agora uso samples, faço beats… Trago todos esses elementos que, antigamente, não aceitava de jeito nenhum.

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Como as ideias para as produções e composições chegam no seu dia a dia? Você reserva um tempo para o processo criativo ou ele flui naturalmente ao longo da rotina?

Depende. Agora, estou morando em uma casa em São Paulo que, além de ser silenciosa, me permite uma relação muito próxima com a natureza. Isso abre margem para outra dinâmica criativa. Antes, eu morava no subúrbio do Rio de Janeiro, longe da praia. Engraçado que, naquela época, todas as minhas músicas eram sobre o desejo de praia e mar. Cheguei à conclusão na minha terapia de que eu estava fazendo um pedido de socorro (risos). Eu queria muito o calor do amor, o desaguar dos sentimentos. O processo, em geral, tem uma relação bastante forte com os nossos desejos. Agora, estou escrevendo sobre outras coisas, por uma nova perspectiva.

Entrevista com Mahmundi sobre inspirações musicais e processo criativo.
Após se mudar para São Paulo, Mahmundi notou mudanças em seu estilo de composição. (Mayra Azzi e Marcella Camilo/CLAUDIA)

Qual foi o seu primeiro contato marcante com a música? Você se lembra de onde estava?

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Comecei a tocar na igreja muito jovem. Lá, eu tinha acesso a vários instrumentos. Lembro que, a primeira vez que consegui tocar uma música, me senti criando algo completamente novo. É como se enxergássemos uma ideia, lapidássemos e, desse processo, surgisse um terceiro elemento.

Houve algum episódio que foi um divisor de águas em sua carreira?

Quando assinei com a Universal Music, tive a oportunidade de entender verdadeiramente a música brasileira. Eu cresci ouvindo gospel, que é bastante influenciado pela cultura americana. Também escutava muito os hits do rádio. Quando parei e analisei o nosso legado artístico nacional, finalmente entendi como a trajetória da música brasileira se encaixava em minha identidade enquanto artista.

Você acredita que há diversidade genuína na música popular brasileira? Qual é a sua opinião sobre a variedade de sons no cenário mainstream?

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O público está inegavelmente acostumado a um determinado estilo. Um videoclipe postado em uma grande plataforma, por exemplo, tende a engajar mais com pessoas brancas ou padrões. Algo que esquecemos muito: pouco importa estarmos letrados em questões importantes, se a massa não consegue seguir o raciocínio. Perdi as contas de quantas vezes pensei que a culpa por não ter um alcance maior fosse minha. Mas é difícil pulverizar a minha arte quando as pessoas querem um cabelão, um top apertado, uma dança…

É possível encontrar um equilíbrio entre o viés comercial da música e a necessidade de criar arte autêntica?

Uma coisa não exclui a outra, porém, às vezes, essa relação pode ser conflituosa… Lembro que passei por um período, no começo da gravadora, em que eu me comparava com outros artistas do selo. Isso foi passando conforme fui entendendo mais sobre negócios. Antes, associava a indústria fonográfica ao modo de funcionamento dos anos 1990. Quando cheguei, descobri que, ou eu precisava ficar dançando, ou precisaria ser colocada em um lugar de militância. Aí você pensa: ‘Como é que os outros artistas sobreviviam antes disso?’. Acho que, sim, há estrelas com habilidades para dominar os charts. Ao mesmo tempo, o Brasil é muito elitista no momento de eleger quem irá conquistar esse espaço.

Entrevista com Mahmundi para a edição de abril de 2024.
Mahmundi reflete sobre manter a autoestima diante das cobranças da indústria fonográfica. (Mayra Azzi e Marcella Camilo/CLAUDIA)
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O que você faz para que os contratempos da indústria não afetem a sua segurança como artista?

É uma construção. Há pessoas naturalmente decididas e corajosas, claro, mas tenho para mim que esses são traços desenvolvidos ao longo do tempo. Sempre fui alguém movida pela fé. Essa ligação com a espiritualidade desde nova foi o que me impediu de acabar como vários amigos meus, deprimidos, tocando em bares até hoje…

É difícil explicar que não é só fazer acontecer. Tem música, foto, investimento, relacionamento… Essa é a indústria do entretenimento. Existem milhões de camadas antes de chegar ao público. Passamos por muitas coisas. Então, busco focar em desenvolver uma certa habilidade emocional para lidar com o mundo. Todos precisamos dessa sabedoria para viver – além de, obviamente, nos mantermos hidratados, com a pele boa e a terapia em dia (risos).

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