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Como a vivência com a filha doente inspirou o novo romance de Giovana Madalosso

O recém-lançado livro de Giovana Madalosso discute fé, em narrativa que aborda vida, morte, amor e entrega

Por Karin Hueck
18 jul 2025, 08h00
Ilustração com a atriz Giovana Madalosso
Giovana Madalosso lança livro "Batida Só" que discute superação e fé em narrativa envolvente.  (Ilustração | Mika Nanba/CLAUDIA)
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Maria João é uma jornalista com um problema cardíaco que está proibida de se emocionar. Nico tem onze anos, um linfoma e o sonho de ser cantor. E Sara, mãe de Nico e amiga de infância de Maria João, suspendeu a vida para tentar encontrar a cura para o filho. Focado nesses três personagens tomados por urgências, o novo romance de Giovana Madalosso, Batida Só, teria tudo para abrigar sofrimentos intensos em suas 234 páginas — mas não o faz.

Em vez disso, traz uma narrativa delicada, esperançosa, comovente, na qual a fé (no divino, na medicina, uns nos outros) se torna a força motriz dos protagonistas. Conversamos com Giovana, ateia desde criança, sobre esse mergulho nas coisas inexplicáveis da existência.

Por que você decidiu criar o personagem do Nico, uma criança com linfoma?

Sinto que é um assunto no qual as pessoas geralmente não gostam muito de pensar… Eu acho que também não teria me aproximado disso, se minha filha não tivesse enfrentado um problema de saúde. Passamos por um périplo de médicos e especialistas, e depois por alguns destinos de cura. Então eu vivi tudo isso. O estopim inicial para escrever veio a partir dessa observação da doença na infância, do corpo, da fé, da cura.

No livro, os três personagens principais vão para uma cidade distante em busca de um tratamento espiritual — algo que você agora disse que também viveu. Como foi essa experiência?

Foi muito surpreendente, porque foi um médico respeitado que me disse: “Por que você não procura um lugar de cura?” Ele sugeriu um homem que era médium e fazia alguns tratamentos. Para mim, foi impactante, porque desde criança eu sou ateia. Eu me declarei ateia muito nova, não sei nem de onde tirei isso, mas passei toda a idade adulta sem acreditar em Deus, sem desenvolver nenhuma espiritualidade. E, de repente, da noite pro dia, eu quis ter, eu precisava ter. 

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E você conseguiu entrar em contato com a sua espiritualidade?

Eu sempre quis acreditar, sempre tentei calar esse meu lado que julga as coisas. E muitas vezes tentei me entregar. Só que eu tenho uma grande dificuldade. Esses lugares são muito estimulantes, fascinantes e cheios de rituais que, para mim, são curiosos e novos. A escritora não me deixava em paz, porque eu falava: “vai lá, Giovana, vamos ter fé, concentração”.

E aí eu abria o olhinho e pensava: “Nossa, preciso muito escrever sobre isso” (risos). Então, eu diria que a minha versão escritora dificultou bastante a tentativa de transe na fé. 

Outro grande trunfo da obra é a personagem da Maria João, que desenvolve um problema cardíaco e fica tentando fugir de emoções para não piorar seu quadro. De onde surgiu essa ideia?

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A partir do momento que comecei a frequentar médicos e hospitais, comecei a observar o coração, que é esse órgão incontornável. O cuidado das pessoas com o coração surgiu como uma metáfora muito poderosa para falar sobre uma questão contemporânea: a gente não querer sentir nada, né?

A gente vê as pessoas falando: “ah, não vou namorar para não me machucar, não quero mais me envolver com ninguém”. E à medida que eu ia privando a Maria João das emoções, percebi que, quando você tira as emoções, o que sobra? Você tira a vida da vida. 

O livro tem uma toada esperançosa em meio a tantas dificuldades. Era sua intenção desde o começo?

Para mim, quando decidi que a Maria João iria se fechar para as emoções, se tornou importante que ela amasse alguém. Mas eu não queria que fosse um homem — de novo um homem? Queria olhar um pouquinho para possibilidades de amor fora do amor romântico. Assim, ela se apaixona por um amigo, por um menino.

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Como foi a pesquisa para este livro? Você conversou com muitos médicos?

Acredito nos sinais que o romance vai recebendo. Eu andava atrás de um médico, um hematologista, mas estava muito difícil achar alguém com paciência para me ajudar. Eu precisava de diversos detalhes e abordei uns dois ou três médicos que não toparam parar suas vidas corridas para me ajudar. Então eu fui para Flip [Festa Literária Internacional de Paraty] e aconteceu uma coisa muito bonita.

Numa festa, de madrugada, eu conheci na pista de dança um hematologista que era meu leitor. Ele falou: “Eu adoro o seu trabalho”. E eu: “Então eu tenho uma missão para nós”. E nós criamos o Nico juntos. Mas outra coisa aconteceu nessa noite. Nessa mesma festa, eu conheci uma mulher que perdeu um filho repentinamente, um adolescente.

Ela também foi uma pessoa que me ajudou muito. É dela uma frase do livro que eu amo, e que nunca imaginaria como escritora, se não tivesse ouvido alguém falar. Ela me disse: “se tivesse que escolher entre um outro filho ou o meu, com o problema que ele teve, eu escolheria o meu filho de novo, porque essa vivência já valeu”.

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