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Inhotim inaugura novo espaço dedicado a Yayoi Kusama

20ª galeria permanente do maior museu a céu aberto do mundo abre para o público neste domingo (16)

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 jul 2023, 19h31 - Publicado em 16 jul 2023, 06h00

A artista japonesa Yayoi Kusama é a mais nova homenageada pelo Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo localizado em Minas Gerais. A inauguração marca a 20ª galeria permanente do espaço e abre ao grande público neste domingo, 16 de julho.

A Galeria Yayoi Kusama abriga duas obras da artista, que é uma das mais renomadas e emblemáticas figuras da atualidade. Os trabalhos I’m Here, But Nothing (2000) e Aftermath of Obliteration of Eternity (2009) pertencem à Coleção do Instituto Inhotim, adquiridos em 2008 e 2009, respectivamente, e agora podem ser conferidos pelos visitantes do espaço cultural em Brumadinho.

Fachada da Galeria Yayoi Kusama, em Inhotim
Com uma área de 1.436,97 m², o projeto arquitetônico da nova galeria foi desenvolvido pelos arquitetos Fernando Maculan e Maria Paz (Ícaro Moreno/Divulgação)

“É um trabalho engajador, porque você pode até não se identificar, mas não sai indiferente.”

Júlia Rebouças, Diretora Artística do Instituto Inhotim

“A escolha dessas duas obras representam uma síntese da carreira de Yayoi Kusama”, define Júlia Rebouças, Diretora Artística Adjunta e Curadora-chefe do Instituto Inhotim. Segundo ela, essa característica de engajar o visitante na experiência é algo que o Instituto já teve repercutido em outros pavilhões: “Kusama chega para somar nesse acervo, a entendendo como uma artista histórica, que tem pesquisas que datam de 1960”, define a curadora.

“Ela sintetiza muitos movimentos dessa discussão do espaço, da relação da realidade com a alucinação, da construção dos ambientes. Então, há muitas questões que já estavam nos conceitos que interessavam à Instituição discutir e que encontramos em suas obras. É um trabalho engajador, porque você pode até não se identificar, mas não sai indiferente – e esse é um valor que já sentíamos em várias outras maneiras de mostrar artistas”, completa a Diretora Artística.

Além das duas novas instalações, Inhotim já exibe Narcissus Garden (1966/2009), obra de arte que faz referência ao mito de Narciso, aquele se encanta pela própria imagem refletida na água. A escultura reúne 750 esferas de aço inoxidável sobre um espelho d’água, no terraço do Centro de Educação e Cultura Burle Marx, prédio desenhado pelos Arquitetos Associados.

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“A inauguração da Galeria Yayoi Kusama cumpre uma ambição artística central no Inhotim em relação à obra de uma das artistas mais visionárias de nosso tempo”, diz Allan Schwartzman, cofundador do Inhotim.

“Essa ocasião permite-nos oferecer uma presença permanente para três das obras mais emblemáticas da artista, cada uma delas incorporando uma expressão ambiental nitidamente diferente do universo criativo da artista: a transformação ótica de um espaço escuro em um lugar psicológico de sobrecarga sensorial; um espaço infinito contemplativo; e um jardim de flutuação suspensa composto por inúmeras esferas metálicas pairando sobre a paisagem natural do Inhotim”, define ainda o diretor artístico norte-americano.

A galeria Yayoi Kusama

Com uma área de 1.436,97 m², o projeto arquitetônico da nova galeria foi desenvolvido pelos arquitetos Fernando Maculan (MACh) e Maria Paz (Rizoma) e fica localizado no Eixo Laranja, próximo à Galeria Cosmococa e ao Jardim Veredas.

A proposta da arquitetura da galeria remete não somente a um espaço pensado para receber as instalações, mas também para o seu público, trabalhando com a ideia da espera e da permanência em um local de convívio. “Dada a relevância do trabalho de Yayoi Kusama e a conhecida atratividade de grandes públicos, o projeto da galeria conta com um amplo espaço de espera e preparação”, explicam os arquitetos.

Fachada da Galeria Yayoi Kusama, em Inhotim
O jardim planejado é inspirado em um jardim tropical multicolorido e apresenta mais de 4 mil bromélias (Ícaro Moreno/Divulgação)

Já o projeto paisagístico tem autoria de Juliano Borin, curador Botânico do Inhotim, Geraldo Farias, da equipe do Jardim Botânico do Inhotim, e contribuições de Bernardo Paz, criador do Instituto. O jardim planejado é inspirado em um jardim tropical multicolorido, com um toque de psicodelia, onde foram plantadas mais de 4 mil bromélias e apresenta a linguagem paisagística já consolidada do museu e jardim botânico.

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A matiz avermelhada da estrutura de aço corten presente no edifício principal foi seguida na escolha de bromélias verdes, amarelas e avermelhadas – muitas delas apresentam círculos naturais em suas folhas, referenciando o trabalho da artista.

Para destacar o amplo vão sem colunas do espaço da galeria, foram escolhidas plantas de baixo porte. Já o uso do arbusto Conchocarpus macrophyllus, espécie nativa da Mata Atlântica, usa a verticalidade das plantas com o intuito de alinhar com o piso e com as chapas metálicas do revestimento da galeria.

I’m Here, But Nothing (2000)

A obra 'I’m Here, But Nothing (2000)', de Yayoi Kusama
A obra ‘I’m Here, But Nothing (2000)’ apresenta um espaço doméstico com pontos coloridos que são iluminado por luz negra (Daniel Mansur/Divulgação)

Totalmente Iluminado por luz negra, um ambiente doméstico comum é tomado por inúmeros pontos brilhantes coloridos. Os móveis e os objetos que compõem I’m Here, But Nothing (2000) são comuns de um lar: sofá, televisão, mesa, cadeiras, porta-retratos, tapetes, entre outros.

Os pontos em tinta fluorescente são adesivos espalhados pelas paredes, por todos os objetos, no teto e no chão. Com a luz negra (UV-A, ultravioleta), esses pontos coloridos cintilam ao olhar do espectador, transformando o espaço, ativando a percepção e, de certa maneira, preenchendo um vazio.

A obra pode ser percebida também como parte do conceito da artista da auto-obliteração, no sentido da dissolução da pessoa espectadora no próprio ambiente – que, para algumas pessoas, pode trazer uma sensação de segurança, por estar em contato com objetos e mobílias reconhecíveis, enquanto para outras pode trazer uma sensação mais relacionada à ausência, como sugere o título da obra.

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Aftermath of Obliteration of Eternity (2009)

A obra 'Aftermath of Obliteration of Eternity (2009)', de Yayoi Kusama
A obra ‘Aftermath of Obliteration of Eternity (2009)’ remete a uma miragem contínua iluminada por lanternas (Daniel Mansur/Divulgação)

Criada quando Yayoi Kusama tinha 80 anos de idade, a obra parte dos princípios da filosofia de auto-obliteração pensada pela artista, do desejo de negar a sua existência se unindo ao infinito, como parte de um todo. Nesse ambiente imersivo, a proposta é que o espectador seja conduzido a um universo completamente diferente do exterior, um cosmo transcendental.

O aspecto da obra nos remete a uma miragem contínua iluminada por lanternas, que vai se esmaecendo à medida em que a nossa percepção se afasta da realidade. Na tradição japonesa, esse tipo de iluminação está ligado à espiritualidade, uma conexão com os ancestrais, inspirada na cerimônia tradicional japonesa Tooro Nagashi.

“Nas duas obras, com aspectos distintos, Yayoi Kusama parte do conceito da auto-obliteração, que a artista investiga em seu trabalho há muitas décadas. A ideia é pensar a dissolução do individualismo, buscando uma comunhão com o universal, borrando os limites do que é obra, espaço, corpo e paisagem”, exemplifica Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

Narcissus Garden (1966/2009)

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A obra se comporta como um “tapete cinético”, dada a ação do vento, que cria diferentes agrupamentos das esferas em meio à vegetação aquática.

Instalada no Inhotim em 2009, esta é uma versão da escultura apresentada pela primeira vez na 33ª Bienal de Veneza, em 1966. Na ocasião, Yayoi Kusama, clandestinamente, colocou à venda 1500 esferas distribuídas ao lado do pavilhão Itália com duas placas com os dizeres: “Seu narcisismo à venda” e “Narcissus Garden, Kusama”.

Yayoi Kusama e sua originalidade

Yayoi Kusama
Yayoi Kusama posa na frente do Narcissus Garden original, em Veneza, em 1966 (Yayoi Kusama/David Zwirner, New York/Ota Fine Arts, Tokyo/Singapore/Shanghai/Victoria Miro, London/Venice/MoMA)

Reconhecida mundialmente pelo seu trabalho ousado e intrigante, Yayoi Kusama (Matsumoto, Japão, 1929) apresenta seu trabalho por meio de instalações imersivas, que convidam o público a adentrar em seu universo, aguçando a sua percepção.

Os padrões repetitivos marcam sua trajetória artística desde os desenhos feitos na infância, mesmo período em que, devido ao seu quadro de saúde mental, ela começa a apresentar alucinações envolvendo pontos e círculos (polka dots) constantes.

Yayoi Kusama
Yayoi Kusama (Divulgação/Yayoi Kusama Museum)

O desejo de se tornar artista, paralelamente aos conflitos familiares e à falta de apoio, fizeram com que Kusama se mudasse para os Estados Unidos no final da década de 1950. Foi em uma de suas primeiras exposições em Nova York que a artista ficou conhecida por suas pinturas de grande escala, com infinitos pontos monocromáticos sobre a tela.

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Conforme experimentava uma série de suportes e linguagens, Yayoi Kusama elaborava projetos artísticos cada vez mais audaciosos para o contexto conservador da época, se manifestando politicamente e propondo a libertação do corpo por meio de happenings e performances.

Galeria Yayoi Kusama | Instituto Inhotim

Horários de visitação: de terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30.
Ingresso: R$ 50,00 inteira (meia-entrada válida para estudantes identificados, maiores de 60 anos e parceiros). Crianças de até cinco anos não pagam entrada.
Localização: O Inhotim está localizado no município de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte (aproximadamente 1h15 de viagem). Acesso pelo km 500 da BR381 – sentido BH/SP. Também é possível chegar ao Inhotim pela BR-040 (aproximadamente 1h30 de viagem). Acesso pela BR-040 – sentido BH/Rio, na altura da entrada para o Retiro do Chalé.
Mais informações: inhotim.org.br

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