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Exclusiva: Rachel Weisz fala sobre A Favorita, filme indicado a 10 Oscars

"O que gostei bastante é que ele desafia as mulheres a fazerem de tudo o tempo todo", diz a Rachel sobre o longa.

Por Júlia Warken
Atualizado em 16 jan 2020, 01h59 - Publicado em 23 jan 2019, 16h57

“A Favorita” é um filme que está dando o que falar desde que a lista de indicados ao Oscar 2019 foi revelada. O filme de Yorgos Lanthimos soma dez indicações e, junto com “Roma”, é o título que aparece em mais categorias esse ano. Também é o único longa que conta com dois representantes disputando na mesma categoria: Rachel Weisz Emma Stone concorrem simultaneamente a Melhor Atriz Coadjuvante. Já Olivia Colman está na briga pela estatueta de Melhor Atriz.

O reconhecimento é merecidíssimo, mas nem dá para dizer que Rachel e Emma são coadjuvantes e, inclusive, é justo afirmar que Rachel Weiz rouba todas as cenas das quais participa. Seja nos momentos em que a personagem dela, Sarah, mostra que é totalmente dona de si quanto naqueles em que deixa transparecer vulnerabilidade, a atriz faz um trabalho magistral.

Com a “A Favorita”, Rachel volta aos holofotes de Hollywood triunfante, como da vez em que abocanhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante já na primeira vez em que foi indicada ao prêmio mais importante do cinema. O feito aconteceu em 2006, pelo trabalho em “O Jardineiro Fiel”. E a gente não se surpreenderia ao vê-la recebendo o Oscar novamente esse ano.

Pode-se dizer que nesse trabalho recente, que conta a curiosa história da Rainha Anne (Olivia), sua melhor amiga e conselheira política (Rachel) e a mais nova empregada delas (Emma), o trabalho realizado é ainda mais grandioso. Isso porque um dos pontos fortes do filme é química irretocável entre as três atrizes – e a ótima atuação de todas elas. Três mulheres no centro da ação, mostrando diferentes camadas de personalidade e alternando drama com humor ácido – costurados por um constante clima de tensão. É uma sinfonia linda de se ver.

Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao MdeMulher pela Fox Film do Brasil, Rachel Weiz fala sobre a realização de “A Favorita” e sobre as particularidades desse filme que merece ser assistido.

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(Fox Film do Brasil/Divulgação)

É raro um filme apresentar três mulheres de destaque tão complexas como estas. O que você achou disto?

É uma coisa bem rara ter três mulheres em papéis principais como neste filme. O interessante é que elas competem entre si, mas, há amor, inveja, rivalidade. Há um clichê no cinema de mulheres sendo sacanas umas com as outras, e este filme fala sobre isto, mas, vai além, pois você descobre que há uma história de amor verdadeiro entre a Rainha e Lady Sarah. Não é bem um “Casablanca”, mas há um amor de verdade lá. O que gostei bastante é que ele desafia as mulheres a fazerem de tudo o tempo todo. Provavelmente, é muito agradável ver Sarah e Abigail sendo sacanas, mas, aí acrescenta-se uma mistura incomum de outras coisas e, quando estamos todas juntas, isto se desintegra e torna tudo tão empolgante.

Você acha que Sarah subestima Abigail quando ela a apresenta para a corte?

Ah, ela subestima totalmente a sua inimiga. Uma falha dela, que é trágica e fatal, é a vaidade, e Abigail realmente a bajula e torna-se sua protegida. E Sarah pensa que pode moldar Abigail em sua própria imagem. Há um narcisismo real nisso. Ela a subestima porque Abigail é tão brilhante quanto ela, se não mais. Ela a trata como uma ingênua e, meu Deus, ela não é. Até mesmo jogando com a figura de discurso do que o ingênuo é capaz, você pensa que ela é este docinho de olhos arregalados e, na verdade, ela está jogando sério.

O que você acha da relação de Sarah com a Rainha Anne?

Acho que a Rainha é muito frágil e vulnerável e, do ponto de vista do meu personagem, ela precisa de proteção. Sarah, por outro lado, é um falcão. Ela acredita que, para ficar no poder, você deve promover a guerra, mostrar o seu poder através da força militar. A Rainha não tem certeza se ela é um falcão ou uma pomba, ou o que ela é. Ela pode não estar muito bem preparada para governar um país, mas, tem uma boa intuição. Porém, Sarah pode convencê-la de qualquer coisa. Ela está acostumada com Sarah conduzindo as coisas para que ela possa viver os prazeres cotidianos da vida.

(Fox Film do Brasil/Divulgação)

Você sabia alguma coisa sobre esta história?

Nada. Já tinha ouvido falar sobre o estilo de arquitetura Rainha Anne, mas, não sabia uma vírgula da verdadeira história. Acho que as pessoas estão dizendo que Anne tem sido incompreendida e desvirtuada – possivelmente, por historiadores homens – mas, ela tinha mais inteligência, sabedoria política e força do que lhe foi creditado anteriormente.

Como você descreve a abordagem de Yorgos como diretor?

Acho que ele tem um poder vigoroso incomum, uma imaginação elaborada bem interessante e intensa. Os filmes “O Lagosta” e “Dente Canino” são atos completos de imaginação e estabelecem um universo com regras totalmente diferentes. Quando faço um filme do Yorgos, sinto como se entrasse na sua imaginação, ele é o seu guia, mas, ele não te conta necessariamente para onde você está indo. Temos o roteiro, que é um mapa extraordinário, que explica tudo. Porém, acontece alguma alquimia, onde ele dirige meticulosamente, mas, sem nenhuma discussão ou análise. Às vezes, a gente se sente uma agulha em um disco, e ele está nos conduzindo para o ritmo deste disco, mas, continuamos sentindo falta do ritmo e, finalmente, ele vai nos pegar e não sabemos que aquela era a tomada, a cena. Não sabemos nada, então, vamos pelo instinto; acho que ele gosta de nos levar para um lugar onde estamos totalmente inconscientes, o que, para um ator é uma coisa realmente atraente. Como ator, é muito bom estar inconsciente, você não está no controle do que está fazendo. Às vezes penso que talvez, quando as pessoas falam sobre algo ser inexpressivo, acho que ele iria rir. Acho que ele pode sentir as coisas muito intensamente, ele pode, às vezes, ver o que estamos sentindo lá no fundo de nós, mesmo que a gente não saiba o que é. Ele é muito sensível.

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Há grandes momentos, como a dança de Sarah com Masham, ou quando sangue respinga em Sarah quando ela está caçando. Mas, em meio a tudo isto, há pequenos momentos de uma humanidade verdadeira.

Sim, com certeza. Porque estes grandes personagens são também humanos, com necessidades reais; mesmo que seja simplesmente dançar, comer um bolo, ou tomar aquela xícara de chocolate quente, sem se preocupar com as consequências. A Rainha Anne quer o chocolate quente, isto é muito humano. Podemos todos nos identificar com aquele chocolate quente que não deveríamos ter tomado, não é? Conversamos bastante sobre as decisões de alto risco nesta história, mas são, na verdade, as de baixo risco, como o chocolate quente, que mostram o que é ser humano.

(Fox Film do Brasil/Divulgação)

Você ensaiou com todo o elenco, e Yorgos fez com que vocês fizessem todos os tipos de exercícios sobre confiança uns com os outros. O que este processo ofereceu?

Acredito que ele fez tudo parecer como se fosse uma segunda natureza. O que ele nos deu foi este sentimento de que a linguagem poderia tornar-se uma segunda natureza, pois, ele nos fez falar muito rápido, ou trocar as falas com o outro, ou dizer as falas enquanto estávamos fazendo jogos tolos uns com os outros. Parei de me sentir como se estivéssemos vivendo dentro de um filme de época.

Você já tinha trabalhado brevemente com a Olivia Colman em “O Lagosta”. O que você achou do desempenho dela em “A Favorita”?

É impressionante. Ela consegue andar naquela linha entre o absurdo, o ridículo e o muito engraçado; e fazer o patético e a tragédia ao mesmo tempo. Ela pode se jogar de um para o outro em questão de segundos. É um dom extraordinário e único.

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