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Cate Blanchett sobre ‘Carol’: ‘É sempre o momento certo para histórias de amor’

Para Cate Blanchett, o filme Carol não deve ser assunto por ser sobre o amor entre duas mulheres, mas por ser uma história de amor – e ponto.

Por Juliana Resende (colaboradora)
Atualizado em 21 jan 2020, 15h42 - Publicado em 13 jan 2016, 15h50

Ela é majestosa, mas não é esnobe. E também não é inglesa. A atriz Cate Blanchett é australiana, mas tem um senso de humor bastante inglês. É franca e engraçada; direta, sem “mimimi”. Fina, educada, simples, porém (muito) segura. Ela não precisa usar vestido de grife para causar ao entrar no salão do descolado Soho Hotel, onde acontece uma coletiva de imprensa do filme Carol, antes da première europeia, no 59o BFI London Film Festival. A impressão que se tem é de que estamos diante de Elizabeth – a rainha, papel mais célebre da atriz. Sim, ela é a rainha do festival, onde recebeu o British Film Institute Fellowship, a maior honraria do cinema britânico, por sua carreira extraordinária. 

Aos 46 anos, Cate Blanchett está com tudo e não parece prosa. “Carol”, que estreia no Brasil nessa quinta (14), é sobre o amor entre duas mulheres vindas de mundos completamente diferentes. Cate vive a personagem-título. É mãe, separada do marido, rica e bem-colocada. Therese (Rooney Mara) é mais jovem, trabalha como balconista de loja e aspira ser fotógrafa. Ambas se atraem numa Nova York austera do pós-Segunda Guerra. Se é o momento certo para duas mulheres assumirem um relacionamento amoroso? “É sempre o momento certo para histórias de amor”, afirma Cate. “E essa é uma história de amor – só que entre duas mulheres”, simplifica, descartando que seja um filme querendo levantar a bandeira lésbica.

“Carol” tem colecionado indicações para as premiações do cinema que acontecem no início do ano. No Globo de Ouro foram cinco as indicações, incluindo melhor filme, melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, para Cate e Rooney, respectivamente. No BAFTA, maior premiação do cinema britânico, foram as mesmas indicações do Globo de Ouro e mais seis, totalizando nove. No Oscar, mais seis: melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, melhor figurino, melhor fotografia, melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original.

Descobertas

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A produtora Elizabeth Karlsen contou que passou mais de dez anos querendo fazer esse filme, baseado no livro “The Price of Salt”, de Patricia Highsmith, publicado originalmente em 1952, e batalhou muito para conseguir até que o diretor Todd Haynes (“Velvet Goldmine”, “Não Estou Lá”) entrou no projeto. ”Em 48 horas, tudo começou a andar!”, recorda-se Karlsen, animada.

Haynes diz que na hora se encantou com a história e depois aprendeu muito com ela. “Descobri que mulheres fazem sexo entre si e eu não sabia como isso era possível!” (risos). Para o diretor, “o filme mostra Carol como um objeto de desejo de Therese – e todos os conflitos na vida de Carol, que não são poucos, passam pela lente da máquina fotográfica de Therese. Mas, no final, é Carol que acaba contemplando Therese, uma mulher mudada e amadurecida com o relacionamento.”

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Mesmo com o fato de a homossexualidade estar sendo amplamente aceita como um direito na cultura ocidental, há que se comemorar algumas conquistas que Carol vem desbravando mundo afora. Mas como será a recepção deste filme em países como China e Rússia? A produtora Elizabeth Karlsen começa com uma boa notícia: “’Carol’ foi vendido para a Turquia, onde a coisa não é fácil para gays. Mas na China e Rússia não vamos conseguir exibir o filme, embora certamente haverá sessões clandestinas”, acredita. O diretor Todd Haynes quebra o gelo e conta, rindo, que “uma jornalista chinesa disse que, só de ver o trailer, milhões de mulheres chinesas estão saindo do armário! A culpa é da Cate e Rooney, essas lindas!”

Avassaladoras

Cate balança a cabeça concordando com eles ironicamente. E já vem outra pergunta a ela: “Se hoje a homossexualidade ainda é tabu, nos anos 1950, quando o filme se passa, tudo poderia ser muito mais difícil, tornando esse amor inviável, concorda?” Cate pensa que não: “Li recentemente uma carta de uma mulher chinesa encontrada com o corpo de seu marido, morto em 1400. Achei que fosse escrita hoje! É a prova de  que se apaixonar tem sido meio que a mesma coisa ao longo da história da humanidade. O amor avassalador não tem qualquer relação com época – a paixão é algo humano e profundo e independente do tempo. Apaixonar-se é estar tomado por um certo torpor  – e essa é uma sensação eterna. É perigoso, você se sente fora de controle, há medo e muito desejo envolvido. Seu coração dispara… Atualmente, pode ser mais fácil ficar nu, mas amar de verdade é viver esse tipo de conexão atemporal.”

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Na relação de Carol e Therese, quem recebe mais e quem dá mais?  “Sexualmente?”, Rooney Mara pergunta, timidamente. Cate defende a parceira no ato: “Acho que o que a medida não é essa: é mais sobre experiência, crescimento…”. Rooney assume o protagonismo, pelo menos nesta resposta: “Não sei. Acho que ambas recebem e dão! Em muitos relacionamentos cada parte dá e também recebe – é difícil medir. No caso de Carol e Therese é igual”.

Um jornalista do The Sun (jornal inglês tradicionalmente sensacionalista) pergunta a Cate o que ela acha dos “comentários que saíram na imprensa questionando sua própria sexualidade”, depois da exibição do filme. ”Jornalistas adoram citar outros jornalistas, não? Acho muito engraçado como alguns deles se sentem à vontade ao me perguntar se tive muitos casos quando interpreto alguém que tem um affair num filme, mas não me perguntam quantos já matei se interpreto uma assassina”. 

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Mulheres fortes
Exibindo filmes com temáticas femininas e feministas, como “As Sufragistas“, a 59a. edição do London Film Festival foi chamada de “festival das mulheres fortes”, pela diretora Claire Stuart. As atrizes de “Carol” estão entre estas mulheres? Cate se espanta com a afirmação: “O que querem dizer? Isso é tão vago! Claire, o que quis dizer com isso? Eu sinceramente não sei! Acho que somos normais. Apenas mulheres sem uma agenda especial com a obrigação de sermos fortes. Somos seres humanos, mas talvez sejamos chamadas assim porque sofremos mais pressão da sociedade. Mas acho que isso já se tornou um clichê. Acho que somos seres complexos, com virtudes e fraquezas.”

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Se a força está ou não com ela, Cate Blanchett segue colhendo frutos de um trabalho sólido. Em 1999, ela encarnou a monarca Elizabeth com uma performance arrebatadora, mostrando bem o conflito entre altivez e fragilidade dessa fascinante mulher – papel com que conquistou uma tremenda reputação, um Globo de Ouro e um BAFTA de Melhor Atriz. O sucesso foi certo – assim como o papo reto dessa atriz corajosa. Em 2014, Blanchett ganhou o Oscar de Melhor Atriz pela socialite perturbada em Blue Jasmine, de Woody Allen. Mas a primeira estatueta veio em 2005 como Coadjuvante, interpretando Katharine Hepburn, em O Aviador. 

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A marca que a atriz imprime às suas mulheres já havia se espalhado e ganhado reconhecimento de instituições como Alliance of Women Film Journalists, que a homenageou pela Contribuição Inestimável Feminina à Indústria do Cinema em 2006, pelos papéis de Susan, em “Babel”, Lena Brandt, em “O Segredo de Berlim”, e Sheba Hart, em “Notas sobre um Escândalo”.

Recentemente, Cate deu vida a outros personagens no mínimo inusitados para compor o projeto artístico “Manifesto”, de Julian Rosefeldt: uma professora, uma operária, uma coreógrafa, um sem-teto, uma mãe religiosa… Além dos tipos fotografados, a atriz criou monólogos para cada um deles, que podem ser vistos numa exposição no Australian Centre for Moving Image, em Melbourne, até março de 2016. 

Neste ano, Cate Blanchett volta ao cinema com Truth, drama jornalístico coestrelado por Robert Redford em que ela é a produtora Mary Mapes, da CBS News, investigando George W. Bush. E a boa nova é que Cate deve mesmo estrelar a cinebiografia da atriz Lucille Ball, da série I Love Lucy, ainda em pré-produção. 

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