Mahmundi: a nova cantora brasileira que você precisa ouvir AGORA
Quebrando regras de gênero e trazendo um som muito do sofisticado!
Quando, lá em 2004, a carioca Marcela Valente criou a conta Mahmundi no Myspace, popular rede social da época, não tinha muitas pretensões. “Ah, eu postava letras de música, algumas coisas que tinha produzido, era basicamente meu mundo mesmo”, comenta. Bem, como ela podia imaginar que o ~nickname~, anos depois, se transformaria em um dos projetos artísticos mais promissores dos últimos tempos? Não podia.
Hoje, aos quase 30, acaba de lançar o primeiro álbum (os trabalhos anteriores foram os EPs “Efeito das Cores”, de 2012 e “Setembro”, de 2013). “Não acho que demorei para lançá-lo, não. Aliás, acho que mal comecei. Estou aprendendo a ser mais tranquila, sabe? A não querer as coisas na hora. A fazer tudo com calma, a vida de hoje é muito urgente. Antes não tinha essa preocupação. Fiz o disco que eu queria fazer. É como se eu pegasse um carro que já era foda e transformasse em um muito melhor. Foi o que tentei fazer”, explica.
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Com pouco mais de 40 minutos, o trabalho, promovido pelo selo Stereomono (o mesmo das promessas Jaloo e Boogarins), de acordo com ela, é para ser encarado quase como uma mixtape. Um recorte de várias histórias que se encaixam. “Quis falar sobre vários temas, trazer muitos ritmos. É sobre a vida, pessoas, relacionamentos”, conta. Com uma sonoridade oitentista, também é impossível não fazer comparações com medalhões do pop nacional, como Marina Lima. Sem neuras, Mahmundi diz que se sente honrada: “Fico feliz. Ela é muito foda. E quanto aos anos 1980, foram muito fortes, né? Ainda estão na lembrança das pessoas. Mas acredito que meu disco represente muito mais o hoje, o agora. Foi o que tentei fazer”.
O começo
Além de compositora, Mahmundi é também uma produtora de mão cheia e fez questão de tocar vários dos instrumentos presentes no álbum. E, por incrível que pareça, não veio de uma família de músicos, não. A mãe, por exemplo, é psicopedagoga. “Sei um pouco de baixo, bateria, guitarra… Aprendi sozinha, comecei na igreja, ficava o dia todo lá e fui me aperfeiçoando. Não gosto de falar muito sobre isso, hoje digo que sou simpatizante de Cristo, mas foi uma fase importante na minha vida, de formação. A comunidade religiosa faz essa coisa importante de desenvolver a arte, o canto”, disse.
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Com passagens como técnica de som no Circo Voador, importante casa de shows do Rio, e pelo Theatro Municipal, ela também conta que nem sempre teve seu trabalho respeitado. Por ser mulher e negra, às vezes sentia que outras pessoas e até mulheres não a achavam capaz. Em vez de desistir, preferiu o caminho da empatia: “Sempre tive consciência do que queria. Mas é difícil, quando se é criança, ouvir palavras de racismo. Pessoas que, por exemplo, deixam claro que você não vai entrar em um emprego porque seu cabelo é black… O que eu fiz foi tentar entender os motivos de quem agride. E meu disco também fala um pouco disso, de deixar todo e qualquer rótulo pra lá. Inspirar, sabe?”
Apontada por nós, aqui do M/Trends, como uma das novas artistas a quebrar regras de gênero no Brasil, ela também tem uma visão sobre essa questão: “Acho que uma das coisas mais difíceis é ser quem você é. Para mim isso é a maior quebra de gênero. Pô, às vezes, você só quer ficar no seu lugar. Nem todo mundo quer combater, entende? Eu penso muito sobre igualdade, sobre as mulheres e pessoas no geral fazerem o que quiserem. Para mim, isso é o importante”.
CD novo, vida nova?
Agenda de divulgação de qualquer álbum é sempre apertada: shows, entrevistas, programas de TV… Um pouco antes desse momento decisivo, Mahmundi tomou uma decisão, hum, talvez radical? Ela trocou o Rio de Janeiro por SP. “Ah, parece papinho, mas o Rio é minha fonte de inspiração. Lá tem uma beleza, aliás, tem algo de ser bonito e triste ao mesmo tempo e tentei traduzir muito disso no meu álbum. Mas acho essa minha mudança muito importante. São Paulo tem essa coisa da arquitetura diferente, do grafite, de sempre ter algo novo. Tudo acontece muito rápido? Claro, as pessoas demoram mais a se abrir, mas isso não é uma coisa ruim. É um aprendizado muito incrível”.