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Hedy Lamarr: a musa de Hollywood que virou gênia da tecnologia

A tecnologia desenvolvida por ela (em 1940!) serviu como base para o surgimento dos telefones celulares, das redes wireless e do GPS.

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 jan 2020, 02h26 - Publicado em 9 nov 2016, 00h47
 (MGM/Divulgação)
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A austríaca Hedy Lamarr já foi considerada uma das mulheres mais lindas do mundo, em meados do Século 20 e basta olhar suas fotos para entender a razão. Mas, mesmo portando um portfólio de sucesso em Hollywood, ela resolveu se aventurar na área da tecnologia durante a Segunda Guerra Mundial. Sorte a nossa, pois sua genialidade ajudou a desenvolver uma tecnologia que a gente ~quase nem usa muito~: a dos telefones celulares.

Nascida em Viena, no dia 9 de novembro de 1914, desde cedo, Hedy era uma garota curiosa e transgressora. Quando criança, já se interessava por engenharia e tecnologia, gosto que herdou do pai, um bem sucedido banqueiro judeu. Mas, ainda adolescente, resolveu seguir a carreira de atriz. Em Praga, aos 18 anos, foi estrela de “Êxtase”, filme que gerou muita polêmica nos anos 1930. Mais do que isso, ela protagonizou a cena que causaria tanto fuzuê: o primeiro orgasmo feminino do cinema.

Nessa mesma época, se casou com um fabricante de armas chamado Friedrich Mandl, e viu-se presa a um relacionamento abusivo. Por mais que ela tivesse descendência judia, o marido a obrigava a frequentar jantares de negócios com os nazistas. Possessivo, ele chegou a tentar destruir todas as cópias de Êxtase, mas não conseguiu.

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No período em que foi casada com Friedrich, ela não atuou em um único filme e, mais tarde, Hedy revelou que o marido chegava a trancá-la em casa. Ela só aguentou a relação por quatro anos, aí resolveu fugir e em pouco tempo já estava em Hollywood. Ao longo da vida, Hedy viria a se casar outras cinco vezes e foi mãe de três filhos.

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Ao chegar nos Estados Unidos, não demorou muito para que a indústria do cinema se encantasse por Hedy. Em 1938 ela trabalhou em seu primeiro filme americano, Argélia, e passou a atuar em dezenas de produções a partir daí. A ascensão foi tão rápida que, já em 1940, foi escalada como par romântico do lendário Clarke Gable, em O Inimigo X. Na época, um dos fundadores dos estúdios MGM – o magnata Louis B. Mayer – chegou a dizer que ela era “a garota mais bonita do século”.

Por mais que estivesse colhendo os louros da fama no cinema, Hedy não deixava de lado a fascínio pela tecnologia. Foi quando, em 1940, sua grande invenção – que mais tarde viria a ser conhecida como salto de frequência – começou a tomar forma. Ela divide a autoria da descoberta com compositor George Antheil e tudo começou em frente a um piano.

Explicando do começo, o que os dois descobriram foi uma forma de enviar mensagens via ondas de rádio sem que haja intercepção externa. A motivação, desde o início, era ajudar as tropas americanas e aliadas a trocarem informações sem que o conteúdo pudesse ser descoberto pelos nazistas. E, observando a variação das notas do piano, Hedy e George desvendaram a charada para tornar isso possível.

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O estalo genial ocorreu quando eles tocavam uma música em dueto. Ela reproduzia as notas dele em uma outra escala e os dois perceberam que, quando os sinais saltavam de uma frequência para a outra, era impossível captar o código sem saber a variação que estava sendo utilizada.

Resumindo: duas pessoas precisam sincronizar a frequência de transmissão para que enviem mensagem entre si e, ao trocarem várias vezes de frequência coordenadamente, é impossível que terceiros consigam capturar a mensagem em questão. Na época, Hedy e George usaram 88 frequências distintas e a sincronização de transmissão também foi ajustada com base no piano, utilizando uma estrutura inspirada num rolo do instrumento.

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A descoberta foi patenteada em 1942, mas os militares acharam estapafúrdia a ideia de investir na tecnologia desenvolvida por uma musa do cinema e seu amigo pianista. Somente 20 anos depois, durante a a crise de mísseis em Cuba, é que as diretrizes do salto de frequência foram implementadas em larga escala e, enfim, reconhecidas como descoberta revolucionária. Esse sistema voltou a ser utilizado na Gerra do Vietnã.

Depois disso, a descoberta realizada por Hedy e George virou base para a tecnologia da qual todos nós desfrutamos hoje. Além de tornar possível a comunicação via telefones celulares, o salto de frequência também é utilizado nas redes wireless e no GPS.

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Só que, infelizmente, esses inventores brilhantes só foram reconhecidos em 1997, através de um prêmio da Electronic Frontier Foundation. George já não era mais vivo na época e Hedy viria a falecer três anos mais tarde. Os dois nunca receberam qualquer tipo de pagamento por conta de sua contribuição histórica.

Ao invés disso, Hedy Lamarr acabou caindo no ostracismo como atriz e, ao longo da carreira, passou a ser vista apenas como um rostinho bonito. Para se ter uma ideia, em 1949, quando seu filme de maior sucesso – Sansão e Dalila – foi lançado, ela foi eleita pelo Clube da Imprensa Feminina de Hollywood como a atriz menos cooperativa do ano. Na época, ela também ficou marcada pela frase: “Qualquer garota pode ser glamurosa, basta ficar quietinha e parecer burra”.

Não é para menos que Hedy estivesse de saco cheio de ~cooperar~ e ser um rostinho bonito. A ela foi dado o dom genial da inventividade, mas, assim como acontece com tantas outras mulheres, não lhe foi dado o privilégio do reconhecimento.

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