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Katharine Hepburn: a incrível atriz que mais tem Oscars até hoje

Além de ser genial nas telas, ela também foi uma mulher que desafiou padrões e escandalizou Hollywood na década de 1930.

Por Júlia Warken
Atualizado em 25 abr 2023, 12h55 - Publicado em 14 fev 2017, 22h31

Até hoje, nenhum intérprete (dentre homens e mulheres) ganhou tantos Oscars quanto Katharine Hepburn. Esse é um recorde que ela detém desde 1982, quando venceu sua quarta estatueta como Melhor Atriz. E mais: as 12 indicações que tem no currículo são todas na categoria principal, nunca como coadjuvante.

O brilhantismo em frente às câmeras é consolidado, mas apesar do trabalho exemplar, sua carreira não foi fácil. E a razão para as dificuldades que Katharine enfrentou podem ser definidas em uma palavra: machismo. Ela era ~diferentona~ demais para os padrões de Hollywood. Masculina demais, acima de tudo. Além de não levar desaforo para casa (coisa inconcebível para uma mulher em plenos anos 1930), ela recusava-se a usar vestidos e maquiagem quando não estava atuando.

Sabe quando hoje a gente ouve que refletir sobre depilação é mimimi de um “mundo que está muito chato”? Pois é… o mundo era beem mais chato na primeira metade do século 20 e Katharine era rechaçadíssima por querer usar calças. “Ora bolas, o que há de errado com saias e vestidos? Essa ridícula está querendo aparecer”, repetiram inúmeras vezes os críticos de plantão.

Katharine Hepburn

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A revista Movie Classics, em 1933, chegou a publicar um artigo intitulado “Vão existir calças para mulheres?”. Para se ter uma ideia, mulheres usando calças podiam até mesmo ser presas no início daquela década, por “comportamento subversivo”. Então como é que Hollywood, em plena Era de Ouro, aceitaria uma atriz desse tipo?

Nascida em 12 de maio de 1907, em Connecticut (EUA), desde sempre Katharine foi diferente das outras garotas. Quando criança, a moça criou para si uma persona masculina chamada de Jimmy. Ela chegou a pedir à família que a chamasse desse jeito. Seus pais eram bastante liberais (a mãe foi sufragista) e, até onde se sabe, não viam muito problema nisso.

Só que, aos 14 anos, sua personalidade tornou-se bastante sombria em decorrência do suicídio do irmão mais velho, por quem ela tinha um carinho enorme. Durante muitos anos, ela dizia que havia nascido em 8 de novembro, data do aniversário do irmão. Katharine passou a se retrair muito e chegou a sair da escola para ter aulas em casa (no sistema americano de homeschooling).

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O trauma do passado viria a marcar sua vida para sempre, mas ela acabou descobrindo uma paixão inusitada pelo teatro, ainda na adolescência. De volta ao colégio, participou de várias peças e decidiu que seria atriz.

No início dos anos 1930, Katharine começou a chamar a atenção na Broadway e as portas de Hollywood se abriram bem depressa. Nos palcos, o boom veio em 1932 e, no mesmo ano, ela já estreou nas telonas ao lado de John Barrymore (avô de Drew Barrymore) – no filme Vítimas do Divórcio. O longa foi um sucesso, o que fez com que a atriz conseguisse um contrato com o prestigiado estúdio RKO. 

Katharine Hepburn

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O estrelato foi meteórico e as críticas ao seu jeito de ser também. Na época, ela  era casada com um empresário chamado Ludlow Ogden Smith, mas ao estourar no cinema logo divorciou-se. O matrimônio durou entre 1928 e 1934 – o que também virou motivo para que a atriz ficasse mal falada, lógico. Desquitada, geniosa e usando calças: pensa no escândalo!

Mas também foi em 1934 que ela recebeu sua primeira indicação ao Oscar, pelo filme Manhã de Glória. Katharine tinha apenas 26 anos e já faturou a estatueta logo de cara. Aí é de se imaginar a honra que foi subir ao palco, né? Pois então… ela nem ao menos compareceu à cerimônia. E, a cada indicação, continuou recusando-se a ir: quatro Oscars conquistados e nenhum discurso sequer!

A atriz era avessa aos paradigmas de Hollywood e nunca escondeu isso. Ela amava atuar, mas odiava todo o processo por trás. Raramente concedia entrevistas, não gostava de dar autógrafos e não costumava se dobrar para os protocolos de divulgação dos filmes. Mesmo assim, o prestígio crescia e, em 1935, ela resolveu arriscar-se em um filme que fez os queixos caírem ainda mais.

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No longa Vivendo em Dúvida, ela interpretou uma personagem que “se disfarçava de menino”. O filme foi um fracasso! Enquanto o público estava acostumado a gargalhar cada vez que um homem vestido de mulher surgia nos filmes da época, ver a situação contrária era algo inadmissível.

Vivendo em Dúvida

Mesmo assim, Katharine conseguiu sua segunda indicação ao Oscar um ano depois, pelo filme A Mulher que Soube Amar. O fato é que a garota tinha dois talentos incontestáveis: o de atuar e o de jogar o joguinho de Hollywood! Por isso, apesar de ser um furacão, Katharine também teve que se adequar a certos aspectos de seu tempo.

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Ela foi absolutamente corajosa em rejeitar rituais de feminilidade, mas vivia a sexualidade às escuras. Por décadas, o que se sabia era que a atriz teve um longo caso com o também ator Spencer Tracy e depois com o magnata Howard Hughes. Sobre Hughes, a própria Katharine viria a revelar que a relação entre os dois não passava de um acordo que beneficiou a ambos na época. Sobre Tracy, no entanto, ela chegou a confessar o affair anos depois da morte do ator.

Mesmo assim, o historiador William J. Mann (autor da biografia Kate: The Woman Who Was Hepburn) diz que o relacionamento entre ela e Tracy era de amizade e codependência emocional, mas não sexual. Tanto ele quanto o lendário cafetão hollywoodiano Scotty Bowers, afirmam que Katherine se envolvia com mulheres. Bowers diz que, em 50 anos, a atriz se encontrou com mais de 150 garotas indicadas por ele.

Uma coisa é fato, apesar de causar nos sets de filmagem, a estrela tinha uma vida pessoal reservadíssima. Muitos acreditam que ela fugia dos holofotes por pura arrogância, mas há quem compreenda isso como um medo velado de se expôr. Apesar de ter sido uma mulher que sabia jogar o jogo, isso não significa que Katherine não tenha sofrido na vida pessoal.

Holiday Antics

De qualquer forma, ela tinha fibra de sobra! “Eu não vivi como uma mulher. Eu vivi como um homem. Eu fiz tudo o que queria e eu ganhei dinheiro o suficiente para me manter e eu não tenho medo de viver sozinha”, declarou numa entrevista em 1981, aos 74 anos. E ela se manteve sozinha até morrer, aos 96 anos, em 2003.  

Em resumo, Katharine dava dor de cabeça aos produtores e o público não tinha certeza se gostava ou não daquela personalidade incrivelmente transgressora. Talvez seja por isso que, apesar de ser uma figura tão histórica, no imaginário popular Hepburn seja associado sempre a Audrey e só depois a Katharine.

Mesmo assim, ela deixou seu legado e é considerada pelos críticos como a atriz americana mais brilhante do Século XX. Hoje, além da intérprete memorável que foi, também vale a pena olhar para Katharine como exemplo de mulher empoderada. Daquelas que não foram compreendidas justamente por estarem tão à frente de uma sociedade marcada – até hoje – pela ignorância e pelo machismo. Guerreira inspiradora!

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